Um estudo realizado por pesquisadoras da Universidade de Helsinque, na Finlândia, e publicado na revista científica Scientific Reports, mostra que, ao contrário do que é apresentado no livro “A inteligência dos cães”, a raça de cão mais inteligente do mundo é o pastor-belga-malinois — e não o border collies.
Avaliar a inteligência dos animais é uma tarefa complicada, pois existem diferentes tipos de inteligência, mesmo a dos cachorros. Para tentar representar uma variedade de talentos cognitivos, o estudo submeteu mais de mil cães ao teste de cognição "smartDOG", que analisa a capacidade do animal para habilidade e estratégia de resolução de problemas, controle de impulsos, capacidade de ler gestos humanos, capacidade de copiar comportamento humano, memória e raciocínio lógico.
“A maioria das raças tinha seus próprios pontos fortes e fracos”, disse a autora do estudo, Saara Junttila, pesquisadora Ph.D em cognição canina na Universidade de Helsinque, ao jornal britânico The Telegraph. “Por exemplo, o labrador retriever era muito bom em ler gestos humanos, mas não tão bom na capacidade de resolução de problemas espaciais. Algumas raças, como o shetland sheepdog, obtiveram pontuações bastante equilibradas em quase todos os testes", completou.
Entre os cães participantes estavam os border collies, que se saíram bem na maioria dos testes. No entanto, eles foram superados em 9 pontos pelo pastor-belga-malinois, que fez 35 de 39 pontos possíveis durante os testes de cognição.
O pastor-belga-malinois é uma raça muito usada em trabalhos de segurança. Sua afinidade por farejar e identificar alvos pode estar ligada às suas habilidades excepcionais de resolução de problemas. A raça teve o melhor desempenho em condições de teste que contavam com cães interpretando gestos humanos e uma tarefa de desvio em V — que testa sua capacidade de resolver problemas enquanto navegam em um ambiente.
No entanto, embora fossem os vencedores gerais, eles apresentaram algumas fraquezas. Ao lado do pastor-alemão, o pastor-belga-malinois ficou com a pontuação entre as mais baixas para o teste do cilindro, no qual os cães são ensinados a recuperar uma guloseima de dentro de um cilindro opaco, que é posteriormente substituído por um cilindro transparente.
Em um teste bem-sucedido, o cão continua entrando no cilindro para recuperá-lo, em vez de tentar seguir a rota direta pela lateral.
O teste do cilindro desafia a inibição, pois os cães devem resistir ao impulso de ir direto e usar sua consciência espacial para acessar a guloseima ao redor.
O resultado ruim pode estar relacionado ao papel do malinois como cão de trabalho, pois os cães de segurança exigem alta capacidade de resposta, associada a baixo controle inibitório.
Os pesquisadores concluíram que a função da raça pode ser responsável por certas forças cognitivas, como cães pastores e retrievers com pontuação alta nas tarefas de comportamento dirigidas a humanos.
No entanto, isso não poderia explicar todas as diferenças entre as raças, já que as pontuações de cognição de alguns cães ficaram fora do que se poderia esperar deles, como o lapphund finlandês, que se saiu mal na tarefa seguir ordens humanas, apesar de ser um cão pastor.
Eles também destacam algumas ressalvas ao estudo, como o fato de que os cães investigados não são representativos de toda a população canina, mas acreditam que a pesquisa contribui para uma imagem mais completa do comportamento típico da raça de cães.