Jornal Estado de Minas

LITERATURA

Psicanalista mineira lança livro que desmistifica o autismo

O autismo sem mistérios e ao alcance de leigos e profissionais da saúde e da educação. Esse é o objetivo da psicanalista Roberta Ecleide, que lança o livro “Autismo.S – olhares e questões”, publicado pela editora Appris.




 
A autora, pós-doutora em filosofia da educação pela Universidade de São Paulo (USP), mostra a importância do estudo da neurodiversidade. “Longe de uma doença a ser curada, mas que precisa ser bem conduzida no processo educativo e respeitada com a delicadeza das diferenças.” 

A obra, lançada em abril na Apae, traz uma breve história do autismo, com definições clínico-diagnósticas, e apresenta debates e discussões de profissionais que atuam no atendimento de crianças diagnosticadas como autistas. 
 
Roberta também é doutora em psicologia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e acredita que o principal desafio da inclusão escolar de alunos autistas é a difícil inserção no Brasil da área da saúde na educação. “Ou seja, o diagnóstico do autismo pode não propiciar ajuste, mas segregação”, explica a psicanalista, supervisora clínico-institucional no estado de Minas Gerais (Capsi).
Reflexões sobre os desafios do autismo no pós-pandemia também estão presentes no livro. Roberta explica que no dia a dia dos autistas – os com diagnóstico acertado – ela percebeu uma perda por parte desta diversidade da convivência. "Alguns comportamentos já estabelecidos, como dessensibilização auditiva, sumiram e as crianças começaram a ter dificuldade com sons. Tenho visto isso até em crianças que não apresentavam sensibilidade auditiva aguçada."




 
 "Notei também que aprendizados, como alimentação variada e autocuidado, diminuíram ou sumiram. Um dos motivos é que a situação da pandemia levou as crianças para casa e o ambiente doméstico é controlado, pouco desafiante, não permite os erros – condições fundamentais para aprender", completa a psicanalista.
 
A escritora diz que é importante entender que não há aumento dos casos de autismo. O que cresceu foi o número de diagnósticos. Por outro lado, a especialista alerta que, a partir da pandemia, sem a frequência nas escolas e nos espaços coletivos, a indicação precoce pode ter sido prejudicada. 
“A análise resulta de um processo de construção, estudo de várias condições que trazem a etiologia dos atrasos. O desconhecimento que até alguns profissionais têm das condições clínicas do autismo, fora desta dimensão de construção, também contribui para diagnósticos apressados”, conclui Roberta Ecleide. 
 
 
 
“Autismo.S: 
Olhares e Questões”

l Autora: Roberta Ecleide

l Editora: Appris

l Tradução: Marilene Tombini

l 227 páginas

l Preço: R$ 52 
 
* Estagiária sob supervisão da editora Ellen Cristie.