Jornal Estado de Minas

ASTRONOMIA

Telescópio flagra a maior explosão cósmica já registrada

Explosões cósmicas são verdadeiras fábricas de elementos pesados e, entre outras coisas, podem acabar com uma galáxia inteira, tamanha a radiação liberada. Agora, pesquisadores da Universidade de Southampton, no Reino Unido, anunciaram a descoberta do maior evento do tipo já localizado. A pesquisa, publicada na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, identificou um fenômeno 10 vezes mais brilhante que qualquer supernova e três vezes mais luminoso que a ruptura de maré, que acontece quando uma estrela é sugada por um buraco negro.




 
 
A explosão, nomeada AT2021lwx, já dura mais de três anos, enquanto as supernovas são vistas apenas por alguns meses, disse o líder da pesquisa, Philip Wiseman. Segundo o estudo, o evento ocorre a 8 bilhões de anos-luz do ponto de observação, quando o Universo tinha aproximadamente 6 bilhões de anos — a idade estimada do Cosmos são 14 bilhões.

Sebastian Hönig, da Universidade de Southampton, coautor da pesquisa, elucidou, em nota, como a dimensão da explosão foi medida. "Após saber a distância até o objeto e quão brilhante ele aparece para nós, você pode calcular o brilho em sua fonte. Depois de realizarmos esses cálculos, percebemos que era extremamente brilhante", relatou.

Philip Wiseman contou que a identificação foi feita com informações do Zwicky Transient Facility (ZTF), um levantamento astronômico que usa uma nova câmera acoplada ao Telescópio Samuel Oschin, no Observatório Palomar, na Califórnia. Os cientistas buscavam por supernovas estranhas com vida longa, e utilizaram outro equipamento para investir na empreitada.



Partículas gasosas 

 
"Quando utilizamos um telescópio maior para tentar descobrir se era esse tipo de supernova, descobrimos que não se parecia em nada com uma supernova, mas, sim, com um quasar, que é um buraco negro engolindo gás de seus arredores. Mas os quasares piscam constantemente, enquanto este foi apenas um único flash gigante, que durou quase três anos e ainda está desaparecendo gradualmente." Para o pesquisador, a descoberta muda a percepção sobre como os buracos negros podem crescer. "Sabemos que eles engolem gases, mas isso geralmente acontece em processos lentos e constantes." 
 
Os cientistas acreditam que a explosão foi gerada por uma grande nuvem de gás, maior que o Sol da Terra, que sofreu interferência de um buraco negro supermassivo. Conforme o estudo, fragmentos da nuvem foram engolidos, o que causou ondas de choque. O astrônomo Naelton Araújo, da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro, reforça que essa é uma hipótese válida sobre a causa do fenômeno e esclarece que quantidades enormes de partículas gasosas podem ter caído repentinamente dentro do objeto e que, com isso, muita energia foi emitida. "Durante pouco tempo, o objeto brilhou mais que a luz de várias galáxias."

Araújo ressalta que nada parecido havia sido observado anteriormente. "Tal fato desafia os modelos de formação de buracos negros e núcleos galácticos. Novos processos de interação de objetos estelares devem ser modelados para explicar esse fenômeno." (Isabella Almeida)