Jornal Estado de Minas

TENSÃO

Estudo pioneiro: aranhas australianas mudam o veneno quando estressadas

Uma espécie australiana de aranha-teia-de-funil produz toxinas diferentes dependendo de seus contextos emocionais e físicos. É o que indica um grupo de cientistas do país que divulgou o resultado de suas pesquisas na revista científica PLOS ONE em maio.





A nova análise indica que o batimento cardíaco e estresse podem afetar diretamente a proporção de químicos nas pontas de um aracnídeo irritado. O veneno destas espécies são misturas complexas e são utilizadas na produção de diversos compostos como pesticidas naturais e medicamentos. Ao entender mais sobre a potência da toxina, os processos de extração podem ser atualizados.

Segundo a bióloga Linda Hernández Duran, da Universidade James Cook da Austrália, em entrevista para o portal Science Alert,  as “aranhas-teia-de-funil possuem um dos venenos naturais mais complexos do mundo e elas são valorizadas pelos usos terapêuticos e bioinseticidas que são escondidos nas suas moléculas de veneno"

Os estudos coletaram animais de quatro espécies: Hadronyche valida, Hadronyche infensa, Hadronyche cerberea e Atrax robustus. Eles foram submetidos a testes de irritabilidade.
O primeiro simulava uma predação, onde os cientistas imitavam ataques com sopros de ar e cutucadas leves com pinças. O segundo envolvia deixar outra aranha da mesma espécie por perto. O terceiro foi a exploração de um novo território.

Durante os estágios, o batimento cardíaco foi monitorado com um monitor a laser, possibilitando uma estimação do seu valor metabólico. “Nós coletamos o veneno e o analisamos com um espectrômetro de massa”, disse Linda Duran.





Para a maioria das espécies analisadas, não houve qualquer associação entre o comportamento, batimento cardíaco e composição do veneno. A exceção foi a espécie Hadronyche valida que varia a estrutura de sua toxina. 

Existe a sugestão de que as associações entre composição de veneno e fatores físicos demonstradas que gerou a variação seja específico da espécie, mas que em outras circunstâncias mudanças possam ocorrer em outras aranhas. “Só não sabemos ainda quais são as possíveis associações para as outras espécies ainda”, afirma o Science Alert.

Os cientistas também descobriram que as aranhas irritadas têm maiores custos metabólicos para produzir veneno e manifestar comportamentos agressivos. O grupo de Hernández sugere que existam compensações energéticas desempenhadas pelos aracnídeos ainda a serem descobertos.

“Nós mostramos pela primeira vez como componentes específicos do veneno são associados com um comportamento particular e variações fisiológicas e demonstramos que essas relações são dependentes de contextos.”, diz Linda Hernández.