Jornal Estado de Minas

COMPORTAMENTO

Primeiros socorros: cuidados devem ser imediatos


É inacreditável, mas sabiam que a medicina de emergência só foi regulamentada no Brasil em 2015? A informação é da médica emergencista e intensivista Maria Aparecida Braga, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Emergência – Regional Minas Gerais.



Segundo ela, certamente a medicina de emergência é tão antiga quanto a medicina, mas a disciplina medicina de emergência e o desenvolvimento de sistemas integrados de atendimento de emergência são fenômeno mais recente.

“No mundo, se deu a partir da década de 1960, e no Brasil foi reconhecida como especialidade apenas em 2015. Desde 2019, a Associação Brasileira de Medicina de Emergência (Abramede) é a representante oficial da especialidade.”
 
Maria Aparecida explica que a medicina de emergência inclui o atendimento pré e intra-hospitalar de adultos e crianças gravemente doentes e o trabalho em equipe, formada por profissionais titulados em emergência, que é o que garante a segurança assistencial..





 
 
A Abramede, explica Maria Aparecida, tem trabalhado exaustivamente pela evolução da especialidade e valorização dos emergencistas.

“A pandemia colocou holofotes e tivemos a oportunidade de sedimentar a importância de uma equipe de emergência de alta performance na condução de pacientes gravemente enfermos. Quando observamos os resultados relacionados à mortalidade da COVID-19 no país, com índices variando entre 20% e 80%, confirmamos ainda mais que temos sim muito trabalho pela frente.”
 
 
 
Os primeiros socorros podem ajudar a vítima a se recuperar de forma mais rápida e completa e pode significar a diferença entre a vida e a morte.
 
As habilidades necessárias devem ser treinadas, já que o atendimento pode envolver situações menos críticas, como enfermidades e lesões superficiais, mas também situações de risco iminente, como parada cardíaca, derrame, infarto ou traumas graves. “Assim, precisamos saber o que fazer diante de situações de emergência e, principalmente, o que não fazer diante de determinadas situações. Isso salva vidas e reduz a gravidade das doenças e lesões.”
 
Maria Aparecida destaca que, na capacitação da comunidade, são ensinadas habilidades básicas para salvar vidas ou evitar outras lesões.

“Ensinamos os deveres dos socorristas, como manter a segurança da vítima e do socorrista; como solicitar ajuda, em várias situações como emergências cardiovasculares, respiratórias, convulsão, infecção, diabetes, hipoglicemia, lesões, hemorragias, traumas, fraturas, emergências ambientais, como mordidas e picadas por animais etc.” 
 
Para ajudar, é preciso ter o aval e atitude, alerta a médica. Antes de prestar os primeiros socorros, é importante apresentar-se e perguntar à vítima se você pode ajudar. Se a pessoa concordar, prossiga e preste o socorro.



Se houver recusa à sua ajuda, telefone para o serviço médico de emergência (192) e permaneça com ela até que alguém com treinamento mais avançado chegue e assuma o socorro. “Se a vítima estiver confusa ou não conseguir responder, presuma que ela aceita sua ajuda”.

SEGURANÇA DO LOCAL


Maria Aparecida Braga afirma que não devemos nunca nos colocar e, consequentemente, a vítima em um perigo maior do que aquele já estabelecido. É fundamental checar a segurança do local antes de prestar o socorro. Se o socorrista sofrer algum ferimento, serão duas vítimas em vez de uma.

Saiba seus limites. Por exemplo, se não souber nadar muito bem, tenha cuidado ao tentar salvar alguém que está se afogando. Não se esqueça de lavar as mãos antes e após o atendimento, claro que sempre que possível, e não se esqueça de usar luvas, devido aos riscos de infecção. 




 
Não caia nos mitos que existem durante o atendimento a uma vítima com convulsão, como colocar uma colher de pau na sua boca. Isso pode ferir a vítima e bloquear sua respiração. Em acidentes onde haja exposição elétrica por alta-tensão, espere o socorro chegar, pois muitas vezes um socorrista leigo recebe um choque ao tocar de forma despreparada a vítima. Aguarde a energia ser desligada para entrar na área e prestar o socorro.
 
Para Maria Aparecida, é importante manter um kit básico de primeiros socorros em casa, com itens necessários em caso de uma emergência.  
 
Para a médica emergencista, o ideal seria ensinar os primeiros socorros na escola, começando com as crianças: “Em países desenvolvidos, crianças salvam vidas ao realizar RCP (massagem cardíaca), enquanto na nossa cultura muitos adultos não têm essa habilidade. É fundamental que a população esteja aberta a esse aprendizado, pois são situações que acontecem nas nossas casas, como um engasgo de bebê que pode evoluir para uma parada cardiorrespiratória; ou uma senhora que cai na rua devido a uma hipoglicemia.”
 
Por fim, Maria Aparecida Braga enfatiza que, apesar de ser necessário agir adequadamente frente a uma emergência, grande parte das condições são passíveis de prevenção. Nos bebês, os acidentes são a principal causa de morte e essas acontecem dentro de casa. A maioria poderia ser evitada. Quedas, queimaduras, asfixias, afogamentos.



“A Associação Brasileira de Medicina de Emergência convida toda a comunidade para participar de nossos cursos e atividades, que são gratuitos. Temos também cursos customizados para atender a qualquer necessidade.”
 
Ela convida a comunidade para a ação que ocorrerá em 24 de abril, domingo, das 8h às 12h, em frente da Associação Médica de Minas Gerais. (AMMG).

TER O CONHECIMENTO CORRETO

Sargento Eustáquio, do Corpo de Bombeiros e professor da Faculdade Santa Casa, lembra que agir nos primeiros socorros em casa e na rua são situações que requerem comportamento técnico diferente do socorrista (foto: Arquivo Pessoal)

O 1º sargento Eustáquio, professor de primeiros socorros há 10 anos, graduado em segurança pública e pós-graduado em saúde e segurança, professor na Faculdade Santa Casa, destaca que a importância de todos saberem os primeiros socorros é exatamente a possibilidade de dar uma sobrevida ao necessitado. E tendo o conhecimento correto para agir fará, certamente, a diferença entre a vida e a morte.
 
O sargento Eustáquio explica que mesmo as pessoas que não são da área da saúde podem fazer, e deveriam, o curso de primeiros socorros pensando na possibilidade de usarem esses conhecimentos até para socorrer alguém próximo, um familiar, um colega de trabalho. 




 
Com toda experiência, sargento Eustáquio conta que é notório que o comportamento psicológico diante de um cenário ou condições inesperadas faz com que as pessoas tenham atitudes diversas. “O socorrista deve sempre manter a calma, verificar a sua segurança em primeiro lugar, prestar o socorro e acionar o Corpo de Bombeiros Militar ou o Samu para darem continuidade ao atendimento.”

Crianças e idosos merecem um atendimento diferenciado no tocante à fragilidade de ambos. Por isso, o socorrista deve estar atento para não agravar um quadro preexistente. 
 
O professor lembra que agir nos primeiros socorros em casa e na rua são situações que requerem comportamento técnico diferente do socorrista. “Em casa, o nível de adrenalina, ‘estresse’ se torna, às vezes, mais complicado, haja visto que pode ser um familiar necessitando do socorro. Então, o socorrista terá que ter sangue-frio, mantendo a calma e liberando suas emoções depois de completo todo o socorro. Já na rua, ele só poderá agir se estiver realmente seguro.

Kit primeiros socorros (foto: Peggy und Marco Lachmann-Anke /Pixabay )


COMO AGIR?*


É fundamental saber o que fazer diante de uma pessoa em situação de risco para minimizar danos e salvar vidas

  1. Adulto gravemente asfixiado, ou seja, sem conseguir respirar ou se tossir sem som: devemos agir de forma rápida, chamando por ajuda e administrando compressões acima do umbigo (manobra de Heimlich). A manobra para socorrer bebês é diferente e deve ser treinada.
  2. Vítima sofrendo um ataque cardíaco: os primeiros minutos são os mais importantes. A vítima pode apresentar sinais de desconforto torácico, falta de ar, dor no estômago, pescoço e braços, náusea. Importante fazer com que a pessoa se acalme e repouse enquanto o socorrista liga para o Samu e pede o kit de primeiros socorros. Pergunte à pessoa se ela é alérgica a aspirina e veja se apresenta sinais de hemorragia, caso negativo, forneça a ela uma aspirina. Esteja sempre ao lado da vítima e, caso ela necessite de massagem cardíaca, faça as compressões torácicas.
  3. Casos de hipoglicemia: se a pessoa estiver consciente e puder se sentar e engolir, dê a ela uma lata de refrigerante normal ou balas com açúcar. Faça com que ela se sente ou se deite tranquilamente e chame o Samu.
  4. Derrame (AVE/AVC): a vítima pode apresentar subitamente sinais de fraqueza ou entorpecimento da face, braço ou perna, especialmente em um dos lados do corpo, confusão, dificuldade de fala, dificuldade visual, perda de equilíbrio, dor de cabeça intensa sem causa conhecida. O socorrista deve certificar-se que o local é seguro e ligar para o Samu. Deve também anotar a hora que os sinais apareceram pela primeira vez e ficar ao lado da vítima caso ela necessite de massagem cardíaca.
  5. Hemorragias visíveis: o socorrista deve certificar-se que o local é seguro, pegar o kit de primeiros socorros, calçar as luvas e colocar uma compressa sobre a hemorragia, comprimindo-a. Se a hemorragia não parar, acrescente compressas por cima da primeira e comprima com mais força, mantendo a pressão sobre a ferida até ela parar de sangrar. Caso necessite, enrole uma atadura com firmeza sobre as compressas. A pessoa lesionada deve ser examinada por um profissional de saúde.
  6. Convulsão: certifique-se que o local é seguro, proteja a vítima retirando de perto dela móveis e objetos e colocando uma pequena almofada ou toalha debaixo de sua cabeça. Deve também ligar para o Samu e permanecer ao seu lado até que a convulsão passe e a ajuda chegue. Se a vítima estiver vomitando ou tiver líquidos na boca (e o socorrista acredite que não há risco de traumatismo craniano ou lesão na coluna), vire-a de lado.




* Fonte: Presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Emergência – Regional Minas Gerais, Maria Aparecida Braga 
 

AÇÃO NA PRÁTICA E GRATUITA


A médica emergencista e intensivista, presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Emergência – Regional Minas Gerais, Maria Aparecida Braga, conta que, frequentemente, capacitações gratuitas são promovidas para a comunidade, principalmente professores, cuidadores, enfim, todos os interessados.

Ela convida a comunidade para ação que ocorrerá dia 24 de abril, domingo, das 8h às 12h, em frente à Associação Médica de Minas Gerais. (AMMG), “quando falaremos, também com demonstrações práticas, sobre prevenção e tratamento de acidentes por animais peçonhentos (cobras, escorpião, aranhas, etc).”