Imagine que você está esperando a resposta de um novo empregador em potencial sobre uma oferta incrível de trabalho.
Foi difícil interpretar a opinião do entrevistador — simplesmente não há como adivinhar se você foi escolhido.
Com o passar dos dias, você só gostaria de saber o resultado do processo seletivo — mesmo que a notícia não seja boa —, em vez de ter que suportar mais um minuto de espera agonizante?
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E quando se trata de um encontro romântico? Você preferia que alguém te dissesse, de cara, que não quer mais te ver de novo, em vez de ficar esperando por uma nova notificação de mensagem no celular? Ou arriscaria sua dignidade pedindo sinais de compromisso em um momento inoportuno?
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Por que Aristóteles achava que temos uma geladeira na cabeça - e outras curiosidades sobre o cérebroO que é a leitura profunda e por que ela faz bem para o cérebroComo nosso cérebro pode nos deixar mais pobres - e o que fazer para evitarPara algumas pessoas, uma incapacidade geral de processar situações ambíguas pode até alimentar transtornos de ansiedade crônicos.
"A incerteza pode intensificar o quão ameaçadora uma situação parece", diz Ema Tanovic, psicóloga do Boston Consulting Group na Filadélfia (EUA), que também pesquisou as consequências da incerteza na Universidade de Yale.
Os cientistas, incluindo Tanovic, estão fazendo agora grandes avanços na tentativa de explicar por que a incerteza pode ser tão dolorosa e estabelecer as consequências em cadeia para nossa tomada de decisão e comportamento.
Ao compreender esses mecanismos, podemos aprender a aliviar esses sentimentos — e talvez até mesmo prosperar diante do medo do desconhecido.
Desconhecidos conhecidos
Nosso conhecimento dos efeitos da incerteza no cérebro e no corpo vem de uma série de estudos ligeiramente sádicos.
Em um experimento típico, os participantes são ligados a eletrodos, capazes de aplicar um choque elétrico inofensivo, mas ligeiramente doloroso, na pele, enquanto os pesquisadores medem as respostas fisiológicas que tendem a se correlacionar com o estresse — como o suor da pele ou mudanças no tamanho da pupila.
Em estudo após estudo, os pesquisadores descobriram que qualquer elemento de imprevisibilidade aumenta significativamente o desconforto das pessoas, apesar de não haver nenhuma diferença objetiva na intensidade do choque.
Os participantes apresentam um estresse maior se houver 50% de chance de levar um choque, por exemplo, em comparação com situações em que há 100% de certeza de que o choque será dado.
"Se pensarmos em termos puramente racionais, isso não faz sentido: uma chance de 50% de levar um choque deveria provocar metade da ansiedade de uma chance de 100% se tudo com o que nos importamos é a ameaça em si", diz Tanovic.
"Mas não é assim que nossas mentes funcionam."
E não é apenas a incerteza de uma ameaça que causa desconforto: também relutamos em nos colocar em situações potencialmente lucrativas se elas envolverem um elemento de imprevisibilidade.
Tanovic recentemente pediu aos participantes para jogarem um jogo chamado "Uncertain Waiting Tasks" ("Tarefas de Espera Incertas", em tradução literal).
Não é necessário muita habilidade — ao longo de várias provas, os participantes têm a chance de ganhar algum dinheiro.
O resultado de cada etapa é puramente aleatório, mas os participantes têm a opção de saber o resultado imediatamente, em vez de esperar alguns segundos até descobrir.
Mas o conhecimento imediato vem acompanhado por uma penalidade: o prêmio será menor.
Apesar de ser a opção mais racional, apenas 37% dos participantes optaram por aguardar em cada prova.
O restante estava disposto a sofrer uma perda financeira para evitar a ansiedade da espera em um estado de incerteza.
Tanovic diz que muitas situações cotidianas provocam o mesmo tipo de reação.
"As pessoas podem se esforçar muito para reduzir a incerteza e a ansiedade que vem com ela, como ligar repetidamente para um ente querido para ter certeza de que está bem, enviar mensagens de texto para um crush incessantemente quando não respondem, atualizar compulsivamente a caixa de entrada quando está esperando retorno sobre uma entrevista", diz ela.
"Às vezes funciona, e o comportamento resolve a incerteza, mas essas ações geralmente podem custar caro em termos de tempo, esforço e efeito nos relacionamentos."
Os neurocientistas começaram a monitorar a atividade cerebral por trás desse tipo de tomada de decisão.
As pesquisas ainda estão em andamento, mas os resultados até agora oferecem algumas pistas da resposta neural à incerteza.
Parece haver uma atividade maior na amígdala, por exemplo, o que pode refletir um estado de "hipervigilância", de modo que estamos mais alertas para riscos potenciais.
A incerteza também parece acionar a ínsula anterior, que está envolvida na ponderação das consequências de um evento particular e que pode ampliar as estimativas do cérebro do dano potencial.
Nossas reações à incerteza podem ter feito sentido na evolução.
O cérebro está constantemente tentando prever o que acontecerá a seguir, permitindo que prepare o corpo e a mente da maneira mais eficaz possível.
Em situações incertas, esse planejamento é muito mais difícil — e se você estiver enfrentando um predador ou inimigo humano, a resposta errada pode ser mortal.
Como resultado, pode valer a pena pecar pelo excesso de cautela — seja evitando a incerteza por completo ou colocando o cérebro e o corpo em um estado de alerta pronto para responder a uma situação de mudança.
"Tratar as incógnitas como ameaças potenciais teria sido adaptativo, desde que a ansiedade associada não comprometesse , como buscar comida e abrigo, ou selecionar companheiros", explica Nicholas Carleton, professor de psicologia da Universidade de Regina, no Canadá.
Na opinião dele, o "desconhecido" representa um dos "medos fundamentais" da humanidade — talvez até mais importante para nosso comportamento do que nosso medo da morte.
Uma questão de interpretação
Apesar dessa base evolutiva comum para nossos medos do desconhecido, as pessoas podem variar muito em relação a suas percepções da incerteza. Isso pode moldar as respostas e suas consequências para a saúde e o bem-estar de alguém.
Psicólogos como Carleton medem essas atitudes usando a escala de "intolerância à incerteza".
Para ter uma ideia de qual seria a sua pontuação, classifique as seguintes afirmações de 1 (nada característico) a 5 (muito característico):
- Acontecimentos imprevistos me perturbam muito;
- Fico frustrado por não ter todas as informações de que preciso;
- Devo ser capaz de organizar tudo com antecedência;
e
- Quando chega a hora de agir, a incerteza me paralisa;
- A menor dúvida pode me impedir de agir.
Pessoas com uma alta pontuação de intolerância à incerteza tendem a apresentar respostas de estresse acentuado a situações incertas.
Curiosamente, elas também tendem a ter dificuldade de "esquecer" os medos, uma vez que a segurança tenha sido estabelecida.
Nesses experimentos de choque elétrico, por exemplo, os participantes podem vir a associar algum sinal — como uma imagem ou som específico — com a sensação de dor.
Depois de um tempo, no entanto, os pesquisadores simplesmente param de aplicar o choque.
Com o tempo, a maioria das pessoas deixará de apresentar estresse elevado quando se depararem com aquele sinal.
Mas aqueles com alta intolerância à incerteza precisam de muito mais exposição ao sinal, agora inofensivo, do que pessoas com baixa intolerância à incerteza.
"Eles apresentam dificuldade em atualizar as antigas associações de ameaças para novas associações de segurança", diz Jayne Morriss, pesquisadora da Universidade de Reading, no Reino Unido, que conduziu muitos desses estudos.
Essa pode ser uma das razões pelas quais a alta intolerância à incerteza aumenta muito a vulnerabilidade de alguém a uma variedade de transtornos de ansiedade e depressão, já que os medos perduram por muito tempo depois que a ameaça potencial passou.
A incapacidade de processar o desconhecido também pode aumentar a ruminação — outro fator conhecido que contribui para muitas doenças mentais — à medida que a mente percorre todos os resultados possíveis da situação em questão.
"Na maioria dos casos, a incerteza parece ser um elemento central da ansiedade", diz Carleton.
Carleton e Morriss destacam que muitas psicoterapias existentes podem aumentar a tolerância das pessoas à incerteza.
A Terapia Cognitivo-Comportamental, por exemplo, pode ensinar as pessoas a parar de 'catastrofizar' os pensamentos que podem ser desencadeados por um evento imprevisível e questionar sua capacidade de lidar com a incerteza.
Algumas pessoas podem presumir que simplesmente não são capazes de funcionar sem resolver todas as incógnitas, sentindo-se paralisadas sempre que as coisas não saem exatamente como o planejado.
Mas, com um incentivo gentil para sair de sua zona de conforto, elas podem descobrir que os sentimentos não são tão ruins quanto receiam e que uma pequena quantidade de caos em suas vidas pode até oferecer uma oportunidade de aprendizado e crescimento.
No trabalho, por exemplo, você pode se voluntariar para assumir uma tarefa com a qual não é familiarizado — e ver se consegue administrar muito melhor do que pensa, apesar de suas dúvidas.
Quer você sofra ou não de um distúrbio clínico, pode valer a pena lembrar que as tentativas de prever o futuro costumam ser totalmente fúteis.
"Quando nos preocupamos, pensamos nos possíveis resultados de uma situação incerta na tentativa de nos preparar de alguma forma", diz Tanovic.
"Na realidade, a preocupação não reduz a incerteza que enfrentamos e, em vez disso, nos deixa mais ansiosos."
Como os antigos estóicos nos ensinaram, nos sairíamos muito melhor aceitando nossa incapacidade de controlar a situação.
Em alguns casos, podemos até ser capazes de reconhecer que a incerteza pode ser uma fonte de emoção.
Podemos não gostar do desconforto na hora, mas, fazendo uma retrospectiva, geralmente é o elemento surpresa que torna nosso sucesso ainda melhor.
A vida seria muito monótona, no fim das contas, se o resultado de cada evento fosse conhecido de antemão — e, aprendendo a reconhecer esse fato, podemos estar mais bem equipados para passar por esses momentos inquietantes de limbo emocional.
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Work Life.
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