Há exatos 62 anos, o cosmonauta russo Iuri Gagarin entrou para a história ao se tornar o primeiro homem a ir para o espaço. Comparado a outros destinos do Sistema Solar, ele nem foi tão longe assim. Por pouco mais de 100 minutos, deu uma volta completa na órbita da Terra, a uma altitude de 315km. Aquele voo, porém, abriu as portas do Universo à humanidade. Depois dele, o homem pisaria na Lua e mandaria naves não tripuladas a lugares tão distantes quanto a fronteira da heliosfera — feito da Voyager 1, da Nasa, que chegou a 19 bilhões de quilômetros de distância do Sol em 2013.
Com a última viagem tripulada à Lua, em 1972, o interesse por aventuras siderais pareceu perder o fôlego. Apenas para ressurgir, mais forte, na última década, quando não só a iniciativa privada se lançou ao espaço, como foram anunciados, com cronograma, planos de colocar o homem de volta ao ambiente extraterrestre.
Embora o programa de exploração de Marte seja o mais ousado, por levar seres humanos ao planeta vermelho, missões não tripuladas também desafiam os limites do que já se vasculhou no Universo. Recentemente, todos os olhares voltaram-se à Juice, a empreitada da Agência Espacial Europeia a Júpiter e suas misteriosas luas. A sonda tem como objetivo investigar se há condições de abrigar vida nos satélites do planeta.
A Lua, já visitada seis vezes por humanos, nem por isso foi esquecida na nova corrida espacial. Ao contrário, o satélite será o trampolim para Marte e, nos planos da Nasa, será o laboratório para o homem se acostumar com a vida fora da Terra. Veja, abaixo, as principais missões da nova era de conquista do espaço.
De volta à Lua
Artemis, na mitologia grega, é a deusa da Lua. Na década de 1960, quando os norte-americanos lançaram-se ao satélite natural da Terra, preferiram nomear a missão com o deus do Sol, Apolo. Mas para a nova empreitada, a Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) encontrou um nome mais adequado.
Em termos de descobertas científicas, a missão Artemis tem pouco a fazer. A primeira parte, executada com sucesso em novembro do ano passado, testou os instrumentos de lançamento. Em 2024, uma tripulação sobrevoará a Lua — sem, contudo, pousar — e retornará à Terra abrindo caminho para a fase mais ousada e aguardada do projeto: quando o homem voltará a pisar o solo lunar.
Uma vez no satélite, porém, o foco não será, como anteriormente, coletar material. Embora isso esteja previsto, a ambição, agora, é outra. "Vamos voltar à Lua para aprender a trabalhar e sobreviver no espaço", disse o administrador da Nasa, Bill Nelson, durante uma coletiva de imprensa. "Como você mantém os humanos vivos nessas condições hostis?", exemplificou.
"Artemis II é uma missão pioneira, definida para orbitar a Lua sem pousar. Ela abrirá caminho para expedições subsequentes, incluindo o primeiro retorno à superfície lunar desde a década de 1970: a Artemis III , prevista para 2025", esclarece Kevin Fong, pesquisador no Departamento de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Políticas Públicas da University College London, em Londres.
Segundo Fong, o que se seguirá será "uma exploração abrangente da superfície lunar por tripulações de astronautas, incluindo uma pesquisa do gelo de água que, aparentemente, está presente em suas regiões polares. A intenção é fazer mais do que entrar e sair, deixando bandeiras e pegadas".
Colonização
O gelo de água lunar é um recurso muito importante para a permanência do homem no espaço, como quer a Nasa, com seus projetos de colonização lunar e marciana. O material poderia, por exemplo, fornecer água potável e — ao separar o hidrogênio e o oxigênio contidos nas moléculas de água —, os ingredientes químicos para o propelente de foguetes.
Fong destaca que, além do progresso científico, Artemis II é especial pelo pioneirismo. "Victor Glover será o primeiro astronauta não branco, (o canadense) Jeremy Hansen, o primeiro não americano, e Christina Koch, a primeira astronauta mulher a sair da órbita baixa da Terra e viajar para a Lua."
Vida em Júpiter?
Embora não inclua humanos na jornada, a missão que levará a sonda Juice (acrônimo de Jupiter ICy moons Explorer, ou Explorador das Luas Geladas de Júpiter) às luas de Júpiter pretende responder a uma das questões que mais atiçam a curiosidade humana: existe, no espaço, condições propícias para abrigar a vida da forma como se conhece na Terra?
Munida de 10 instrumentos que funcionam como verdadeiros laboratórios científicos, a nave investigará a atmosfera dos satélites gelados, onde a resposta a essa pergunta pode estar escondida. "As luas geladas são os únicos corpos planetários, além da Terra, onde a água líquida é estável em escalas de tempo geológicas, o que é crucial para o surgimento e o desenvolvimento da vida", esclarece Baptiste Journaux, professor de ciências da terra e do espaço na Universidade de Washington.
"Elas são, na minha opinião, o melhor lugar em nosso Sistema Solar para descobrir vida extraterrestre. Por isso, precisamos estudar seus oceanos e interiores exóticos para entender melhor como eles se formaram, evoluíram e como podem reter água líquida em regiões frias, estando tão longe do Sol", continua o especialista.
Uma vez concluída com sucesso, a missão também ajudará a entender o chamado sistema solar miniaturizado em Júpiter, explicou a chefe da interface de lançamento da sonda na Agência Espacial Europeia (Esa), Manuela Baroni. "Você pode considerar Júpiter como um gigante gasoso com esses satélites girando em torno dele. Então, pode considerá-lo um minissistema solar. E, ao estudá-lo, podemos encontrar diferenças e semelhanças com o nosso, compreendê-lo melhor e entender como ele foi formado e como funciona", disse, em uma coletiva de imprensa.
Manobras complexas
A missão está programada para durar oito anos e percorrer 740 milhões de quilômetros. Durante o percurso, Juice terá que realizar complexas manobras de assistência gravitacional, que consistem em utilizar a força de atração dos outros planetas como uma catapulta que a leve ao destino final.
Mas antes de a sonda chegar para explorar as luas geladas de Júpiter, — Ganimedes, Calisto e Europa —, esta última será visitada pela Europa Clipper, lançada pela Nasa em 2014 e programada para alcançar o destino em 2030. O objetivo da sonda norte-americana também é buscar assinaturas de vida nos satélites do gigante gasoso.
Enfim, Marte
De todas as missões da nova era espacial, sem dúvidas, a mais ousada e esperada é a da Nasa que levará uma tripulação ao planeta vermelho. Marte tem sido explorada por diversas sondas, incluindo a Perseverance (Nasa), a Tianwen-1 (China) e a Hope (Emirados Árabes). Essas se juntam a jornadas passadas, inauguradas em 1976 por Viking 1, da agência norte-americana, a primeira a mostrar ao mundo a imagem da superfície marciana.
Contudo, a Nasa pretende enviar humanos para o planeta, e as missões Artemis, na Lua da Terra, são consideradas um preparo para isso. A intenção da agência é que, entre o fim da década de 2030 e o início de 2040, os dois primeiros terráqueos a aceitar o desafio cheguem a Marte para uma temporada de 30 dias. Se tudo der certo, será o primeiro passo para a futura exploração do planeta.
Por enquanto, parece um objetivo distante. Com a tecnologia disponível, levaria ao menos seis meses para humanos chegarem a Marte. Nesse período, estariam expostos, por longos períodos, à radiação do espaço profundo e à microgravidade, com efeitos devastadores no organismo. Essas seriam apenas algumas das dificuldades. Além disso, a gravidade parcial marciana é, aproximadamente, um terço da terrestre.
"Para ficar"
Os obstáculos para levar e manter uma tripulação em Marte levantam a questão: por que fazer isso e não apenas deixar que as sondas investiguem o planeta vermelho? A primeira explicação é fácil: sendo vizinho da Terra, seria o alvo mais próximo para a exploração por humanos. Em nota, a agência americana afirma que, "ao desenvolver novas tecnologias ao longo do caminho e criar os sistemas necessários para manter uma presença humana permanente no espaço profundo, a humanidade será pioneira no espaço, avançando pelo Sistema Solar, para ficar".
Segundo Darrell M. West, do Centro de Inovações Tecnológicas do think tank norte-americano The Brookings Institution, há razões de sobra para se visitar o planeta. "Ir a Marte requer inventividade semelhante (à da ida à Lua). Os cientistas tiveram que descobrir como procurar vida em rochas antigas, perfurar amostras de rochas, fazer vídeos de alta resolução, desenvolver máquinas voadoras em um local com gravidade 40% menor do que na Terra, enviar informações detalhadas de volta ao planeta e decolar de um ambiente extraterrestre", enumera. "No futuro, devemos esperar grandes retornos em desenvolvimentos comerciais da exploração de Marte e avanços que tragam novas conveniências e invenções para as pessoas."