A musicoterapia é uma profissão da área da saúde que requer formação específica, explica a musicoterapeuta e psicóloga Simone Presotti Tibúrcio, que tem um consultório de musicoterapia no Espaço Musicoterapia BH, na capital. Para se tornar um musicoterapeuta, é preciso cursar uma graduação com duração de quatros anos ou uma pós-graduação, ambos cursos oferecidos em instituições de ensino superior reconhecidas pelo Ministério da Educação (MEC).
"Essa formação contempla disciplinas das áreas da saúde, como anatomia e desenvolvimento humano. Como um híbrido entre as artes e a saúde, não podem faltar as disciplinas que envolvem a teoria e a prática musical, e as teorias e abordagens da musicoterapia aplicada com populações e contextos diversos", esclarece Simone, que realiza atendimentos semanais pelo programa Música para Crescer, de estimulação infantil.
"Os instrumentos musicais estarão sempre presentes e o processo de interação e estimulação acontece com e através da música"
Simone Presotti Tibúrcio, musicoterapeuta
Suas composições também podem ser acessadas por todas as plataformas digitais gratuitas, disponíveis no endereço simonepresotti.hearnow.com, e Simone mantém ainda um canal dedicado ao tema no Instagram.
Como diz a especialista, o trabalho com a musicoterapia é feito indicando a música e seus elementos para alcançar objetivos não musicais. Entre as finalidades do tratamento, estão o aprimoramento da motricidade, a evolução da fala e da linguagem ou o aperfeiçoamento de funções psicossociais. "Esses objetivos são personalizados de acordo com a demanda do paciente, que pode ser de todas as idades e perfis", comenta.
Simone lembra que o som é a primeira conexão do ser humano com o processo de viver. No útero, ensina, o feto se conecta com os sons do batimento cardíaco materno e percebe suas variações, que coincidem com alterações no fluxo sanguíneo que traz toda a fonte de energia para sua criação e sobrevivência. "Os movimentos peristálticos, aqueles barulhinhos que toda barriga faz, assim como os sons do meio externo e a voz da mãe fazem do útero um ambiente ruidoso, que inaugura essa relação ser humano e som", diz.
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Depois que a criança se torna capaz de focar o olhar, isso é, manter a atenção, o objetivo pode ser imitar pequenos gestos. "Já é do senso comum a história do neurônio espelho. O que nos torna humanos é essa conexão com o outro, que começa pela imitação. Aí podemos pensar nos sons da fala, e nada melhor que a música para se descobrir, brincando, os pontos de articulação para se produzir um som adequado para a interação sonora. Nesse momento, já estaremos estimulando a linguagem e a fala, de forma lúdica e natural", explica a especialista.
"Os instrumentos musicais estarão sempre presentes e o processo de interação e estimulação acontece com e através da música. Tocar, cantar e se movimentar são inerentes a esse contexto. É um processo ativo, em que o repertório varia e pode ser autoral", ressalta Simone.
E existe algo melhor para trazer motivação e movimento do que a música?, questiona Simone. "Não seria diferente com a infância, uma fase de sonoridade e cantoria. Eu acredito e aposto todos os meus dias, há mais de 30 anos, na música para crescer."
Familiaridade com os instrumentos
Quando o pequeno M. (assim identificado), aos 2 anos, começou um tratamento com fonoaudiologia e terapia ocupacional, sua mãe, a auxiliar administrativa Ana Paula Queiroga, não sabia que o que havia percebido como um atraso na fala e a dificuldade em se socializar com as outras crianças na creche, na verdade eram o indício de outro problema. "Ele só brincava sozinho. Com o tempo, as profissionais nos disseram que se desenvolvia melhor quando o trabalho incluía a música", relata Ana Paula. E, depois de dois anos com a fonoaudiologia e a terapia ocupacional, também com o laudo psicológico, veio o diagnóstico de autismo.
A indicação para a musicoterapia logo se fez adequada. E há quase um ano M., hoje com 5 anos, faz as sessões com a terapia sonora uma vez por semana no consultório de Simone Presotti Tibúrcio, agora já familiarizado com os instrumentos "Eu particularmente sempre gostei de música, e ele tomou esse gosto. Sempre gostou de desenhos musicais. Depois da musicoterapia, qualquer objeto que ele pega faz um som, e não de forma desordenada, com sentido", descreve a mãe.
Quanto ao desenvolvimento do menino, Ana Paula fala sobre as melhoras na fala, as conversas, a cantoria ("ele canta o tempo todo"). M. também reconhece qualquer instrumento. Sem precisar tocar ou encostar, já fala o nome. "A coordenação motora melhorou muito também, assim como a socialização. Procura mais a interação com as pessoas, logo que chega em um lugar estabelece o contato visual com quem está em volta. E na escola é muito querido pelos colegas", diz Ana Paula.
Na UFMG, formação é multidisciplinar
A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) tem programas de atenção em musicoterapia. Como explica Cybelle Maria Veiga Loureiro, musicoterapeuta e coordenadora da área de musicoterapia da UFMG, na escola de música da universidade a formação de um musicoterapeuta é multidisciplinar.
Além das áreas específicas compreendidas em musicoterapia e música, inclui outros ramos de conhecimento, como ciências biológicas, psicologia, psiquiatria, neurologia, geriatria, antropologia, sociologia e educação especial. "Esse profissional deve ter conhecimento de métodos, processos e técnicas específicos ao atendimento musicoterapêutico e de sua fundamentação teórica", explica.
Os objetivos em musicoterapia, esclarece Cybelle, variam entre prevenção, habilitação e reabilitação. Na reabilitação, a especialista cita o trabalho que vem sendo desenvolvido com bebês, crianças e adolescentes em conjunto com a Associação Mineira de Reabilitação (AMR). Nos planos emocional e psicológico, a música está presente desde a primeira infância, o que faz dela um instrumento terapêutico de acolhimento e segurança para muitas crianças, acrescenta a musicoterapeuta.
Além dos instrumentos musicais e as músicas tocadas em si, sempre selecionados por idade e por preferência da criança, as sessões de musicoterapia também incluem exercícios vocais e de expressão corporal. Cybelle destaca que a musicoterapia parte da música como elemento mediador de respostas não musicais, que podem ser cognitivas, como desenvolvimento da atenção, da concentração e memória, e respostas sensório-motoras, como percepção auditiva integrada a outros canais sensoriais, como coordenação visoespacial, tátil e motora, exemplifica.
"O atendimento musicoterapêutico se propõe a ser o mais holístico possível. O princípio básico a ser aplicado é o de construir cada plano de tratamento e de sessão baseado nas habilidades da criança, minimizando assim sua deficiência."