Um dia depois de cientistas de Hong Kong divulgarem um caso de reinfecção da COVID-19, médicos da Bélgica e da Holanda afirmaram que pacientes dos dois países também tiveram a doença mais de uma vez. No Brasil, o Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo confirmou, em julho, que uma enfermeira foi contaminada com o Sars-CoV-2 dois meses depois da primeira vez que sofreu da enfermidade.
Pesquisadores da instituição brasileira estudam novos casos suspeitos, fenômeno que, segundo especialistas na área, deve acontecer também em outros países.
Pesquisadores da instituição brasileira estudam novos casos suspeitos, fenômeno que, segundo especialistas na área, deve acontecer também em outros países.
Nesta terça-feira (25/8), a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou, por meio de Margaret Harris, porta-voz da agência, que ocorrências do tipo são raras. “É um caso (o de Hong Kong) documentado em mais de 23 milhões. Provavelmente, veremos mais casos, mas não parece um evento regular. Se não, teríamos visto muitos mais casos”, disse.
Harris também afirmou que é preciso ter cautela no discurso de que essas ocorrências impactariam nas vacinas. De acordo com ela, o objetivo dessas substâncias é criar uma imunidade mais forte do que a desenvolvida naturalmente pelo corpo. Os estudos clínicos das vacinas em testes mostraram que a resposta é superior à detectada em pessoas que tiveram COVID-19.
Harris também afirmou que é preciso ter cautela no discurso de que essas ocorrências impactariam nas vacinas. De acordo com ela, o objetivo dessas substâncias é criar uma imunidade mais forte do que a desenvolvida naturalmente pelo corpo. Os estudos clínicos das vacinas em testes mostraram que a resposta é superior à detectada em pessoas que tiveram COVID-19.
O caso belga é de uma mulher que havia sido curada e, três meses depois, foi infectada por uma cepa diferente. O virologista Marc Vann Ranst, do Instituto de Pesquisa Médica Riga, afirmou à rede VRT que casos semelhantes deverão vir à luz, mas destacou que o fenômeno é raro. “Depois de ter uma infecção, você espera estar fora de perigo por um tempo considerável. Esperemos que seja assim na maioria dos casos”, disse.
Citado pela emissora, Steven Van Gucht, do Centro de Crise Nacional da Bélgica, disse que não ficou particularmente surpreso com as notícias de reinfecções. “Não é realmente surpreendente. Nós testemunhamos isso em outros coronavírus. Nosso sistema imunológico é rápido para responder. Temos sintomas mais leves ou ficamos assintomáticos na segunda vez. Eu suspeito que isso vai acontecer com o novo coronavírus também.”
O caso holandês foi reportado pela virologista Marion Koopmans, do Centro Médico Erasmus. De acordo com a médica, que falou à emissora, trata-se de um paciente idoso com sistema imunológico comprometido. “Todas as infecções por Sars-CoV-2 têm uma impressão digital diferente, um código genético”, disse Koopmans.
A virologista também não se mostrou surpresa. “As infecções respiratórias podem atacar duas vezes ou com mais frequência. Sabemos que você não está protegido para o resto da vida se tiver a infecção, e é isso que esperamos da covid”, disse. De acordo com ela, há grandes diferenças na quantidade de anticorpos que as pessoas desenvolvem depois do contágio. “Só porque você construiu anticorpos não significa que você está imune.”
Sem pânico
Assim como a porta-voz da OMS e os médicos que anunciaram os casos de reinfecção, especialistas dizem que não há motivo para pânico. “As implicações dessas descobertas não devem ser exageradas. É bastante provável que infecções subsequentes não causem uma doença tão grave quanto o primeiro episódio devido a algum grau de imunidade residual, que pode não ser suficiente para interromper a infecção, mas é suficiente para reduzir o risco de doença grave”, observa Paul Hunter, infectologista da Universidade de East Anglia, na Inglaterra.
Para Hunter, muitas questões ainda precisam ser respondidas. “Além disso, não está clara a probabilidade de tais pessoas representarem um risco para as outras. Por exemplo, a carga viral é tão grande na segunda infecção quanto na primeira? Esses relatos não são necessariamente uma indicação de que a imunização pode não ser eficaz.
Precisamos de mais informações sobre esses e outros casos de reinfecção antes de podermos realmente entender as implicações.”
Precisamos de mais informações sobre esses e outros casos de reinfecção antes de podermos realmente entender as implicações.”
Jeffrey Barret, consultor científico para COVID-19 do Projeto Genoma do Instituto Wellcome Sanger, na Inglaterra, concorda que esses casos precisam ser mais estudados. “É muito difícil fazer qualquer inferência forte a partir de uma única observação”, diz, sobre o caso de Hong Kong, o único documentado, até agora, em um estudo científico. “Dado o número de infecções globais até o momento, ver um caso de reinfecção não é tão surpreendente, mesmo que seja uma ocorrência muito rara. Isso pode ser muito raro e pode ser que as segundas infecções, quando ocorram, não sejam graves.”
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Máscaras podem reduzir mortes
O uso de máscaras faciais entre a população em geral pode ajudar a reduzir o número total de infecções e mortes por covid-19, de acordo com estudo de modelagem publicado na revista Nature Communications. Os pesquisadores descobriram que mesmo as coberturas faciais de tecido, com efeito protetor limitado, quando implantadas universalmente, podem ajudar a diminuir o contágio e os óbitos.
Colin Worby, do Instituto Tecnológico de Massachusetts, e Hsiao-Han Chang, da Universidade Nacional de Tsing Hua, em Taiwan, usaram modelagem matemática para examinar o impacto do uso e da distribuição da máscara facial entre a população em geral durante um surto de coronavírus. Os autores simularam cenários nos quais o fornecimento e a eficácia das coberturas descartáveis variaram e calcularam o número total resultante de infecções e mortes. Em todos os modelos usados, eles descobriram que, quanto maior a disponibilidade e a eficácia das máscaras, menos contágios e óbitos.
Ao modelar a adoção de coberturas faciais universais — de pano reutilizáveis —, por exemplo, os autores descobriram que a redução no total de mortes foi comparável àquela alcançada com a distribuição direcionada de máscaras descartáveis de uso médico, mesmo quando o fornecimento do equipamento cirúrgico era limitado a 10% da população. Eles constataram que coberturas faciais universais de tecido podem levar a uma redução de 3% a 5% nas mortes, sendo que e a distribuição adicional de máscaras médicas para idosos e pacientes sintomáticos pode dobrar esse efeito.
Os autores concluem que o uso de máscara facial é um componente importante das medidas de saúde pública para limitar a disseminação contínua da Sars-CoV-2. No entanto, alertam que mais estudos são necessários para obter melhores estimativas para a eficácia do uso de máscara entre o público durante a pandemia da COVID-19.