Jornal Estado de Minas

Manada de elefantes intriga cientistas com jornada de 500 km pela China

Os elefantes são, por natureza, animais extremamente inteligentes, e os especialistas que os estudam diariamente já sabem muito sobre eles.

Mesmo assim, uma manada de elefantes ameaçados de extinção na China deixou os cientistas completamente pasmos, ao mesmo tempo em que cativou uma nação inteira.





Não é incomum que os elefantes se movam em pequenas distâncias. Mas esse grupo vem abrindo caminho pesadamente pela China há mais de um ano. Os elefantes agora se afastaram quase 500 km, numa jornada gigantesca de seu habitat original.

Acredita-se que eles tenham começado sua jornada na primavera passada a partir da Reserva Natural Nacional de Xishuangbanna, no sudoeste do país, perto da fronteira com Mianmar e Laos.

Os elefantes começaram a se mover para o norte e, nos últimos meses, foram vistos em várias aldeias, vilarejos e cidades.

Também foram vistos quebrando portas, invadindo lojas, "roubando" comida, brincando na lama, tomando banho em um canal e cochilando no meio de uma floresta.

Eles também foram flagrados devastando plantações com seus rastros e entrando nas casas das pessoas. Em um determinado momento, fizeram fila em um pátio para beber água, abrindo com sucesso uma torneira com suas trombas.

Acredita-se que os elefantes tenham começado a se mover para o sul novamente e foram observados pela última vez em Shijie, uma cidade perto da cidade de Yuxi.





Não está claro se eles estão voltando, ou por que embarcaram nessa jornada. Ou o que está por vir.

Cientistas perplexos

"A verdade é que ninguém sabe. É quase certo que (a jornada) está relacionada à necessidade de recursos, como comida, água e abrigo. Isso faria sentido, dado o fato de que, na maioria dos locais onde os elefantes asiáticos vivem na natureza, há um aumento da ocupação humana levando à fragmentação do habitat, redução e perda de recursos", diz Joshua Plotnik, professor assistente de psicologia de elefantes no Hunter College, da City University de Nova York (Estados Unidos), à BBC.

Plotnik acrescenta que o movimento também pode ter a ver com a dinâmica social do grupo.

Os elefantes são matriarcais com a fêmea mais velha e sábia, que lidera o grupo de avós, mães e tias junto com seus filhos e filhas.

Após a puberdade, os machos se separam e viajam sozinhos ou se unem em grupos com outros machos durante um curto período. Eles só se juntam às fêmeas temporariamente para acasalar antes de partirem novamente.

No entanto, essa manada começou como um grupo de 16 ou 17 elefantes, incluindo três machos.

Dois machos se separaram um mês depois, com um deles se afastando do grupo no início deste mês.

"Não é incomum, mas estou surpreso que eles tenham ficado juntos tanto tempo. Isso provavelmente aconteceu por causa do território desconhecido. Quando os vi entrando em uma cidade ou vilarejo, eles estavam se movendo juntos, o que é um sinal de estresse", diz Ahimsa Campos-Arceiz, professor e pesquisador principal do Jardim Botânico Tropical Xishuangbanna.





Os elefantes têm um comportamento mais próximo dos humanos do que outros mamíferos, sentindo uma variedade de emoções, como alegria no nascimento, tristeza na morte e ansiedade em territórios desconhecidos.

Os pesquisadores também foram pegos de surpresa quando duas das elefoas deram à luz durante a viagem.

"Os elefantes são muito habituais e rotineiros. É incomum para eles se mudarem para novas áreas quando estão prestes a dar à luz , quando tentam encontrar o lugar mais seguro que podem", diz Lisa Olivier da Game Rangers International, uma organização de preservação da vida selvagem com sede na Zâmbia, à BBC.

Elefantes selvagens asiáticos dormem no chão no distrito de Jinning, em Kunming, na província de Yunnan (foto: Reuters)

Olivier diz que as famosas fotos de elefantes dormindo juntos também são incomuns.





"Normalmente, os bebês dormem no chão e os grandes se apoiam em uma árvore ou em um cupinzeiro. Por serem tão grandes, caso haja qualquer tipo de ameaça, eles demoram muito para se levantar e se deitar, o que causa muita pressão no coração e nos pulmões", diz ela.

"O fato de estarem deitados sugere que estavam todos exaustos, pois tudo deve ser muito novo para eles. Grande parte de sua comunicação é o som infra-sônico, a vibração dos pés deles, mas nas cidades eles estão ouvindo os sons dos veículos."

Ficando sem espaço

Os cientistas são unânimes em dizer que não se trata de migração porque os elefantes não seguem uma rota fixa.

No entanto, a China é um dos poucos lugares do mundo onde a população de elefantes está crescendo graças a extensos esforços de preservação.

O país asiático tem combatido fortemente a caça ilegal e, como resultado, a população de elefantes selvagens na província de Yunnan passou de 193 na década de 1990 para cerca de 300 atualmente.





Mas a urbanização e o desmatamento reduziram os habitats desses animais e, portanto, dizem os especialistas, eles podem estar procurando uma nova casa com melhor acesso a alimentos.

Esses gigantes da selva são máquinas comedoras, escravos de seus intestinos, e por isso passam grande parte de suas vidas procurando os 150 a 200 kg de alimentos de que precisam todos os dias.

Assistido do ar

Os especialistas demonstraram alívio que a viagem não tenha causado nenhum confronto perigoso com humanos, e há outros aspectos positivos.

Os drones que as autoridades usam para monitorar os elefantes deram aos pesquisadores uma enorme quantidade de informações de qualidade, sem perturbar os animais.

E proporcionaram imagens inesquecíveis ao público eufórico, que acompanha a jornada.

Olivier também destaca a cooperação entre o governo, autoridades locais e projetos de conservação para proteger a manada.

Nos últimos meses, as autoridades têm colocado iscas de comida e bloqueado estradas com caminhões para redirecionar os elefantes para locais seguros.





A China implantou drones para monitorar os elefantes (foto: Reuters)

"Estou orgulhoso de que a abordagem não seja muito intrusiva. Um erro muito comum é tentar dizer aos elefantes o que eles deveriam estar fazendo. Os elefantes não evoluíram para ouvir o que fazer. Quando tentamos dizer a eles o que fazer novamente depois de longas distâncias, podemos criar muitos comportamentos agressivos ", diz Campos-Arceiz.

A imprensa chinesa tem monitorado o grupo de elefantes diariamente. E a manada se tornou um sucesso nas redes sociais.

Toda a atenção aumentou a consciência e a sensibilidade para a situação dos elefantes ameaçados de extinção no país. E o interesse mundial provavelmente também terá efeitos de longo alcance.

"Esta atenção e exposição ajudarão a preservação em todo o mundo", de acordo com Olivier.


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