A Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) vai receber o primeiro centro de produção de vetores virais com tecnologia CRISPR-Cas9 do Brasil. Os estudos serão feitos pelo Instituto de Ciências Biológicas (ICB).
A tecnologia é responsável por, basicamente, cortar e editar de forma simples o genoma. “Nesse caso, os vetores virais serão utilizados para fazer funcionar a técnica de modificação do material genético da célula. Com a combinação de ambos, será possível alterar o sistema nervoso na tentativa de curar ou tratar doenças neurológicas”, explica Vinicius Ribas, professor adjunto do Departamento de Morfologia do ICB UFMG.
Leia Mais
Cientistas testam remédios para estresse pós-traumáticoOs cientistas que 'ressuscitaram' células da retina de doador mortoComo cientistas querem usar DNA para armazenar dadosCRISPR-Cas9
Os dados que identificam os seres vivos ficam armazenados no DNA, que é o material genético, único a cada ser. Há interesse em modificar DNAs por vários motivos, mas o principal deles é para evitar doenças.
O CRISPR-Cas9 vem do nome "clustered regularly interspaced short palindromic repeats" , que significa repetições palindrômicas curtas agrupadas e regularmente espaçadas. É nessa parte do DNA que são encontrados os materiais genéticos de bactérias e vírus, que se alocaram em pequenos pedaços de DNA.
A memória viral contida nesse material genético é parte de um mecanismo de defesa das bactérias contra esses invasores. Quando um vírus, com uma sequência de DNA que já está contida nessa “memória” do gene invade essa célula, ela envia uma enzima capaz de cortar a fita dupla do DNA viral na região em que há essa compatibilidade, uma dessas proteínas é a Cas9.
Caso esse sistema de defesa seja modificado, por meio de uma edição do genoma, ao invés de cortar o organismo invasor, a Cas9 vai indicar qual parte deve ser cortada. Sendo assim, a célula começa um processo de reparo, descaracterizando a informação contida na antiga sequência, inutilizando o gene.
Projetos
Cinco projetos serão desenvolvidos inicialmente com a tecnologia do CRISPR-Cas9, em doenças neurológicas e neuropsiquiátricas, como: Alzheimer, epilepsia, glaucoma e Hanseníase. Haverá participação de alunos de iniciação científica, mestrado e doutorado e pós-doutorandos e professores, somando mais de 30 cientistas envolvidos.
A proposta de criação do Centro, feita por professores do ICB, da Faculdade de Medicina e de outras três universidades mineiras, foi aprovada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig) e vai receber um financiamento no valor de R$ 1.998.942.
Boa parte do valor será para investir na compra de equipamentos e materiais, além do pagamento de bolsas de iniciação científica. A UFMG estima que em um ano e meio o projeto já esteja funcionando.
“Não existe, no Brasil, um centro que produza esses vetores em alta qualidade. Quem precisa deles necessita importar de outros países. Conseguir produzi-los aqui vai facilitar o trabalho de pesquisadores brasileiros, inicialmente, dos envolvidos no projeto, o que irá favorecer o uso de técnicas de manipulação genética, podendo gerar novos conhecimentos e tratamentos”, comemora Vinicius Ribas.
Além da UFMG, estão diretamente envolvidas na criação do Centro as universidades federais de Ouro Preto, Juiz de Fora e Alfenas. O projeto inclui, ainda, duas instituições colaboradoras externas: a Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Universidade de Medicina de Göttingen, Alemanha.
*Estagiária sob supervisão