“O mineiro é um combinado de coisas que estão em Belo Horizonte”, afirmou, em fevereiro de 2014, ao Estado de Minas, Luís Otávio de Melo Carvalho. Para os belo-horizontinos, Luís Otávio será sempre o Tavito da Rua Ramalhete. A rua de cinco quarteirões, que tem início no Anchieta e termina na Serra, o inspirou a compor (em parceria com Ney Azambuja) os versos “De uma rua e seus ramalhetes/O amor anotado em bilhetes/Daquelas tardes”.
Longe da rua que tanto cantou, Tavito morreu ontem, aos 71 anos. Ele estava internado no Hospital Sancta Maggiore, em São Paulo, para se tratar de um câncer no pescoço. Seu corpo será cremado hoje na capital paulista.
Ao longo de uma carreira que teve início na década de 1970, ele compôs muitas outras canções – Casa de campo, com Zé Rodrix, eternizada na voz de Elis Regina, é a mais conhecida delas. Nascido em Belo Horizonte, Tavito foi integrante do Clube da Esquina. Foi violonista do Som Imaginário, grupo criado ainda nos anos 1970 para acompanhar Milton Nascimento.
Mais tarde, migrou para a publicidade – criou 3 mil peças, entre jingles e trilhas para emissoras (como o SBT/Alterosa) e comerciais, como Vem pra Caixa/Você também. Muita gente não sabe, mas o jingle Marcas do que se foi, composto para o governo federal em plena ditadura militar, foi criado por ele.
Tavito admitiu, anos mais tarde, que não gostava de assumir a autoria da música. “Já estávamos no período de distensão política. Se não fizesse, outros fariam”, disse o compositor, que chegou a ser preso durante a ditadura militar.
COPA Ainda compôs, com Aldir Blanc, Coração verde amarelo, que virou jingle das transmissões da TV Globo na Copa do Mundo de 1994: “Eu sei que vou, vou do jeito que eu sei, de gol em gol, com direito a replay, eu sei que vou, com o coração batendo a mil, é taça na raça Brasil!”.
Mesmo que a publicidade o tenha afastado da carreira na música, Tavito retomou recentemente a produção autoral. Em 2014, a convite do cantor e compositor Affonsinho, lançou o álbum Mineiro, com repertório que mesclou canções inéditas e regravações. Na época, ele contou que, quando se apresentava em locais em que era pouco conhecido, costumava recorrer a clássicos de sua autoria para mostrar ao público quem estava no palco.
Amigos e parceiros de Tavito lamentaram a morte do músico nas redes sociais. O compositor e maestro Wagner Tiso, companheiro de Som Imaginário, prestou sua homenagem.
Outros artistas mineiros e, principalmente, do Clube da Esquina, como Beto Guedes, também se manifestaram. “Dia de uma tristeza imensa com a partida do amigo Tavito Carvalho. Grande amigo, parceiro, músico e poeta extraordinário. Você fará muita falta neste mundo com sua alegria, simplicidade e generosidade. Meus sinceros sentimentos à Celina, Júlia e toda a família. Vai na paz, amigo!”, escreveu Beto no Twitter.
O cantor e compositor Lô Borges publicou um texto ao lado de uma foto com Tavito. “Partiu hoje meu grande e talentoso amigo Tavito, que tanto contribuiu para a música popular brasileira e, em especial, para a música do Clube da Esquina. Descanse em paz, querido amigo!”.
Luiz Carlos Sá também lembrou o amigo e o último encontro, que ocorreu no Natal. “Adeus, amigo querido, parceiro, companheiro, produtor, causador, cabeça única, adeus Octávio, adeus Tavito. Ainda no Natal estávamos todos aqui em casa, pensando em novas músicas e agora esse golpe. Não vamos te esquecer, não vamos recusar a lembrança para evitar o sofrimento, vamos segurar a barra e tocar sempre suas músicas. Você estará aqui perto de nós, sempre...”.