“Adivinha, doutor, quem tá de volta na praça? Planet Hemp! Ex-quadrilha da fumaça.” O verso da segunda faixa do álbum A invasão do sagaz homem fumaça (2000) rima com vários momentos de uma das bandas mais emblemáticas e polêmicas do rock brasileiro, cuja trajetória é marcada por idas e vindas. A história do Planet Hemp, cuja gênese chegou recentemente ao cinema como ficção, volta à praça, mas desta vez sob a narrativa documental, na biografia escrita pelo jornalista Pedro de Luna. Neste sábado (9), ele participará de duas sessões de autógrafos em BH, com direito a show.
Autor de outras publicações sobre o tema, como Niterói rock underground 1990-2010, Pedro teve acesso a vasto material sobre o grupo criado por Marcelo D2, Skunk, BNegão, Rafael Crespo, Bacalhau e Formigão. Ao perceber que a força da banda pedia uma biografia exclusiva, nasceu Planet Hemp: mantenha o respeito, lançado em dezembro pela editora Belas Letras.
Em 496 páginas, o livro mostra como tudo começou, as influências musicais de seus integrantes, como eles se conectaram e toda a caminhada até a banda se tornar referência pela mistura do punk rock com hip-hop, pela contestação social e a militância declarada em defesa da legalização da maconha.
“Foi uma feliz – ou infeliz – coincidência o livro ter saído agora, neste contexto de conservadorismo, repressão e ascensão da extrema-direita. Parece distante, mas a gente sabe que há 25 anos havia um cenário em que o Planet Hemp era uma banda muito perseguida. Até os fãs eram perseguidos”, diz Pedro. “Havia coisas absurdas, como ser abordado pela polícia e ter de tirar a camisa da banda para não ir preso. Isso mostra o quanto o discurso deles ainda é atual, sempre expondo as mazelas da sociedade e os preconceitos de gênero, raça e classe econômica”, afirma Pedro de Luna.
BH O complicado contexto dos primórdios da banda está presente em vários fatos resgatados pelo biógrafo.
“Esse é um dos episódios que eu mesmo não conhecia antes de começar a escrever o livro. Consegui ouvir várias versões deste fato. Técnico de som, músicos e outras pessoas narram a história.
Outro fato histórico do Planet em BH: o primeiro show do grupo depois da morte do vocalista Skunk, em 1994, ocorreu na Praça da Estação.
ENERGIA Com muitas histórias – parte delas bem controversas –, o autor fez questão de incluir a linha do tempo nas últimas páginas, registrando os acontecimentos mais importantes ao longo de 25 anos de trajetória. Há vasto acervo de imagens, como fotos e cartazes.
“Esse trabalho consumiu dois anos de trabalho e energia. Como tudo é dos anos 1990, muita coisa não está na internet. Pesquisei arquivos de amigos, parentes e fãs, além de várias entrevistas. Tem gente que tocou no Planet Hemp e ninguém sabe. É o caso do Seu Jorge, percussionista do terceiro disco”, revela o escritor, referindo-se ao álbum A invasão do sagaz homem fumaça.
No embalo da efeméride dos 25 anos da banda, celebrados em 2018, o filme Legalize já – A amizade nunca morre, estreou em outubro.
“O filme é centrado na amizade do D2 com o Skunk. Como é cinema, isso é romantizado. No filme, o primeiro encontro deles é fugindo da polícia, uma cena tensa. Na realidade, não foi assim. Foi mais tranquilo, uma coisa normal, no metrô. Fiz questão de contextualizar a cena musical daquele tempo. É importante entender essa cena para compreender o Planet Hemp”, destaca.
“Não tinha boates tocando rock e hip-hop no Rio, era outra atmosfera”, observa. “A galera que veio a criar o Planet Hemp frequentava o Point Punk. Foi ali que eles conheceram DJs e tiveram contato com o punk e outras ideias musicais. O filme não mostra isso”, diz Pedro.
SKUNK O vocalista Skunk, antes de conhecer o rap, transitou por vários estilos de rock, até mesmo pelo rockabilly.
Criativo, inteligente e antenado, Skunk foi amigo e fonte de inspiração para D2. Ele morreu em 1994, de Aids. “A história deles é muito boa. São caras que cortaram um dobrado só por causa do que cantavam. Eram amigos, mas brigavam muito.
PLANET HEMP: MANTENHA O RESPEITO
• De Pedro de Luna
• Belas Letras
• 496 páginas
• R$ 70
• Sessão de autógrafos neste sábado (9), das 11h às 14h. Livraria Quixote. Rua Fernandes Tourinho 274, Savassi. Informações: (31) 3227-3077.
• Sessão de autógrafos e shows neste sábado (9), a partir das 21h, n’A Obra Bar Dançante. Rua Rio Grande do Norte, 1.168, Savassi. Vão se apresentar os rappers Roger Deff e Matéria Prima. Ingressos: R$ 20 (até 22h30) e R$ 30. Informações: (31) 3215-8077..