Cientistas criaram o mapa mais preciso já feito das montanhas, cânions e planícies que compõem o fundo do oceano ao redor da Antártida.
Cobrindo 48 milhões de quilômetros quadrados, este gráfico detalha pela primeira vez um novo ponto mais profundo — uma depressão situada a 7.432 metros de profundidade chamada de Factorian Deep.
O conhecimento da forma do fundo do oceano é essencial para navegação segura, conservação marinha e compreensão do clima e da história geológica da Terra.
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Mas ainda há muito a se aprender. Vastas extensões de terreno nunca foram devidamente observadas.
O projeto Carta Batimétrica Internacional do Oceano Antártico (IBCSO, na sigla em inglês) levou cinco anos para criar a primeira tentativa de um mapa abrangente, publicado em 2013.
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O novo mapa cobre a área do fundo do Oceano Antártico até 50 graus ao sul. Se você dividir os 48 milhões de quilômetros quadrados em quadrados de grades de 500m, 23% dessas células passaram por pelo menos uma medição de profundidade moderna. Isso é uma grande melhoria em relação a nove anos atrás.
Anteriormente, o IBCSO começava a 60 graus ao sul, com menos de 17% das grades com medição moderna.
"É preciso entender exatamente o que significa a mudança de 60 para 50 graus; nós mais que dobramos a área do gráfico", diz Boris Dorschel, do Instituto Alfred Wegener da Alemanha.
"Assim, aumentamos a cobertura da área, mas também aumentamos a densidade de dados, porque, paralelamente, continuamos adquirindo novos dados", disse ele à BBC News.
Grande parte da informação no gráfico vem dos navios quebra-gelo que apoiam os esforços científicos na Antártida, incluindo do antigo navio polar do Reino Unido, o RRS James Clark Ross. (No futuro, esta contribuição britânica virá de seu sucessor, o RRS Sir David Attenborough, carinhosamente conhecido como Boaty McBoatface.)
Em viagens entre o Continente Branco e países como Chile, África do Sul e Tasmânia, suas ecosondas pesquisam o terreno submerso abaixo.
E essa atividade é cada vez mais coordenada, com organizações de pesquisa de diferentes nações trabalhando juntas para modificar um pouco as rotas seguidas por seus quebra-gelos.
Mapas mais detalhados sobre o fundo do mar são necessários por diversos motivos.
Eles são essenciais para a navegação segura, mas também para a gestão e conservação da pesca, porque é em torno das montanhas submarinas que a fauna marinha tende a se reunir. Cada monte submarino é um núcleo de biodiversidade.
Além disso, o fundo do mar acidentado influencia o comportamento das correntes oceânicas e a mistura vertical da água. Esta é uma informação necessária para melhorar os modelos que prevêem as mudanças climáticas futuras — porque são os oceanos que desempenham um papel fundamental na movimentação de calor ao redor do planeta.
"Também podemos estudar como o manto de gelo da Antártida mudou ao longo de milhares de anos apenas observando o fundo do mar", explica Rob Larter, do British Antarctic Survey.
"Há um registro de onde o gelo fluiu e onde suas zonas de aterramento (lugares em contato com o fundo do mar) se estenderam. Isso está lindamente preservado na forma do fundo do mar."
O novo mapa foi possível graças ao financiamento da Fundação Nippon do Japão e ao apoio do SeaBed2030, o esforço internacional para mapear o fundo do oceano da Terra até o final da década.
No momento, nosso conhecimento de quatro quintos do terreno subaquático do planeta vem apenas de medições de satélite de baixa resolução que inferiram a presença de montes submarinos e vales profundos da influência gravitacional que essas características têm na superfície do mar. A água se acumula sobre a massa de uma grande montanha submarina e afunda levemente onde há uma trincheira.
Uma descoberta importante entre a primeira e a segunda versão do IBCSO é o reconhecimento do ponto mais profundo do Oceano Antártico. Trata-se de uma depressão chamada Factorian Deep no extremo sul da Fossa Sandwich do Sul. Ela encontra-se em profundidade de 7.432m. Isso foi medido e visitado pelo aventureiro texano Victor Vescovo com seu submarino Limiting Factor em 2019.
A natureza remota e muitas vezes inóspita do Oceano Antártico dificulta o mapeamento de seções substanciais do leito. Há grande esperança de que uma classe emergente de embarcações robóticas possa cumprir essa tarefa nos próximos anos.
A Carta Batimétrica Internacional do Oceano Antártico foi publicada na revista Scientific Data.
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