No papel de Raymond Reddington, o criminoso com agenda própria que se une ao FBI para caçar criminosos em The blacklist, James Spader pode exercitar vários lados: ser frio e impiedoso, amedrontando quem está em volta, e também terno e sensível, além de dono de um senso de humor peculiar. “Se era para fazer 22 episódios por ano de uma série de canal aberto que duraria um tempo, isso era exatamente o que estava procurando, algo fluido em termos de tom e de linhas narrativas”, conta Spader, de 58 anos, por telefone.
Mas uma reviravolta no fim da temporada passada, a quinta, fez com que Reddington, Red para os íntimos, enfrentasse novos desafios. Pelo papel, o ator foi indicado a dois prêmios Globo de Ouro. “Para continuar interessante, uma série tem de surpreender o público”, garante Spader. “Os relacionamentos dentro da história precisam sempre evoluir e mudar, ter altos e baixos. Os personagens não podem ficar acomodados. É preciso conflito e excitação.”
Como quem viu a quinta temporada sabe (atenção para os spoilers!), Red não é o pai da agente do FBI Elizabeth Keen (Megan Boone), mas um homem se fazendo passar por ele. O conteúdo da famosa sacola de viagem foi revelado: os ossos do verdadeiro Raymond Reddington. A revelação, claro, pode mudar a relação de Red e Elizabeth na sexta temporada, que já está no ar nos EUA e chega em março ao canal AXN no Brasil.
“No fim, por mais conflituoso que seja esse relacionamento, Elizabeth formou uma conexão com esse homem. Esse relacionamento e o interesse pelos personagens, na verdade, são as coisas importantes, mais até do que o enigma sobre a identidade de Red”, diz o ator.
Na entrevista por telefone com a participação de outros jornalistas, Spader se mostrou tão calmo – e enigmático, mas certamente bem menos assustador – quanto seu personagem, dando longas respostas e verificando se todos conseguiram fazer suas perguntas, além de apontar o fato de que as mulheres eram maioria entre os repórteres presentes.
O que você admira em Raymond Red Reddington?
Não sei se é bem admiração ou apenas um sentimento de constante surpresa e satisfação de interpretar certos aspectos dele. Sempre fico surpreso como ele pode ter compaixão e ser sensível. Ele tem um grande amor e apreço pelo mundo. Porque Red nunca se esquece do quanto a vida é preciosa. Então, ele sente amor, afeição e tem senso de humor, mas também é implacável e às vezes aterrorizante.
Como fica o relacionamento de Reddington com Elizabeth depois dos acontecimentos da quinta temporada?
Como sabemos, Elizabeth faz uma descoberta surpreendente sobre Reddington no fim da última temporada. A relação entre os dois fica cheia de questionamentos, confusão e conflito. Mas posso dizer que no começo da sexta temporada as coisas mudam de novo, graças a ações tomadas por Elizabeth e sua meia-irmã Jennifer. E tudo fica terrível para Elizabeth e Red. É algo muito interessante, que tinha esperança de que um dia acontecesse, desde a primeira temporada. O que está se passando com os personagens agora é mais interessante do que o relacionamento deles no passado. Porque, queira ou não, Elizabeth tem uma relação com esse homem, não importa quem ele seja. No fim, é isso que segura o espectador, mais do que o mistério sobre a identidade de Reddington.
Quais são os pontos altos da nova temporada?
Fiquei muito empolgado com o final da temporada passada e também agora, tendo filmado metade da sexta, porque me fez ter certeza de trabalhar numa série que tem sucesso em ser capaz de constantemente mudar sua forma, surpreendendo os espectadores e a nós mesmos. Sempre variando de tom, indo do emocionante ao intenso e do aterrorizante ao empolgante. Fazer isso, ao longo de tanto tempo, é difícil. Na sexta temporada, tudo está diferente. Jogamos fora o que veio antes. O ambiente que Reddington enfrenta agora é totalmente diferente. Lembro-me de ler o primeiro roteiro do piloto e pensar que a série poderia se transformar e tomar vários rumos. E foi isso o que aconteceu.
Seu personagem está sempre dois passos adiante dos outros.
Bem, estava falando sobre isso com um de nossos diretores, esses dias. Ele sempre parece estar dois passos adiante, mas, para mim, isso é um engano. Muitas vezes, ele só está um passo adiante ou talvez um milímetro adiante. E, às vezes, ele está atrás. Ainda assim, os outros correm o mais rápido que conseguem, porque nem têm a noção de que ele pode estar um pouco atrás, sempre presumem que Red está adiante. E ele está bem à vontade nessa posição, não precisa estar sempre adiante. Ele tem a autoconfiança de que vai se sair bem em qualquer situação. Red não teme sua própria mortalidade, então não opera na chave do medo. E isso é muito libertador. Na nossa vida moderna, é muito difícil não ser afetado pelo medo ou desviado de seu caminho por conta do medo. Hoje, o medo é a arma usada por muita gente para conseguir o que quer.
Muitos mistérios e questões da série ficaram sem respostas – por exemplo, o que Red sussurrou para Kirk. Os fãs podem ter confiança de que todas essas questões serão respondidas?
Há a intenção dos roteiristas, dos criadores e minha de trazer o público conosco nessa jornada e mantê-lo conosco até o fim. Ao final, o espectador vai poder voltar ao primeiro episódio, assistir a tudo de novo e ver que tudo fazia sentido desde o princípio.
Tudo chega ao fim um dia. Se a decisão estivesse nas suas mãos, deixaria a série acabar com Red ainda sendo um mistério ou mostraria quem ele realmente é?
Dá para ser as duas coisas. Criamos um personagem que você pode conhecer e não conhecer ao mesmo tempo. Ele é alguém com quem você pode até se sentir à vontade, mas sem perder de vista que também dá medo. Red pode mudar rapidamente e algo pode acontecer.
Se você pudesse viajar no tempo e dar um conselho a si mesmo no início da carreira, qual seria?
Economize dinheiro! Não estou dizendo isso para fazer graça. Realmente, estou falando de verdade. Um ator mais velho com quem trabalhei quando jovem me disse: ‘Economize seu dinheiro’. Ri e, claro, gastei todo o salário. Economizar dinheiro permite a você fazer os trabalhos que quiser, escolher os papéis pelas melhores razões. Isso ajuda muito na carreira, para o ator não ter de tomar decisões com base no dinheiro. (Estadão Conteúdo)