Quinta-feira, dia 19 de maio, é marcado como Dia D da campanha do Maio Roxo, data central para alertar sobre o Dia Mundial da Doença Inflamatória Intestinal (DII), momento de chamar a atenção da sociedade para a promoção do diálogo e busca de soluções, visando a qualidade de vida das pessoas que convivem com alguma dessas doenças.
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5 formas de melhorar a saúde do intestinoComo prisão de ventre se tornou tabu e por que dieta não é único meio de evitá-laDieta anti-inflamatória: não é regime, é estilo de alimentaçãoDia de combate ao glaucoma alerta sobre os riscos dessa doença silenciosaOs dilemas da pediatra que cuida de crianças em estado terminalOrganizações de pacientes que representam mais de 50 países em cinco continentes lideram a campanha que teve início em 2010 e hoje traz voz para as 10 milhões de pessoas no mundo que vivem com a doença inflamatória intestinal.
Conforme Karla Lacerda, o intestino é formado e povoado por uma gama de bactérias que agem em prol da saúde auxiliando em diversas funções que vão muito além de apenas participar da digestão. "Muitos fatores podem influenciar a composição da microbiota desde o início da vida, incluindo infecção, tipo de parto, uso de medicamentos antibióticos, natureza da provisão nutricional, estressores ambientais e genética do hospedeiro. Tendo em vista essa complexidade, ao pensar em proteção e cuidados com o intestino é imprescindível se atentar aos hábitos e qualidade de vida como um todo e não apenas incluir vegetais na alimentação."
Segundo a Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP), com base nos dados do DataSUS, há um aumento de casos de 2012 a 2020, sendo as mais comuns a doença de Crohn e a retocolite ulcerativa. Foram analisadas informações de 212.026 pacientes de ambos os sexos, sendo 140.705 com doença de Crohn e 92.326 com retocolite ulcerativa.
A SBPC ainda alerta que o registro de novos casos subiu de 9,41 por 100 mil habitantes em 2012 para 9,57 por 100 mil habitantes em 2020, uma variação anual média de 0,80%. A prevalência, que é a soma dos casos, passou de 30,01 por 100 mil habitantes para 100,13 por 100 mil habitantes no mesmo período, uma variação média de 14,87% por ano.
Karla Lacerda explica que a DII, incluindo Crohn (CD) e colite ulcerativa (UC), é um grupo de doenças inflamatórias crônicas do trato gastrointestinal, não tem cura e tem causa desconhecida. "A inflamação recorrente e crônica da parede intestinal está relacionada a fatores genéticos, ambientais, microbianos, imunológicos e apresenta sintomas como dor abdominal, diarreia, febre, sangue nas fezes, fadiga, perda de apetite, perda de peso, úlceras na boca, anemia ou intolerâncias alimentares, segundo a literatura médica."
De acordo com Karla Lacerda, "existe uma possível predisposição genética para o aparecimento da doença e uma tendência a ter mais frequência em membros de famílias em que já se registaram casos anteriores", porém, diz a nutricionista, a DII pode ser o resultado de um sistema imunológico anômalo. "O mau funcionamento do sistema se manifesta ao tentar combater um vírus ou bactérias invasoras, gerando uma resposta imune inabitual que faz com que as células do trato digestivo também sejam atacadas."
A nutricionista conta que "quando funciona adequadamente, a imunidade ataca esses organismos estranhos para proteção do corpo, mas na presença dessa doença, o sistema imunológico reage incorretamente aos gatilhos ambientais que causam inflamação do trato gastrointestinal".
Tendo em vista o histórico familiar de DII, possivelmente as pessoas têm maior probabilidade de ter herdado essa resposta imunológica inadequada e não a doença em si.
Karla Lacerda explica que a microbiota é moldada basicamente pela alimentação e pelos hábitos do estilo de vida, então vários fatores podem afetar a qualidade e diversidade do microbioma, como também a saúde intestinal. "Alguns hábitos comportamentais influenciam esse ecossistema como por exemplo: alto consumo de alimentos industrializados e baixa ingestão de alimentos in natura, infecções, baixo consumo de fibras e fitoquímicos, excesso de proteínas animais, alergias e hipersensibilidades, baixa hidratação, falta de mastigação, ingestão de líquidos nas refeições, sedentarismo e consumo excessivo de bebidas alcoólicas. A combinação desses maus hábitos supera quaisquer vantagens genéticas, assim como o contrário também é verdadeiro. Excelentes hábitos de vida podem suprimir fatores genéticos indesejáveis."
O intestino é tão importanta que é chamado de "segundo cérebro" por muitos médicos, já que o órgão tem funções que vão além da atuação no sistema digestivo. Há estudos que o relaciona com o tratamento de doenças mentais e do sistema imunológico. Você sabia que, se abríssemos e esticássemos os intestinos delgado e o grosso, ele ocuparia uma área de 250 metros quadrados, o equivalente a uma quadra de tênis?
O intestino é tão importanta que é chamado de "segundo cérebro" por muitos médicos, já que o órgão tem funções que vão além da atuação no sistema digestivo. Há estudos que o relaciona com o tratamento de doenças mentais e do sistema imunológico. Você sabia que, se abríssemos e esticássemos os intestinos delgado e o grosso, ele ocuparia uma área de 250 metros quadrados, o equivalente a uma quadra de tênis?
"A microflora intestinal participa da comunicação entre o intestino e o cérebro e esse é chamado de "segundo cérebro" por causa da diversidade de tipos de células neuronais e circuitos complexos e integrados que permitem regulação de forma autônoma de muitos processos do eixo intestino-cérebro. O intestino é responsável pela produção de 30 neurotransmissores diferentes, que são moléculas sinalizadoras tipicamente associadas ao cérebro, tem mais neurônios que a espinha dorsal e age independentemente do sistema nervoso central. É composto por milhões de neurônios, denominado por sistema nervoso entérico e pode influenciar no funcionamento do eixo intestino-cérebro, alterar funções cerebrais e até mesmo o comportamento A microbiota e o cérebro se comunicam por várias vias, incluindo o sistema imunológico, o metabolismo do triptofano, o nervo vago, tendo impacto no desenvolvimento cerebral e comportamento, pois são capazes de produzir vários neurotransmissores e neuromoduladores como serotonina, conhecido como o “hormônio da felicidade”, devido ao seu papel na regulação do humor, do bem-estar, do sono, do apetite, entre outras funções. Reconhece-se atualmente a relevância desse eixo intestino-cérebro para a compreensão de comportamentos e doenças mentais ou psiquiátricas", explica a nutricionista.
Karla Lacerda conta que as bactérias que revestem os intestinos estão em contato direto com as células nervosas e imunológicas, que são os principais sistemas de coleta de informações do corpo humano. "Estas bactérias também conseguem absorver a “informação” quando o cérebro sinaliza estresse, ansiedade ou até felicidade ao longo do nervo vago. Grande parte dos neurônios transporta informações do intestino para o cérebro, e não o contrário, evidenciando a importância e influência que os sinais gerados no intestino têm sobre o cérebro".
A nutricionista esclarece que a dieta, o estresse, carência de zinco, vitaminas D e A, parasitoses, infecções, etilismo, alergias alimentares, obesidade, metais tóxicos e toxinas ambientais podem ativar os genes que levam à doença e podem agravar os sintomas de DII, apesar de não serem causadores dessa condição.
E Karla Lacerda alerta: "A nutrição tem um papel fundamental nesse quadro, pois com a remoção de alérgenos, inclusive glúten e lácteos, a redução de gorduras saturadas e o ajuste da desnutrição com uma dieta rica em frutas, verduras e legumes, de nutrientes como vitaminas e minerais, especialmente a vitamina D ajudam a potencializar e modular a saúde do intestino e sua microbiota".
Importância da alimentação
A nutricionista esclarece que a dieta, o estresse, carência de zinco, vitaminas D e A, parasitoses, infecções, etilismo, alergias alimentares, obesidade, metais tóxicos e toxinas ambientais podem ativar os genes que levam à doença e podem agravar os sintomas de DII, apesar de não serem causadores dessa condição.
E Karla Lacerda alerta: "A nutrição tem um papel fundamental nesse quadro, pois com a remoção de alérgenos, inclusive glúten e lácteos, a redução de gorduras saturadas e o ajuste da desnutrição com uma dieta rica em frutas, verduras e legumes, de nutrientes como vitaminas e minerais, especialmente a vitamina D ajudam a potencializar e modular a saúde do intestino e sua microbiota".
A ocidentalização da dieta, que inclui déficits de vitaminas, aumento da ingestão de alimentos ricos em gordura e açúcar e menor consumo de fibras e frutas resulta em crescente incidência das DII, que são frequentemente associadas a distúrbios nutricionais significativos. "Com a nutrição, é possível aplicar uma alimentação equilibrada e para cada momento da doença. Torna-se imprescindível inserir nutrientes de todos os grupos, de forma ajustada aos sinais e sintomas para recuperar o peso, manter um bom estado nutricional e impedir que a microbiota intestinal seja prejudicada."
Conflitos emocionais
De acordo com Karla, hábitos como atividade física, técnicas de relaxamento e terapia também são encorajados visto que corpo e a mente estão relacionados e a tensão emocional pode influenciar o curso da doença. "Conflitos emocionais ocasionalmente precedem a recidiva ou o diagnóstico de uma DII."
Para o diagnóstico, os médicos utilizam um conjunto de evidências a partir de achados clínicos que incluem os sinais e sintomas, exames sanguíneos, de fezes, endoscópicos, de imagem e uma combinação de endoscopia (para a doença de Crohn) ou colonoscopia (para a colite ulcerosa), estudos de imagem, como radiografia de contraste, imagem por ressonância magnética ou tomografia computadorizada, às vezes, até histopatológicos para que o especialista confirme a enfermidade e inicie o tratamento.
"A dieta é o elemento determinante para o desenvolvimento saudável da microbiota intestinal e seu perfil bacteriano. Atualmente, a maioria das doenças podem ter relação direta com o padrão alimentar. Por isso, busque sempre orientação profissional e auxílio médico ao aparecer qualquer sinal ou sintoma", reforça a nutricionista.
Para prevenir, o que evitar?
- Gorduras industrializadas
- Leite e derivados
- Açúcar
- Alimentos que aumentam a produção de gases (como couve-flor, alho, feijão, repolho e batata doce)
- Cafeína
- Álcool
- Sorbitol
- Alimentos picantes ou com muitos conservantes
- Chicletes e balas
- O consumo excessivo de frutose e outros açúcares de alimentos industrializados prejudicam e diminuem a defesa da barreira intestinal, compromete sua integridade e a produção de muco, que é essencial para a correta absorção dos nutrientes ingeridos.
- Aditivos químicos presentes em alimentos ultraprocessados podem induzir inflamação e distúrbios metabólicos, então para proteger a saúde do intestino é importante que esses elementos sejam retirados da rotina alimentar.
E o que consumir? E como se comportar?
- Cuidado com alimentação: consumo de frutas, verduras, hortaliças em geraloleaginosas, leguminosas, grãos integrais e sementes devem ser a base da dieta. Quanto maior a variedade da alimentação e dieta, mais bactérias diversas vão povoar o intestino.
- Uma rotina alimentar rica em fibras, vitaminas e minerais advindos de alimentos de origem vegetal protegem a microbiota e fornecem o combustível necessário para sua manutenção.
- Ponto importantíssimo muitas vezes é negligenciado é a hidratação. Para um bom funcionamento intestinal a água é essencial, sendo a responsável por carrear todos esses nutrientes e ainda contribui com a motilidade e a eliminação de toxinas.
- Hábitos como atividade física, técnicas de relaxamento e terapia também são encorajados visto que corpo e mente estão relacionados e a modulação do estresse beneficia desenvolvimento saudável da microbiota intestinal e seu perfil bacteriano.
Quais os sinais de alerta?
Os alertas para um intestino prejudicado são inúmeros. Ao procurar por indicadores de disfunção intestinal é comum que se questione ou observe apenas quadros de constipação, diarreia ou dores abdominais. Há outros:
- Fadiga
- Deficiências nutricionais
- Alterações cutâneas
- Enxaquecas ou dores de cabeça
- Inchaço
- Alerações de humor
- Náuseas
Dica de um mix perfeito à saúde intestinal
"A combinação saudável de leguminosas, amaranto, sementes de chia, linhaça, gergelim, açafrão, cacau aspargos, aveia, abacate, mamão e chá verde entre outros, ricos em polifenóis, fitoquímicos e fibras mostraram excelente melhora na microbiota intestinal e saúde geral.
Um outro tipo de chá fermentado que tem se popularizado e também é excelente aliado da saúde intestinal é o kombucha. Uma dica excelente para sempre ter um cardápio variado em sabor e diverso em nutrientes é aproveitar os produtos de cada estação, evitando a mesmice de uma alimentação monótona e desfrutando dos alimentos que cada época do ano traz de melhor", recomenda a nutricionista Karla Lacerda.
Um outro tipo de chá fermentado que tem se popularizado e também é excelente aliado da saúde intestinal é o kombucha. Uma dica excelente para sempre ter um cardápio variado em sabor e diverso em nutrientes é aproveitar os produtos de cada estação, evitando a mesmice de uma alimentação monótona e desfrutando dos alimentos que cada época do ano traz de melhor", recomenda a nutricionista Karla Lacerda.