Em 2021, Belo Horizonte foi a capital do país com maior frequência de diagnósticos de depressão em mulheres. É o que revela um estudo realizado pela Vigitel e reconhecido pelo Ministério da Saúde: o índice da doença entre elas na capital mineira foi de 23,3%.
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A pandemia trouxe, inegavelmente, muitos conflitos para o dia a dia da mulher, o que pode ter contribuído para esse cenário. "A gente tem visto um aumento da cobrança das pessoas em torno de si mesmas. Isso sem falar do aumento do medo, trazido pelo coronavírus, junto a uma sensação de insegurança diante das possibilidades e do futuro", afirma a psicóloga Adriana Pedrosa.
Além disso, a profissional, que pertence à equipe multidisciplinar da Cetus Oncologia, destaca a importância de saber lidar com a chamada "falta de controle" e entender as fraquezas e fragilidades comum a todos. "Essa necessidade de 'pseudo-controle' que nós temos, traz uma falsa sensação de que tudo está nos eixos, quando na verdade não está. E a pandemia escancarou isso".
Assim como Adriane, a psiquiatra do Hospital Semper, Nayara Zinato, acredita no fator pandemia como explicação para o aumento dos casos de depressão, mas acrescenta que as mulheres também procuram mais ajuda e atendimento médico. Logo, os casos entre elas aparecem mais nas estatísticas.
"Podemos pensar que as mulheres podem sim ter mais fatores de risco relacionados à depressão, mas também acabam procurando com mais frequência os serviços de saúde mental. É algo que ainda não sabemos ao certo, mas estamos em pesquisa para buscar as justificativas", pontua.
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A sociedade machista, na qual predominam conceitos ultrapassados sobre as mulheres, também acabam gerando uma sobrecarga nelas, o que afeta a saúde mental. A psiquiatra elenca alguns fatores da pandemia que deixou a mulher predisposta a ter mais diagnósticos de depressão como, cuidar dos filhos, cumprir com as demandas da empresa no home-office e ainda administrar as tarefas do lar.
"É preciso muito equilíbrio para suportar todas essas emoções. Todos esses fatores juntos, sem o mínimo de apoio do parceiro, podem predispor a mulher a ter mais diagnósticos de depressão. Isso sem falar do próprio medo de pegar COVID-19", comenta.
Assumir as fraquezas e ter atenção aos sinais
Em uma sociedade que cada vez mais estimula a competitividade e a cobrança, a psicóloga Adriane Pedrosa defende a importância das mulheres romperem com o rótulo de "super-mulheres", e serem realistas em relação às situações do dia a dia, assumindo suas vulnerabilidades e fraquezas.
"Não temos e nem devemos ter a obrigação de achar que damos conta de tudo. Todos nós temos um limite e devemos respeitá-lo. É fundamental delegar funções, pois vivemos, sobretudo, em comunidade, seja dentro ou fora de casa. Quando não entendemos até onde podemos ir, as possibilidades de frustrações aumentam, o que, certamente pode desencadear em danos à saúde mental", explica.
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Nayara Zinato, por sua vez, recomenda atenção aos primeiros sinais da depressão, que incluem:
- Sentimento de culpa;
- Perda de motivação;
- Sensação e vazio;
- Apatia;
- Olhar excessivamente negativo sobre as coisas;
- Cansaço;
- Falta de energia;
- Fala e pensamento lentos;
- Perda de concentração;
- Distúrbios do sono e diminuição da libido.
"A pessoa com sintomas de depressão parece colocar óculos que a fazem enxergar tudo em preto e branco", declara a psiquiatra.
Ao perceber os sinais, tanto a psiquiatra quanto a psicóloga são enfáticas em indicar a procura pelo atendimento de saúde mental o quanto antes. "Uma pessoa que tenha esses sinais deve procurar ajuda especializada sem vergonha ou receio. O tratamento é multidisciplinar e a pessoa não pode jamais se sentir só. Ela precisa de apoio, de abraços, de acolhimento. Com a ajuda daqueles que a amam, tudo fica mais leve e menos penoso", finaliza Nayara.
* Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie.