O isolamento social foi uma das principais medidas adotadas para evitar a disseminação do novo coronavírus. E permanecer em casa por tantos meses gerou efeitos distintos nas pessoas — de desgaste emocional à aquisição de bons hábitos. Em um estudo publicado na última edição da revista Plos Genetics, especialistas holandeses demonstram que essa diferença de desempenho pode estar relacionada à genética. Ao analisar o genoma de mais de 27 mil pessoas, a equipe identificou que, durante a crise sanitária, há uma relação entre riscos genéticos à ocorrência de enfermidades mentais e um maior esgotamento.
No artigo, os autores enfatizam que a forma como uma pessoa percebe se tem qualidade de vida depende de uma combinação de fatores ligados a genes herdados dos pais e ao ambiente em que ela vive. O período pandêmico, devido às características únicas, gerou uma oportunidade para observar como esses elementos se relacionam.
"No início de 2020, a vida em todo o mundo foi drasticamente impactada pela COVID-19, uma situação singular. Estudar genes relacionados à qualidade de vida pode ser algo complicado, mas a pandemia de COVID-19 nos permitiu investigar como esse evento estressante e de magnitude mundial interagiu com a genética e afetou o bem-estar", explicam.
A equipe avaliou o genoma de mais de 27 mil holandeses, doadores de material genético para um biobanco de dados chamado Lifelines. O programa de monitoramento também aplicou uma série de questionários relacionados ao estilo de vida e à saúde mental e física dos participantes, que responderam às perguntas ao longo de 10 meses, a partir de 30 de março de 2020. "Essa iniciativa buscou, primeiro, investigar os fatores de risco genéticos para a COVID-19, mas também incluiu ampla variedade de comportamentos relacionados à saúde mental e física, além do estilo de vida", afirmam.
Bem-estar
As análises indicam que indivíduos que apresentavam risco genético alto para diversos problemas de saúde mental, como esquizofrenia e depressão, apresentavam também mais queixas de dificuldades relacionadas ao bem-estar durante a pandemia, como fadiga e exaustão. Além disso, os investigadores descobriram que, à medida que a pandemia avançava, a tendência genética tinha uma influência cada vez mais poderosa na forma como essas pessoas percebiam a qualidade de vida, com índices mais altos de queixas entre aquelas mais propensas a desenvolverem problemas mentais.
Segundo os cientistas, os dados obtidos precisam ser avaliados mais a fundo, com um número maior de participantes, mas indicam caminhos promissores para novos estudos na área. "Esse tipo de correlação entre comportamento e genética é difícil de ser explorada, e nosso estudo já mostra, de forma parcial, que uma predisposição genética está relacionada a prejuízos de comportamento em momentos de crises, como o período pandêmico", justifica Robert Warmerdam, pesquisador da Universidade de Groningen e um dos autores do estudo.