Novo estudo da Universidade de Chicago (Uchicago) descobriu que um medicamento de uso veterinário, o masitinibe, pode ser eficaz no tratamento da COVID-19. A droga - que passou por vários ensaios clínicos, mas ainda não recebeu aprovação para tratar humanos - inibiu a replicação do Sars-CoV-2 em culturas de células humanas e em camundongos, levando a cargas virais muito mais baixas. O estudo foi publicado, nesta semana, na revista Science.
Leia Mais
Terapia focal fotodinâmica é aliada no tratamento para o câncer de próstataA técnica revolucionária que solucionou mistério de irmã sumida há 30 anosBilionário Jeff Bezos conclui com sucesso sua viagem ao espaço; veja fotoscoronavirusmundoAs estranhas raças de cães que desapareceramDiabetes e álcool: qual a relação? Números crescem na pandemia da COVID'Vou melhorar?': a repórter da BBC que luta contra a COVID há mais de 1 anoSonda da Nasa revela como é Marte 'por dentro'"Os inibidores da principal protease do Sars-CoV-2, classe de drogas como o masitinibe, podem ser uma nova forma potencial de tratar pacientes com COVID, especialmente nos estágios iniciais da doença", disse Savas Tay, que liderou a pesquisa. "A COVID, provavelmente, estará conosco por muitos anos, e novos coronavírus continuarão a surgir. Encontrar drogas existentes que tenham propriedades antivirais pode ser parte essencial do tratamento dessas doenças", completou.
Quando os lockdowns começaram nos EUA, em março de 2020, Tay e Nir Drayman, pós-doutorado especializado em virologia, começaram a pensar em como poderiam ajudar no combate à crise sanitária. Em busca de um tratamento melhor para a COVID-19, eles começaram a examinar uma biblioteca composta por 1,9 mil medicamentos clinicamente seguros contra o OC43, um coronavírus que causa o resfriado comum e pode ser estudado em condições normais de biossegurança. A equipe usou culturas de células para determinar o efeito dos medicamentos na infecção.
Como resultado desse trabalho inicial, entregaram os 30 melhores candidatos ao professor de microbiologia Glenn Randall, que os testou em culturas de células contra Sars-CoV-2. As medições - feitas no Laboratório Howard Taylor Ricketts e no Laboratório Nacional Argonne, ambientes de alta segurança - revelaram quase 20 drogas que inibem o Sars-CoV-2. A equipe também enviou os candidatos a medicamentos a outros colaboradores para testar a ação contra a protease 3CL, a enzima dentro dos coronavírus que permite que eles se repliquem nas células.
Descobriu-se que, dos candidatos a medicamentos, o masitinibe inibiu completamente a enzima viral 3CL dentro das células, um fato que foi confirmado por cristalografia de raios X pelo grupo de Andrzej Joachimiak, no laboratório em Argonne. A droga se liga especificamente ao sítio ativo da protease 3CL e inibe a replicação viral posterior. "Isso nos deu uma forte indicação de como essa droga funciona, e ficamos confiantes de que ela tem uma chance de funcionar em humanos", disse Drayman.
Em seguida, os pesquisadores trabalharam com colegas da Universidade de Louisville, nos EUA, para testar a droga em um modelo de camundongo. Descobriram que o medicamento reduziu a carga viral em mais de 99% nas cobaias e diminuiu os níveis de citocinas inflamatórias. Paralelamente, os cientistas também começaram a investigar a molécula em culturas de células contra outros vírus, e detectaram que ela também era eficaz contra os picornavírus, grupo que inclui hepatite A, poliomielite e rinovírus que causam o resfriado comum.
Variantes
Em outra frente do estudo, a equipe testou a droga em culturas de células para avaliar a ação contra três variantes do Sars-CoV-2 - Alfa, Beta e Gama. O medicamento funcionou igualmente bem contra as cepas, uma vez que se liga à protease e não à superfície do vírus. Agora, a equipe trabalha com a empresa farmacêutica que desenvolveu o medicamento, a AB Science, para ajustá-lo e torná-lo um antiviral ainda mais eficaz. Enquanto isso, o próprio masitinibe pode ser levado para ensaios clínicos em humanos, a fim de testar seu efeito em um tratamento para a covid-19, disseram os cientistas.
"O masitinibe tem potencial para ser um antiviral eficaz agora, especialmente quando alguém é infectado pela primeira vez. As propriedades antivirais da droga terão o maior efeito", afirmou Drayman. "Esse não é o primeiro novo surto de coronavírus e não será o último. Além das vacinas, precisamos ter novos tratamentos disponíveis para ajudar aqueles que foram infectados."
Embora a droga seja aprovada apenas para tratar tumores de mastócitos em cães, ela foi submetida a testes clínicos em humanos para várias doenças, incluindo melanoma, Alzheimer, esclerose múltipla e asma. Foi demonstrado que é segura, mas causa efeitos colaterais, incluindo distúrbios gastrointestinais e edema, e pode, potencialmente, aumentar o risco de doenças cardíacas.
Leia mais sobre a COVID-19
Confira outras informações relevantes sobre a pandemia provocada pelo vírus Sars-CoV-2 no Brasil e no mundo. Textos, infográficos e vídeos falam sobre sintomas, prevenção, pesquisa e vacinação.
- Vacinas contra COVID-19 usadas no Brasil e suas diferenças
- Minas Gerais tem 10 vacinas em pesquisa nas universidades
- Entenda as regras de proteção contra as novas cepas
- Como funciona o 'passaporte de vacinação'?
- Os protocolos para a volta às aulas em BH
- Pandemia, epidemia e endemia. Entenda a diferença
- Quais os sintomas do coronavírus?
Confira respostas a 15 dúvidas mais comuns
Guia rápido explica com o que se sabe até agora sobre temas como risco de infecção após a vacinação, eficácia dos imunizantes, efeitos colaterais e o pós-vacina. Depois de vacinado, preciso continuar a usar máscara? Posso pegar COVID-19 mesmo após receber as duas doses da vacina? Posso beber após vacinar? Confira esta e outras perguntas e respostas sobre a COVID-19.