A divulgação dos pré-indicados ao Oscar em nove categorias feita pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood na noite de segunda-feira (17) ratificou as expectativas em torno de Roma como favorito ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Produção original da Netflix dirigida por Alfonso Cuarón, o longa mexicano está entre os nove selecionados (veja lista nesta página). A lista será reduzida a cinco concorrentes em 22 de janeiro, quando serão conhecidos também os indicados nas demais categorias.
A ambição da Netflix é ver Roma disputando não apenas o Oscar de filme estrangeiro, mas também competindo nas chamadas categorias principais – melhor filme, direção, roteiro e fotografia (funções que Cuarón acumulou). As três indicações do longa ao Globo de Ouro (melhor filme em longa estrangeiro, melhor roteiro e melhor diretor) só fizeram corroborar as expectativas.
Cuarón não é um novato no Oscar. Seu longa anterior, o blockbuster americano Gravidade (2013), estrelado por Sandra Bullock e George Clooney, venceu em sete categorias, incluindo as de melhor filme e diretor.
Em cartaz, ou melhor, disponível no catálogo da Netflix desde sexta-feira passada, Roma foge de algumas características comuns aos preferidos pela Academia e pelo grande público, além do fato de não ser exibido em um circuito comercial tradicional.
Na história, baseada nas memórias de infância do diretor que tem como personagem principal a empregada doméstica Cleo (Yalitza Aparicio) não há um clímax dramático. As sequências – em preto e branco – tampouco são marcadas pelo movimento. Ao longo de suas 2h15min, a ênfase fica em detalhes, configurando uma abordagem sensível em relação aos personagens e suas circunstâncias. A tentativa de Cuarón, segundo ele afirma num material divulgado pela Netflix, é falar sobre “uma família, uma cidade e um país específicos, mas também sobre todas as coisas e sobre a experiência humana”.
Anteontem, a Netflix promoveu uma entrevista ao vivo com Cuarón, transmitida pelo YouTube.
Roma gira em torno de Cleo, que trabalha para uma família de classe média alta cuja casa fica no bairro da Cidade do México chamado Roma. O ano é 1970, e ela compartilha sua rotina com Adela (Nancy García), outra empregada da família, que tem quatro crianças. Cleo desenvolve com elas uma relação de afeto e intimidade superior à que elas têm com própria mãe, Sofía (Marina de Tavira). O casal tenta esconder dos filhos que está em processo de divórcio. Cleo, por sua vez, se envolve em um relacionamento complicado com Fermín (Jorge Antonio Guerrero), no qual o abandono paterno também cumpre um importante papel.
PROTESTOS
Os dramas particulares dos personagens têm como pano de fundo a série de protestos estudantis duramente reprimidos pelo grupo militar conhecido como Halcones, culminando no massacre conhecido como El Halconazo. Depois de resistir à exigência do Festival de Cannes para lançar o filme no circuito de salas da França (decisão que implicou a retirada de Roma da competição pela Palma de Ouro), a Netflix reviu sua estratégia e decidiu fazer um lançamento restrito em cinemas, para cumprir os requisitos da Academia de Hollywood.
No Brasil, apenas Rio de Janeiro e São Paulo receberão o lançamento na tela grande, em sessões gratuitas.
As dicas são desativar a função “motion smoothing” ou “interpolation”, configurar a cor em “normal”, desabilitando os modos “quente” ou “frio” e ativar a visualização em HDR, caso o aparelho esteja apto. Até passos mais avançados, como regulagem do brilho estão disponíveis. A exibição do filme em dispositivos particulares em detrimento da telona vem sendo motivo de polêmica há algum tempo.
Em resposta às críticas por não ter uma entrada ampla em salas de cinema, o diretor de conteúdo da Netflix, Ted Sarandos, ironizou a situação. Em declarou que pode ser facilmente visto nas salas “multiplex”, pagando seus próprios ingressos. “Quem eu nunca vejo lá são diretores e executivos dos grandes estúdios”, alfinetou. Sarandos segue negando a versão cada vez mais difundida de que a Netflix é uma ameaça à sobrevivência das salas de cinema.
Competem com Roma a indicação final à disputa de melhor filme em língua estrangeira o japonês Assunto de família, de Hirokazu Kore-eda, vencedor da Palma de Ouro neste ano; o polonês Guerra Fria, de Pawel Pawlikowski, que em 2015 levou a estatueta por Ida; o colombiano Pássaros de verão; o dinamarquês A culpa; o alemão Never look away; o cazaque Ayka; o libanês Cafarnaum e o sul-coreano Em chamas.
O grande circo místico, de Cacá Diegues, era o aspirante brasileiro a uma indicação. A última vez em que o Brasil apareceu entre os pré-selecionados foi em 2008, com O ano em que meus pais saíram de férias, de Cao Hamburger. Na indicação final, o hiato se estende desde 1999, quando Central do Brasil, de Walter Salles, perdeu a estatueta para A vida é bela. Em 2004, Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, teve quatro indicações nas categorias principais, depois de ver sua tentativa de concorrer a melhor filme em língua estrangeira ser frustrada.
OSCAR ESTRANGEIRO
Confira os nove pré-selecionados pela Academia de Hollywood
>> Pássaros de verão, de Ciro Guerra (Colômbia)
>> A culpa, de Gustav Möller (Dinamarca)
>> Never look away, de Florian Henckel von Donnersmarck (Alemanha)
>> Assunto de família, de Hirokazu Kore-eda (Japão)
>> Ayka, de Sergey Dvortsevoy (Cazaquistão)
>> Cafarnaum, de Nadine Labaki (Líbano)
>> Roma, de Alfonso Cuarón (México)
>> Guerra Fria, de Pawel Pawlikowski (Polônia)
>> Em chamas, de Chang-Dong Lee (Coreia do Sul)
BRASIL EM BERLIM
Se o Brasil ficou mais uma vez fora do Oscar, no próximo Festival de Berlim o país já emplacou dois longas na mostra Panorama. O festival anunciou ontem a seleção de Greta, de Armando Praça, e Estou me guardando para quando o carnaval chegar, de Marcelo Gomes.
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