Uma nave do tamanho de um carro de passeio pode ter dado o primeiro passo decisivo para "salvar a Terra" — com quase 12,8 mil quilômetros de diâmetro — de ameaças espaciais. Segunda-feira (26/9), às 20h14 (horário de Brasília), a pequena espaçonave se chocou contra um asteroide de 160m, o equivalente a quatro Cristos Redentor, com o objetivo de mudar a rota dele. O impacto, a uma velocidade superior aos 20.000km/h, foi transmitido ao vivo pela Nasa e é considerado uma etapa decisiva da missão de "defesa planetária" lançada, em novembro, pela agência americana.
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Trata-se de um teste — o corpo rochoso atingido a 11 milhões de quilômetros de distância não representava um risco aos humanos. Além disso, os cientistas da missão DART só saberão se a colisão inédita surtiu o efeito esperado nos próximos dias. Ainda assim, eles comemoraram eufóricos a aproximação do asteroide — registrada por uma câmera acoplada na espaçonave kamikaze — e o "impacto de sucesso".
"Estamos embarcando em uma nova era da humanidade", comemorou Lori Glaze, diretora da Divisão de Ciência Planetária. Antes da colisão, Tom Statler, cientista-chefe da missão, também enfatizou o caráter inovador de DART. "Estamos mudando o movimento de um corpo celeste natural no espaço. A humanidade nunca tinha feito isso antes. É tirado dos livros de ficção científica e dos episódios de Jornada nas Estrelas, de quando eu era criança. E agora é real."
Para atingir um alvo tão pequeno, a nave se dirigiu como um míssil teleguiado umo a Dimorphos, com 160m de diâmetro, e Didymos, com 780m. O asteroide menor, a um quilômetro de distância do maior, foi atingido. Ele orbita Didymos em 11 horas e 55 minutos. A expectativa é de que, com o choque de ontem, esse tempo seja reduzido em 10 minutos e a rota da dupla, desviada.
Essa mudança poderá ser medida com telescópios na Terra, observando a variação do brilho quando o asteroide menor passar na frente do maior. "Ficaria surpreso se tivéssemos evidência clara em menos de uns poucos dias, e me surpreenderia se levasse mais de três semanas", disse Tom Statler.
Tela cheia
A equipe, porém, já foi abastecida de informações colhidas pela câmera DRACO. O instrumento integrado na nave registrou os momentos derradeiros, as últimas quatro horas, e enviou as imagens à Terra com um atraso de 45 segundos. Conforme o planejamento, os primeiros registros foram de Didymos e, depois, de Dimorphos. Neles, inicialmente, o pequeno asteroide apareceu maior do que um pixel, até encher todo o campo visual e ocorrer a explosão.
Como o previsto, três minutos depois, um satélite do tamanho de uma caixa de sapatos, chamado LICIACube, e lançado pela DART há alguns dias, passou aproximadamente a 55km do asteroide para capturar imagens da colisão inédita. Esses registros serão enviados à Terra nas próximas semanas e nos próximos meses. O evento também foi observado pelos telescópios espaciais Hubble e James Webb, o que ajudará nas etapas seguintes do projeto.
Espera-se que esse primeiro teste ajude a equipe a compreender a reação do asteroide e a calcular pontos estratégicos de uma futura missão. Uma das respostas-chave é o tamanho da nave a ser utilizada e quando fazê-lo. Se um asteroide pequeno estivesse, de fato, ameaçando se chocar com a Terra, seria necessário lançar uma missão com um ou dois anos de antecedência. Para objetos de centenas de quilômetros de diâmetro, esse prazo seria de décadas. Além disso, um objeto ainda maior pode requerer uma missão envolvendo várias naves espaciais.