Com a perspectiva de agir localmente e em consequência ter impactos globais, Rafaella de Bona Gonçalves, 25 anos, criou absorventes biodegradáveis para pessoas em vulnerabilidade social. A jovem, que mora em Curitiba, é formada em Design de Serviços pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Rafaella guiou-se pela síntese do primeiro Objetivo de Desenvolvimento Sustentável da ONU no Brasil: "Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares". A designer conta que buscou com o projeto - fruto de um curso de extensão - alguma forma de retorno social. "Eu comecei a pesquisar esses outros tipos de pobreza na cidade de Curitiba e me aproximei de organizações que trabalham com pessoas em situação de rua, foi aí que me deparei com o problema da pobreza menstrual", conta a jovem.
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Shoppings de BH aderem à campanha nacional que distribui absorventesEspanha pode se tornar primeiro país da Europa a aprovar licença menstrual de 3 diasExercício no período menstrual: treino pode diminuir sintomas da TPMPontos de venda de cigarros eletrônicos podem ser denunciados ao 181O projeto de Rafaella Gonçalves foi desenvolvido sob a orientação da professora e pesquisadora Gheysa Prado e em parceria com a empresa EcoCiclo, que é focada na elaboração de produtos sustentáveis feitos por mulheres. O item da designer pode ser usado tanto como absorvente externo quanto interno. O protótipo foi lançado em dezembro do ano passado e é intitulado "Eu. Faço Parte".
"Higiene menstrual não é um privilégio, mas um direito", defende a jovem.
Reconhecimento internacional
"Eu nem me inscrevi na premiação, me acharam e me convidaram", comenta a designer e pesquisadora, em tom de animação, sobre o prêmio Young Invertors Prize, do Instituto Europeu de Patentes (EPO). Rafaella é finalista e concorre com outros dois jovens, uma americana e outro belga. A premiação - destinada a inventores com menos de 30 anos - acontecerá no dia 21 de junho e o vencedor receberá 20.000 euros. "O EPO quer reconhecer jovens inovadores que usam a tecnologia para desenvolver soluções que ajudarão a alcançar esses objetivos sustentáveis e impactar positivamente nossa vida para um futuro melhor", diz o Instituto em comunicado sobre os finalistas.
Além disso, a paranaense já conquistou alguns prêmios internacionais, como o concurso chileno Diseño Responde - Desafio Latinoamericano Índex Award e o alemão iF Design Talent Award. "Quando eu sou finalista ou ganho alguma premiação, eu me sinto muito honrada pela visibilidade que o projeto tomou e de poder estar informando e conscientizando sobre o problema", detalha.
"Eu acredito que eu não sou a designer heroína que traz solução para todos os problemas do mundo, mas sim uma facilitadora desse processo", completa Rafaella. Para o futuro, a jovem deseja ter a própria empresa de design focada em projetos sociais.
Panorama da pobreza menstrual no Brasil
Pobreza menstrual é um termo que significa a falta de recursos para a higiene de pessoas que menstruam. Cerca de 713 mil meninas não têm acesso a chuveiro ou banheiro em casa e mais de 4 milhões não possuem itens mínimos de cuidados menstruais nas escolas, aponta o relatório Pobreza menstrual no Brasil, realizado pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), em 2021. O relatório mostra ainda que aproximadamente 900 mil não têm acesso a água canalizada nos domicílios.
O levantamento Livre para Menstruar, realizado pelo movimento Girl Up no ano passado, revela que um a cada quatro adolescentes não têm acesso a absorventes quando precisam. Tal precariedade impacta diretamente a saúde e a vida social dessas pessoas. Com a ausência de recursos, alguns materiais inadequados são usados para tentar conter o fluxo de sangue no período menstrual, como jornais, pedaços de pano de chão e até miolo de pão.
Cabe ressaltar que a dignidade menstrual - que se opõe à pobreza - é reconhecida desde 2014 como um direito humano e questão de saúde pública mundial. "A menstruação é um processo natural, biológico e que faz parte do desenvolvimento. É uma questão de saúde pública de responsabilidade coletiva", informa a UNICEF.