Cerca de 30 mil foliões abraçaram ontem, na Avenida Afonso Pena, o lema “Quem quiser venha de azul, quem quiser venha de rosa, mas Queiroz já declarou, é de laranja que eu vou”, proposto pela tradicional Banda Mole, que há mais de quatro décadas exibe em seu DNA a vibração do carnaval belo-horizontino. Comissão abre- alas de bonecos gigantes representando o presidente Jair Bolsonaro (PSL) em rosa; a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, em azul; e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, entre outras personagens da vida política brasileira, como o japonês da Federal e o porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, entraram sob o batuque e a percussão dos foliões. Em êxtase, eles sambaram, cantaram, extravasaram alegrias, e, inclusive, frustrações e dores, além de ter se beijado como se não houvesse amanhã.
De tudo havia um pouco. Marajás, capetinhas, fantasmas, caciques, prostitutas, havaianas, trans e foliões sem fantasia. Aglomerados entre as ruas Guajajaras e Bahia deixaram-se embalar pelos trios Manu Rosa e Me Beija que Sou Pagodeiro. Colorida por definição, a festa foi coroada pela alegria do sertanejo, passando pelo funk e clássicos tradicionais de Jair Rosa, ao estilo “o importante é ser fevereiro e ter carnaval, pra gente sambar”. “Trazemos em nosso DNA o respeito à diversidade. Por isso, a Banda Mole continua representando o vibrante carnaval de rua de Belo Horizonte”, considerou o produtor da banda Kuru Lima.
Também em outros pontos de Belo Horizonte, a folia pipocou arrastando multidões. Foi assim com o Bloco Mamá na Vaca, que, concentrado na Praça Cairo, no Bairro Santo Antônio, desceu a Rua Santo Antônio do Monte até se encontrar, na Leopoldina, com a velha vaquinha, escultura conhecida da rua.
A ala de sopro do bloco puxou a alegria e muitas manifestações de afirmação de identidade se valeram da irreverência para chamar a atenção para causas importantes: feminismo, identidade de gênero, liberdade de expressão, e o meio ambiente foram alguns dos temas cantados e sambados pelos carnavalescos. A advogada Raquel Cristina Neves Rocha, de 36 anos, aproveitou os brincos para mandar a mensagem: “Ser machista não vale”. Ela defendeu: “Queremos reafirmar o feminismo como movimento de libertação”.
Frequentadora assídua do carnaval de rua da capital mineira há 10 anos, a engenheira Alessandra Ambrósio, de 38, adora as manifestações culturais populares espontâneas. “Venho ao Mamá na Vaca desde que foi criado há 10 anos, quando o carnaval em Belo Horizonte ainda era uma promessa. Acho maravilhoso esta chama de alegria a uma realidade tão difícil como a brasileira”, afirmou.
Cobertura especial
Para mostrar tudo o que rola na cidade durante a festa, a TV Alterosa lançou a Central do Carnaval de BH. A iniciativa faz parte do projeto #carnavalbh, dos Diários Associados, que preparam uma grande cobertura multimídia para a folia, na qual estarão mobilizados mais de 100 profissionais, entre jornalistas, produtores, técnicos e pessoal de suporte.