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Nesta quarta-feira, o Santuário de Santa Luzia completa 240 anos. O templo está ligado à vida da minha família – e à minha também – desde a chegada à cidade, vinda de Lençóis, na Bahia, da baronesa Maria Alexandrina de Almeida Vianna, afilhada de dom Pedro II. Aliás, o imperador esteve lá. Desceu de barco o Rio das Velhas e se hospedou no Solar da Baronesa, que vem sendo restaurado para se tornar sede da Associação Comunitária de Santa Luzia.

A igreja faz parte de minha vida desde a infância, quando brincava em seu adro com meus primos. Depois, participei de todas as coroações da Virgem (sempre colocando a palma, nunca a coroa), vestida de anjo, com asas de penas brancas montadas por minha mãe. Minha parceira era a prima Maria da Conceição, com seus cabelos louros e cacheados que nunca consegui ter, por mais papelotes que fossem colocados, dias antes.

Outra obrigação que nós duas tínhamos era levar até a matriz as joias que seriam usadas pela imagem no dia da procissão – 13 de dezembro. Nunca me esqueço do brinco de brilhantes que, certo dia, levei. Apaixonei-me por ele em plena meninice.

Tanto que procurei e procurei joia parecida em Portugal, até achar uma semelhante.

Aliás, a igreja era danada de rica. Quando voltou para a Bahia, a baronesa entregou à minha bisavó parte de suas joias. Mulher sábia, antecipando qualquer disputa, ela destinou uma peça para cada neta. O que restou foi entregue ao padre José Tomás, o guardião do tesouro.

A joia de minha mãe foi um anel solitário de brilhante que nos valeu muito em tempos de necessidade. O restante, ninguém sabe, ninguém viu. Aliás, eu vi. Como tenho olhar especulativo sobre joias, houve tempo em que não resistia a elas.
Guardei na memória a beleza de muitas peças doadas à imagem, que posteriormente vi usadas por mulheres da sociedade. O padre sucumbira às ofertas e vendeu o tesouro...

Ao longo de minha vida, cuidei da matriz. Quando fui presidente do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha), consegui iniciar a restauração da igreja – comida de cupim e com o teto (aquele colonial, pintado) cheio de buracos de tiros. O padre da época espantava as pombas que entravam na nave com sua espingarda de chumbinho. O teto ficou todo furado.

Como o dinheiro era pouco, criei a Associação Cultural Comunitária e coloquei na presidência meu primo Márcio de Castro Silva, que abraçou a causa com toda dedicação. A partir da associação, foi formado um corpo de voluntárias, que trabalhou ativamente na restauração. Minhas primas, encabeçadas por Beata Almeida Teixeira, organizaram várias promoções em busca de fundos. Aliás, Beata é a responsável pelo figurino das imagens, roupas feitas com tecidos importados da Espanha.

Uma das tradições da família Teixeira da Costa é cuidar das imagens na época das procissões.
Na sexta-feira santa, sempre estou lá para cuidar do caixão onde o Senhor Morto é colocado depois do descendimento, no adro da matriz.

Os cuidados ficavam sempre a cargo de minha prima Naná Gabrich, que já se foi. Mas as filhas continuam mantendo a dedicação. Tanto que, até hoje, muitas peças de tecido usadas no leito de morte de Jesus são do tempo da baronesa. Restaurei a manta de filó com barrados em prata com motivos peruanos, uma peça de seda e fios de ouro cercada por renda de ouro. Gosto desse trabalho e do que posso fazer para a matriz, memória forte do meu passado.

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