Desde o início da pandemia da COVID-19, uma condição mostrou-se fator de risco para o agravamento da infecção, levando a quadros severos: o diabetes. Porém nem todos os pacientes do distúrbio metabólico sofrem da forma grave da doença, o que intriga a comunidade médica. Agora, pesquisadores da NHS Fundação Trust do condado de Chester, no Reino Unido, acreditam ter encontrado a resposta. Na reunião anual da Associação Europeia para o Estudo da Diabetes (Easd), evento que acontece on-line neste ano, eles apresentaram características que diferenciam quem está sob maior risco ao ser infectado pelo Sars-CoV-2.
Diabetes 2, em vez de 1, idade avançada e proteína C reativa elevada (PCR, um marcador de infecção) foram associados a um risco maior de morte em pacientes com a doença metabólica. Além disso, pessoas com doença renal crônica, mesmo aquelas mais jovens - uma complicação comum do diabetes em longo prazo -, também aumentam a letalidade nos casos da infecção. O índice de massa corporal (IMC), contudo, não teve relação com a sobrevivência.
De acordo com os autores, a pesquisa teve como objetivo desenvolver um modelo para ajudar médicos a prever quais pacientes correm mais risco de morte e, assim, fornecer os cuidados mais adequados para evitar o óbito. "Para nos ajudar no tratamento visando a sobrevida dos pacientes com diabetes, precisamos explorar mais o que os coloca em risco para resultados piores. Esse estudo permitirá que outros pesquisadores e médicos descubram como podemos intervir melhor, permitindo-nos fornecer o tratamento mais adequado", explica Daniel Kevin Llanera, que conduziu a investigação com Rebekah Wilmington.
O estudo, chamado Accredit, procurou associações entre uma série de características clínicas e bioquímicas e risco de morte sete dias após a admissão hospitalar em pacientes com diabetes infectados pelo Sars-CoV-2. Os 1.004 participantes, atendidos em sete hospitais da Inglaterra, tinham uma idade média de 74,1 anos. A maioria (60,7%) era do sexo masculino e 45% viviam em áreas classificadas como as menos favorecidas economicamente do Reino Unido, com base no Índice de Privação Múltipla do governo.
O IMC médio foi de 27,6, e 56,2% dos participantes tiveram complicações macrovasculares de diabetes, como ataque cardíaco ou acidente vascular cerebral, enquanto 49,6% sofreram problemas microvasculares, como neuropatia ou retinopatia.
Dos voluntários, 7,5% foram internados em terapia intensiva (UTI) e 24% morreram dentro de sete dias de hospitalização. Maiores privações socioeconômica e idade mais avançada podem ajudar a explicar por que a mortalidade em sete dias foi mais elevada do que em outros estudos que investigaram risco de óbito em pessoas com diabetes, segundo Llanera. Mas o pesquisador destaca que são necessárias mais pesquisas para confirmação.
Pró-inflamação
Aproximadamente um em cada 10 pacientes (9,8%) precisou receber infusões de insulina durante o tratamento. A análise também mostrou que aqueles com diabetes tipo 2 tinham 2,5 vezes mais probabilidade de morrer em sete dias de internação do que aqueles com outros tipos da doença. "Isso pode ser porque o diabetes tipo 2 geralmente ocorre em pessoas mais velhas e pode ser acompanhado por outras condições de saúde de longa data, colocando esses pacientes em risco maior de resultados piores", afirma Wilmington.
O risco de morte também foi maior entre os pacientes com menos de 70 anos diagnosticados previamente com doença renal crônica. Eles apresentaram 2,74 vezes mais probabilidade de morrer do que pessoas da mesma faixa, mas sem a condição que afeta os rins. "De acordo com vários estudos, os pacientes com doença renal diabética têm um estado pró-inflamatório crônico e desregulação imunológica, tornando difícil lutar contra o vírus, em comparação com alguém que tem um sistema imunológico funcionando corretamente", aponta Llanera, atualmente pesquisador do Imperial College London.
Outro complicador é que os receptores ACE2 são regulados positivamente nos rins de pacientes com doença renal diabética, relata o cientista. "Essas são moléculas que facilitam a entrada de Sars-CoV-2 nas células. Isso pode levar a um ataque direto dos rins pelo vírus, possivelmente ocasionando resultados gerais piores", explica Llanera. A combinação de idade avançada e PCR alto foi associada a um risco 3,44 maior de morte no sétimo dia. Os autores do estudo afirmam que o marcador se correlaciona com alto grau de inflamação, o que pode eventualmente levar à falência de órgãos.
Os dados serviram para criar um modelo que, se aplicado a um paciente com características demográficas semelhantes, pode predizer um maior risco de morte em sete dias usando apenas a idade e a PCR como variáveis. "Ambas as variáveis estão facilmente disponíveis durante a admissão ao hospital. Isso significa que podemos, no início da internação hospitalar, identificar facilmente os pacientes que, provavelmente, precisarão de intervenções mais agressivas para tentar melhorar a sobrevida."
Sanofi desiste de vacina de RNA
No mesmo dia em que divulgou resultados preliminares bem-sucedidos de sua vacina para a COVID-19 baseada em RNA mensageiro (mRNA), a francesa Sanofi anunciou que não prosseguirá com o desenvolvimento do imunizante. Como já há no mercado os produtos da mesma plataforma (a da Moderna e a da Pfizer/BioNTech), a companhia decidiu se concentrar, em parceria com a GSK, na conclusão do desenvolvimento de uma vacina recombinante.
Os esforços para se chegar ao imunizante de base genético, porém, não serão em vão, diz um comunicado. A plataforma será utilizada para outras doenças infecciosas, incluindo a gripe. "Com base em seus resultados positivos, a empresa concentrará seus recursos de mRNA em seu Centro de Excelência de mRNA recém-criado para tratar de futuras pandemias e outras doenças infecciosas e terapêuticas onde houver uma forte necessidade não atendida", informou a Sanofi.
Os resultados provisórios de um estudo de fase 1/2 da vacina mostraram produção de anticorpos neutralizantes em 91% a 100% dos participantes do estudo duas semanas após uma segunda injeção, em todas as três dosagens testadas. Nenhum efeito adverso grave foi observado, e o perfil de tolerabilidade é comparável ao de outras vacinas de mRNA para COVID-19.
"Esses resultados ajudarão claramente a informar o caminho a seguir para nossos programas de desenvolvimento de mRNA. Hoje, temos uma plataforma promissora, que estamos levando para o próximo nível de desenvolvimento, incluindo a mudança para o mRNA modificado e contra outras doenças, incluindo a gripe", disse, na nota, Jean-François Toussaint, chefe Global de Pesquisa e Desenvolvimento da Sanofi Pasteur.
A Sanofi pretende dar início a estudos clínicos em 2022 de uma vacina contra influenza com mRNA modificado. Os estudos de fase 1 começaram em junho passado. O ensaio avaliará uma candidata monovalente contra a gripe que codifica a proteína hemaglutinina da cepa A/H3N2 do vírus influenza em duas formulações, com diferentes nanopartículas lipídicas.
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