Em seu livro “A geração do quarto – Quando crianças e adolescentes nos ensinam a amar”, o educador da Universidade Federal Rural de Pernambuco Hugo Monteiro Ferreira reúne 123 depoimentos, fortes e sinceros, para apresentar sua tese da geração quarto.
“O termo denomina aqueles jovens que passam muito tempo dentro desse cômodo, com quase nenhuma interlocução com as pessoas que moram na mesma casa, com muita dificuldade de dizer o que sentem e um potencial de violência contra si ou contra o outro muito intenso, muito forte”, explica o autor.
“O termo denomina aqueles jovens que passam muito tempo dentro desse cômodo, com quase nenhuma interlocução com as pessoas que moram na mesma casa, com muita dificuldade de dizer o que sentem e um potencial de violência contra si ou contra o outro muito intenso, muito forte”, explica o autor.
Resultado de uma pesquisa com 3.115 meninos e meninas entre 11 e 18 anos, dos quais 238 relataram ter sido vítimas de bullying ou cyberbullying, o livro faz um alerta para a urgência de escuta qualificada, atenta a sinais não verbais e às emoções, e desconstrói mitos de que as gerações atuais seriam mais fracas que as anteriores.
A geração do quarto, explica o autor, apresenta um diagnóstico de adultos negligentes com o bem-estar e a saúde mental de meninos e meninas na fase de transição para a vida adulta, incapazes de se colocar no lugar do outro.
A ausência deste afeto agrava as consequências do bullying, o que pode resultar, nos casos em que as queixas das vítimas não são devidamente acolhidas – seja pelos pais ou pela escola – em sentimentos de vingança contra o outro ou contra si próprio na forma de autolesões, ideação suicida ou suicídio.
A ausência deste afeto agrava as consequências do bullying, o que pode resultar, nos casos em que as queixas das vítimas não são devidamente acolhidas – seja pelos pais ou pela escola – em sentimentos de vingança contra o outro ou contra si próprio na forma de autolesões, ideação suicida ou suicídio.
Segundo Hugo, o termo “quarto” é uma metáfora à atitude de se isolar para aquela violência, de não saber expressar essa dor e pedir ajuda.
“Na adolescência, há uma tendência ao isolamento, isso é natural. O que ocorre agora é que a geração quarto se isola em sofrimento profundo, porque há sofrimento, não sabe se comunicar verbalmente, face a face. Seguindo a metáfora, o quarto é o exemplo de um lugar de refúgio para os adolescentes das gerações nascidas até o século 20, mas que com o advento das redes sociais e dos dispositivos móveis, se transformou em portais para um mundo de possibilidades, distante do controle parental”, completa.
“Na adolescência, há uma tendência ao isolamento, isso é natural. O que ocorre agora é que a geração quarto se isola em sofrimento profundo, porque há sofrimento, não sabe se comunicar verbalmente, face a face. Seguindo a metáfora, o quarto é o exemplo de um lugar de refúgio para os adolescentes das gerações nascidas até o século 20, mas que com o advento das redes sociais e dos dispositivos móveis, se transformou em portais para um mundo de possibilidades, distante do controle parental”, completa.
“Eu me liguei num grupo de caras que, como eu, pensa que é melhor não ficar perdendo tempo com sermão. Eu ponho o fone de ouvido e, quando eles vêm com aquela conversa, finjo ouvir, mas não escuto, quer dizer, escuto a música, o som, o barulho que der”, revelou R., de 14 anos, natural do Rio de Janeiro, em relato que está no livro.
Portanto, estabelecer um diálogo baseado na confiança torna-se imprescindível, como recomenda o autor a uma das mães que entrevistou. “Não ouça julgando, simplesmente ouça, não ouça comparando, simplesmente ouça, não ouça aconselhando, simplesmente ouça, não ouça se antecipando à resposta, respire e ouça”, esclarece Hugo.
“Escutar, nesse caso, não implica orientar simplesmente, mas se dar conta de que aquela menina, aquele menino, a nossa filha, o nosso filho, a nossa aluna, o nosso aluno, a nossa enteada, o nosso enteado são pessoas repletas de emoções e que por alguma razão, muitas vezes alheia a nós, à nossa vontade, elas e eles não estão confortáveis, mas vulneráveis, e querem nos pedir ajuda ainda que não consigam, não saibam, não falem.” Hugo recomenda que os pais que se sintam incapazes de administrar esse suporte busquem ajuda.
AUTOCONHECIMENTO
O comportamento dos adolescentes e jovens, defende o autor, é uma consequência do que a população fez e não fez com os projetos civilizatórios. E, após apresentar e analisar inúmeros casos ao longo da obra, Ferreira elencou caminhos para acabar com essa negligência por parte dos pais e da escola, que passa por 5 pilares: cuidado, autoconhecimento, convivência, dialogicidade e amorosidade.
Hugo diz ser fundamental que as escolas trabalhem a consciência emocional de seus alunos e que as famílias continuem esse processo em casa, pois “as crianças precisam saber lidar com elas”. Ele reforça ainda que o autoconhecimento tem uma relação direta com a ancestralidade. “A criança deve saber de onde veio, quem são seus familiares, qual a sua matriz. Quando a criança conhece sua história, sua capacidade de se defender e não ofender é potencializada. A pessoa que tem consciência de si raramente é vítima de bullying”, salienta.
O pilar da convivência, esclarece Ferreira, tem como objetivo disseminar o respeito pelas diferenças, ainda mais no ambiente escolar, onde coexistem vários grupos diferentes. Já a dialogicidade relaciona-se com o exercício da escuta e a aprender a ouvir. Por último, mas não menos importante, a amorosidade são as emoções essenciais de serem trabalhadas, como a compaixão. “Sem ela, o indivíduo não consegue entender que todo mundo sofre assim como ele sofre, logo, sem essa compreensão, vem a vontade de fazer todo mundo sofrer igual ele sofre”, finaliza o autor.
Autor: Hugo Monteiro
Ferreira
Editoria: Record
154 páginas
Preço: R$ 44,90