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Vespa tem substância que ataca superbactéria

Pesquisadores americanos isolam substância tóxica produzida por espécie brasileira e obtêm composto eficaz no combate a micro-organismos resistentes a medicamentos


postado em 27/12/2018 05:05

No experimento, pesquisadores isolaram esse peptídeo da Polybia paulista, que foi considerado promissor para testes no combate aos agentes infecciosos(foto: Mario Palma/Unesp/Divulgação)
No experimento, pesquisadores isolaram esse peptídeo da Polybia paulista, que foi considerado promissor para testes no combate aos agentes infecciosos (foto: Mario Palma/Unesp/Divulgação)



Uma das maiores buscas da medicina é a geração de novos antibióticos. O uso errôneo dessas drogas pela população tem provocado a resistência das bactérias, o que impede o combate eficaz aos agentes infecciosos. Na procura por mais substâncias com o mesmo potencial terapêutico, pesquisadores norte-americanos modificaram, em laboratório, o veneno de uma vespa de origem brasileira. As alterações fizeram com que o composto perdesse a toxicidade e também obtivesse resultado positivo no combate a infecções. As descobertas foram publicadas na revista especializada Nature Communications Biology.


Os cientistas explicam que a toxina peptídica derivada do veneno da vespa, conhecida como Polybia paulista, espécie encontrada no Brasil, já havia sido identificada. “No entanto, tinha a questão de que ela era tóxica para as células humanas, por isso, nunca poderia ser transformada em antibióticos viáveis”, detalhou César de la Fuente, professor do Departamento de Bioengenharia da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, e um dos autores do estudo. No experimento, os pesquisadores isolaram esse peptídeo, que foi considerado o mais promissor pelo tamanho reduzido — apenas 12 aminoácidos. Essa característica, segundo os especialistas, torna viável a criação de diversas variantes que podem ser testadas no combate aos agentes infecciosos, de forma menos nociva aos humanos.”


“É um peptídeo pequeno o suficiente para que você possa tentar silenciar os resíduos de aminoácidos que quiser, o que também torna possível a busca de como cada bloco de construção contribuiu para a atividade antimicrobiana e a toxicidade”, explicou De la Fuente. “Usando técnicas de biologia sintética, modificamos a sequência da toxina para reutilizá-la em uma molécula sintética não tóxica”, complementou.

INFECÇÕES Os pesquisadores, em seguida, testaram a substância em ratos. Eles observaram que o veneno combateu a Pseudomonas aeruginosa, uma linhagem de bactérias que causa infecções diversas, como as respiratórias, e que é resistente à maioria dos antibióticos. “Ele foi eficaz em matar bactérias in vitro e em um modelo de camundongo e, portanto, representa um novo antibiótico promissor. Depois de quatro dias, esse composto conseguiu eliminar completamente a infecção, e isso foi bastante surpreendente e emocionante, porque, normalmente, não vemos isso com outros antimicrobianos experimentais ou outros antibióticos que testamos no passado com esse modelo de rato em particular”, assinalou De la Fuente.


Alberto Chebabo, infectologista do Laboratório Exame, de Brasília, considerou que a pesquisa americana é positiva, pois trata de um ponto de grande relevância atual na área médica. “Essa é uma necessidade que vemos cada dia mais frequentemente, que é a criação de novos antibióticos, e estudos que tratam esse tema atenderiam a essa demanda. Mas ainda é uma pesquisa muito inicial, devemos aguardar mais detalhes, saber se esse composto pode combater cepas que são extremamente resistentes”, frisou o especialista.


O infectologista ressaltou que o uso de venenos de animais é algo que ainda não havia sido explorado na criação de antibióticos, o que pode, no futuro, gerar uma nova classe de medicamentos. “Temos muitas vertentes desse tipo de remédio; porém, o uso de venenos ainda não havia sido explorado, muito provavelmente pela toxicidade envolvida, algo que os cientistas conseguiram alterar nesse estudo. Caso a pesquisa evolua, teremos um campo novo de pesquisa extremamente interessante”, enfatizou.

POTENCIAL A equipe americana adiantou que dará continuidade à pesquisa. “O próximo passo é traduzir nossas descobertas em medicamentos. Portanto, tentaremos avaliar sistematicamente a toxicidade potencial do peptídeo sintético e compararemos a eficácia com os antibióticos-padrões de tratamento”, afirmou De la Fuente. Os cientistas avaliaram que muitos outros compostos presentes no meio ambiente, como o retirado da vespa brasileira, têm potencial de se tornar novos medicamentos. “A natureza tem bilhões de anos para desenvolver moléculas maravilhosas que realizam tarefas incríveis. Inspirando-nos em tais moléculas, podemos encontrar soluções para os desafios médicos mais difíceis. Acredito que alguns dos princípios que aprendemos aqui podem ser aplicáveis a outros peptídeos semelhantes que são derivados do meio ambiente”, disse.


O pesquisador americano também ressaltou o papel do Brasil nesse desafio. “O Brasil tem uma incrível diversidade natural que pode ser a fonte de novas moléculas úteis, e o país treinou químicos, biólogos, engenheiros, médicos com esse objetivo, o que contribuirá nessas análises”, opinou.

AMEAÇA A busca de estratégias para enfrentar as superbactérias mobiliza estudiosos, a ponto de o problema ser considerado uma das maiores ameaças à saúde global da atualidade. No ano passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) promoveu uma conferência internacional exclusivamente para tratar do assunto, com o objetivo de conscientizar a população, os profissionais da área e os gestores públicos. Segundo as estimativas, mais de 700 mil pessoas morrem anualmente em todo o mundo devido a infecções provocadas por bactérias resistentes. Estudo patrocinado pelo  governo britânico prevê que esse número poderá chegar a 10 milhões a partir de 2050.


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