Jornal Estado de Minas

AQUECIMENTO GLOBAL

Com aquecimento global, 89% da população no mundo pode ter dengue e malária

Pesquisadores britânicos estimam que, no fim deste século, cerca de 89% da população mundial estará em risco de ter malária ou dengue caso as emissões de carbono, que provocam o aquecimento global, sigam aumentando. A pesquisa estima que, em 2078, a população global será de 9,4 bilhões de pessoas, e que 8,4 bilhões estarão mais vulneráveis a contrair a malária. No caso da dengue, a projeção é de que, em 2080, 8,5 bilhões de indivíduos estejam em risco. Os dados foram divulgados na última edição da revista The Lancet Planetary Health e, segundo os responsáveis, servem como um alerta para que medidas preventivas sejam adotadas urgentemente.





A equipe usou uma série de modelos para medir o impacto potencial das mudanças climáticas nos níveis de transmissão das duas enfermidades até o fim do século 21, considerando os 100 anos anteriores. “Utilizamos diferentes níveis de emissões de gases de efeito estufa, densidade populacional (para representar a urbanização) e altitude, fatores que ajudam a estimar como essas doenças transmitidas por mosquitos podem se propagar”, explicam no artigo.

Por meio dos cálculos, os cientistas observaram que a malária pode ameaçar 89,3% da população global em 2078, em comparação com uma média de 75,6% no período de 1970 a 1999. Para a dengue, a modelagem estimou um total de 8,5 bilhões de pessoas em risco em 2080, em comparação com uma média de 3,8 bilhões entre 1970 e 1999.

As mudanças climáticas aumentam as preocupações de que a transmissão de doenças transmitidas por mosquitos se intensifique porque há o aumento da sobrevivência do vetor e das taxas de picadas. Isso culmina em mais replicação de patógenos dentro dos vetores, em taxas de reprodução mais curtas e em longas temporadas de transmissão.





Segundo os autores, a malária e a dengue, as mais importantes ameaças globais transmitidas por mosquitos, estão sendo encontradas em mais áreas, emergindo gradualmente em locais não afetados anteriormente. “Nossas descobertas enfatizam a importância do aumento da vigilância especialmente em locais sem experiência anterior de dengue ou malária, que não têm uma estrutura robusta e especializada para combater essas enfermidades”, afirma, em comunicado, Rachel Lowe, pesquisadora da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres e uma das autoras do estudo.

Ações imediatas

Apesar das projeções significativas, os pesquisadores avaliam que é possível amenizar substancialmente esse impacto com a adoção de ações para reduzir as emissões globais. “Esse trabalho sugere fortemente que a redução das emissões de gases de efeito estufa pode evitar que milhões de pessoas contraiam malária e dengue. Os resultados mostram que cenários de baixa emissão reduzem significativamente a duração da transmissão, bem como o número de pessoas em risco. Ações para limitar o aumento da temperatura global bem abaixo de 2°C devem continuar”, declara, em comunicado, Felipe J Colón-González, professor-assistente da instituição de ensino britânica.

O principal autor do estudo também lembra a importância de as autoridades se organizarem para as consequências epidemiológicas de um cenário em que a temperatura ultrapasse os 2°C. “Os formuladores de políticas e as autoridades de saúde pública devem se preparar para essa situação mais pessimista, e isso é particularmente importante em áreas que, atualmente, estão livres de doenças e onde sistemas de saúde provavelmente não estão preparados para grandes surtos”, justifica.

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