Presentes em praticamente todos os livros do Antigo Testamento bíblico, os filisteus são marcantes nas narrativas dos antigos hebreus, em que aparecem como arqui-inimigos dos judeus. Porém, pouco se sabe sobre as origens desse povo, ao qual teriam pertencido personagens como o gigante Golias e Dalila, mulher que traiu o guerreiro Sansão. Agora, uma equipe de pesquisadores do Instituto Max Planck para a Ciência da História Humana e da Expedição Leon Levy analisou, pela primeira vez, informações genéticas de habitantes da antiga cidade portuária israelense de Ashkelon, um dos principais assentamentos filisteus da Idade do Ferro, por volta de 2,8 mil anos atrás.
Os dados indicam que os ancestrais desse povo têm origem europeia e migraram pelo Mediterrâneo para a porção mais oriental do continente, chegando a Ashkelon no início da Idade do Ferro. Uma vez estabelecidos na cidade, que fica ao norte da hoje Faixa de Gaza, o componente genético foi sendo diluído ao longo dos séculos, sugerindo uma forte miscigenação com populações locais e estrangeiras. Segundo os pesquisadores que fizeram o estudo, os resultados, publicados na revista Science Advances, são um passo crítico para entender as origens, há muito disputada, dos filisteus.
Há mais de um século, egiptólogos propuseram que um grupo chamado peleset, que aparece em hieróglifos do fim do século 12 a.C., era o mesmo que os filisteus bíblicos. Eles alegaram que esse “povo do mar” – uma suposta confederação de marinheiros – atacou o Egito durante o reinado de Ramsés III, durante o colapso da Idade do Bronze. Nessa mesma época, os filisteus se estabeleciam na costa sul de Canaã, à medida que outras grandes civilizações do Mediterrâneo Oriental, como micênicos e os hititas, desapareceram completamente. Questões sobre o papel que eles e os outros povos do mar desempenharam nesse colapso, de onde vieram e por que varreram o Mediterrâneo têm sido debatidas calorosamente pelos pesquisadores.
De 1985 a 2016, a Expedição Leon Levy a Ashkelon, um projeto do Museu Semita de Harvardeum, buscou a origem dos filisteus na cidade portuária, uma das cinco urbes filisteias, de acordo com a Bíblia hebraica. Liderada por seu fundador, o já falecido Lawrence E. Stager, e depois por Daniel M. Master, autor do estudo publicado na Science Advances, a equipe de pesquisadores detectou mudanças substanciais nos modos de vida dos moradores locais durante o século 12 a.C., coincidindo com a chegada dos filisteus. Muitos estudiosos, no entanto, argumentaram que essas alterações eram apenas o resultado do intenso comércio local ou mesmo da imitação dos estilos estrangeiros, e não o resultado de uma verdadeira migração populacional.
POOL GENÉTICO
Depois de 30 anos de escavações arqueológicas e pesquisa genética com tecnologias de ponta, os cientistas concluíram que a origem dos filisteus pode ser traçada no Nordeste do Levante, possivelmente no Sul de Anatólia (Turquia), onde um reino com o som correspondente a “palasatini” ou “palastin” emergiu logo depois do colapso do império hitita. De acordo com os arqueólogos do estudo, não é mais possível teorizar que os filisteus eram simplesmente uma variação cultural local. “O DNA mostra que não. Essas eram pessoas novas que foram para lá (onde hoje é Israel) e levaram consigo a própria cultura e tradição”, diz Adam Aja, arqueólogo da Universidade de Harvard e diretor assistente da escavação de Ashkelon. As amostras estudadas incluíram 10 restos mortais de pessoas que viveram no fim da Idade do Bronze e na Idade do Ferro.
Depois de 30 anos de escavações arqueológicas e pesquisa genética com tecnologias de ponta, os cientistas concluíram que a origem dos filisteus pode ser traçada no Nordeste do Levante, possivelmente no Sul de Anatólia (Turquia), onde um reino com o som correspondente a “palasatini” ou “palastin” emergiu logo depois do colapso do império hitita. De acordo com os arqueólogos do estudo, não é mais possível teorizar que os filisteus eram simplesmente uma variação cultural local. “O DNA mostra que não. Essas eram pessoas novas que foram para lá (onde hoje é Israel) e levaram consigo a própria cultura e tradição”, diz Adam Aja, arqueólogo da Universidade de Harvard e diretor assistente da escavação de Ashkelon. As amostras estudadas incluíram 10 restos mortais de pessoas que viveram no fim da Idade do Bronze e na Idade do Ferro.
Em pouco tempo, o DNA dos filisteus já estava completamente estabelecido na região, diz o estudo. “Em no máximo dois séculos, essa pegada genética europeia introduzida durante a Idade do Ferro não é mais detectável e parece diluída por um ‘pool genético’ local”, afirma Choongwon Jeong, do Instituto Max Planck de Ciência da História Humana, um dos autores. “Enquanto, de acordo com textos antigos, o povo de Ashkelon, no primeiro milênio antes de Cristo, permaneceu filisteu para seus vizinhos, a distinção de sua composição genética não era mais clara, talvez devido ao casamento com grupos levantinos ao redor deles”, observa. Em nota, o principal autor do trabalho, Johannes Krause, também do Max Planck, afirmou que os dados “começam a preencher uma lacuna temporal no mapa genético do Sul do Levante”.