Quem assistir ao belo filme de Angela Zoé sobre o cartunista, jornalista e ativista brasileiro Henrique de Souza Filho, o Henfil, em cartaz no Belas 3, arrisca-se a tomar um choque. Henfil – também o título do documentário – não foi apenas um oponente feroz da ditadura militar. Foi um cara muito inteligente e criativo. Angela não dispensa as entrevistas – Jaguar, Ziraldo, Lucas Mendes, Sérgio Cabral etc. “Mas eu não queria fazer um filme engessado, queria trazer o Henfil para a nova geração, que não o conhece.”
Sua sacada foi fazer com que um grupo de jovens, dentro do filme, crie os quadrinhos, os cartuns que vão revelar o personagem. Só isso já faz de Henfil um documentário que não se assemelha a nenhum outro do cinema brasileiro recente. E tem mais. “Em São Paulo, Rio e Belo Horizonte, sugerimos às pessoas que cheguem um pouco antes da sessão, porque criamos um conteúdo exclusivo em realidade virtual (VR).
Henfil se tornou referência para toda uma geração, nos anos de chumbo. Com seus cartuns no Pasquim, impôs personagens como Fradinhos, Graúna, o bode Orelana, o nordestino Zeferino e Ubaldo, o paranoico, com os quais fazia ácidas críticas ao regime. Como os irmãos Betinho (sociólogo) e Chico Mário (músico), era hemofílico. A própria mãe do Henfil se tornou uma personagem emblemática do período, celebrada até na música – por Elis Regina, na sua genial interpretação de O bêbado e a equilibrista.