Um dos grandes problemas enfrentados pela atual geração adulta passa pela pressão, estresse e imediatismo nas tarefas do dia a dia e isso é um grande fator que pode aumentar, ainda mais, casos de hipertensão. Segundo a Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp), aproximadamente 33% da população adulta e 65% da população idosa no Brasil sofrem de hipertensão e apenas 20% controlam a evolução da doença regularmente.
O cardiologista do Hospital Semper, Rodrigo Lanna, explica que a hipertensão é uma condição crônica caracterizada por uma pressão arterial maior ou igual a 140 x 90 mmHg, que se mantém em várias medições, de forma persistente, feitas em dias diferentes. Em condições normais, o índice fica em 120 x 80 mmHg. "Esse aumento da pressão arterial ocorre quando os vasos sanguíneos ficam mais rígidos e perdem a elasticidade, o que faz com que o coração precise fazer mais força para bombear o sangue por todo o corpo", explica.
Responsável por 45% das mortes relacionadas a doenças cardiovasculares, a hipertensão tem sintomas que, apesar de poucos frequentes, podem surgir quando a pressão é muito superior à normal, incluindo enjoos, tonturas, cansaço excessivo, visão embaçada, dificuldade para respirar ou dor no peito, por exemplo. "Tal aumento na pressão das artérias pode levar à má-condução do sangue para os chamados "órgãos-alvo", como o coração, rins, retina e até mesmo o cérebro. As vezes as lesões causadas virão no futuro", acrescenta o médico.
Por se tratar de uma doença multifatorial, ou seja, não existe apenas uma causa para o aparecimento da enfermidade, a grande maioria dos casos são de hipertensões primárias, nas quais a pessoa se torna hipertensa por diferentes fatores. Casos menos frequentes, esclarece o especialista, trata-se de hipertensões secundárias, as vezes causadas por alguma doença renal ou problemas endócrinos.
Dentre os fatores principais que causam a doença, estão a genética (pessoas com familiares próximos hipertensos possuem maior probabilidade de adquirirem a comorbidade), obesidade e alimentação rica em sódio. "É muito difícil saber o porquê dessa herança genética. Devido a nossa miscigenação e diversidade de genes. O que sabemos é que o componente familiar é importante, muitas vezes, independente disso, devemos controlar aqueles fatores de risco que são controláveis como o excesso de peso e ingesta de sal", completa Lanna.
O tratamento da hipertensão acontece, na grande maioria dos casos, por meio de medicamentos, porém, Rodrigo destaca a importância de uma vida saudável aliada às terapias medicamentosas. "É importante mudar os hábitos desse paciente, alguns fatores não são modificáveis, mas outros como dieta e atividade física devem ser colocados em primeiro lugar", salienta.
É importante entender que a mudança de hábitos de vida serve não apenas como tratamento, mas também como meio de prevenção à doença, que junto do diabetes, é um dos principais fatores de risco para a saúde no Brasil. "É importante se conscientizar para se prevenir", finaliza o cardiologista.
Emagrecimento x pressão alta
O recente estudo brasileiro - "Gateway", realizado no Hospital do Coração (HCor), em São Paulo e apresentado no Congresso da Associação Americana de Cardiologia (AHA 2019), na Philadelphia, EUA - apontou que a cirurgia bariátrica pode ser um método mais eficaz, para pacientes obesos e hipertensos, do que o uso isolado de medicamentos. Participaram do estudo 100 pessoas, das quais 50 foram submetidas a cirurgia de redução do estômago (Bypass gástrico) e a outra metade continuou com o tratamento clínico.
Coordenado pelo cirurgião bariátrico Carlos Aurélio Schiavon, a pesquisa constatou que a cirurgia bariátrica foi responsável pela remissão da hipertensão em 40,9% dos pacientes operados e avaliados após um período de três anos. Eles mantiveram a pressão controlada sem o uso de medicamentos. Já os pacientes submetidos ao tratamento clínico, a remissão foi de 2,5%.
Ainda de acordo com o estudo, 72,7% dos pacientes operados reduziram em pelo menos 30% o número de medicações que utilizavam antes da cirurgia. Enquanto isso, do grupo em tratamento clínico, apenas 12,5% conseguiram reduzir o número de medicamentos tomados, salientando que, a média desses pacientes estava tomando três vezes mais medicações anti-hipertensivas, cinco vezes mais estatinas para o controle do colesterol e oito vezes mais medicamentos para o diabetes ao fim do terceiro ano de avaliação.
Schiavon explica que, além de controlar a pressão arterial, o tratamento cirúrgico apresentou resultados otimistas em todos os parâmetros metabólicos e inflamatórios. "Após três anos de monitoramento, os pacientes operados apresentaram excelentes resultados no controle da glicemia, do LDL-colesterol [colesterol ruim], dos triglicérides e do IMC. Esses resultados do Gateway se somam aos grandes estudos mundiais que mostram os enormes benefícios da cirurgia bariátrica e metabólica e que transcendem a perda de peso, resultando na remissão do diabetes tipo 2, da hipertensão arterial, entre outros aspectos".
Luciano Drager, cardiologista que participou da pesquisa, chama a tenção para o fato de que a obesidade aumenta em até 4 vezes as chances de um indivíduo ser hipertenso e de ter um Acidente Vascular Cerebral (AVC), infarto, problemas renais e Diabetes Tipo 2. Ele alerta que, mesmo com a remissão da hipertensão, os pacientes devem monitorar a doença. "Precisamos lembrar que a hipertensão não apresenta sintomas, é uma doença silenciosa", concluiu o especialista.