As sessões de Um panorama visto da ponte neste sábado (9) e domingo (10) em Belo Horizonte terão direito a aplauso em dose dupla: primeiro, pela escolha e montagem de um clássico do teatro em tempos de crise; segundo, pela abertura das comemorações dos 80 anos de Sérgio Mamberti, que estrela o espetáculo de autoria do norte-americano Arthur Miller (1915-2005) ao lado de Rodrigo Lombardi, num elenco de oito atores.
“O aniversário será em 22 de abril e vou começar as celebrações por Belo Horizonte, cidade onde passei férias na infância, tenho amigos e guardo histórias”, diz Mamberti, do alto de seis décadas de carreira, com 80 peças, 23 novelas, muitas minisséries, gestão pública na área da cultura e incursões pelas artes plásticas. Com uma autobiografia encaminhada, Mamberti deve também expor seus trabalhos como artista plástico em São Paulo, em mostra que incluirá fotos e vídeos.
Durante o carnaval, mergulhado em filmes mais antigos, com destaque para os dirigidos por Martin Scorsese, Mamberti conversou com a reportagem sobre sua ligação com o texto de Miller e a atualidade de Um panorama visto da ponte. Ele assistiu a uma encenação do texto pela primeira vez em São Paulo, em 1959, em montagem do Teatro Brasileiro de Comédia (TBC), com Nathalia Timberg, Sérgio Brito e Leonardo Villar no elenco.
“A estreia foi um marco. Tive oportunidade de ver os ensaios, pois era aluno da Escola de Arte Dramática (EAD). Fico satisfeito em participar da remontagem de um clássico, já que hoje prevalecem as criações coletivas. Depois de muitas tentativas, consegui comprar, com meu filho Carlos, os direitos de A morte do caixeiro viajante, também de Miller, para montar o texto este ano, embora sem estar em cena. Um ator já está sendo contatado para o papel-título”, conta Mamberti, natural de Santos (SP). “A retomada dessa dramaturgia é muito importante.”
UNIVERSAL
Sucesso de público e crítica em São Paulo e indicada ao Prêmio Shell, entre outros, Um panorama visto da ponte estreou em agosto do ano passado.
“A atualidade da peça escrita em 1955 se dá, principalmente, por enfocar uma tragédia contemporânea mundial, a imigração e todos os aspectos da sua legalidade. Miller mostra também a delação, considerada por ele ‘ato execrável’ e sempre executada em benefício próprio.” O drama se passa na época do macartismo. Eram os tempos da chamada ameaça vermelha (1950-1957), com terrível repressão política aos comunistas e patrulha comandada pelo senador republicano Joseph McCarthy.
Rodrigo Lombardi é Eddie Carbone, trabalhador das docas do bairro Brooklyn e personagem de um cenário de pobreza. Ele e a mulher, Beatrice (Patrícia Pichamone), cuidam da sobrinha órfã Catherine (Gabriella Potye), pivô da tragédia iniciada quando o casal abriga dois parentes distantes, recém-chegados ilegalmente ao país, fugindo da miséria na terra natal. A paixão de um deles pela garota desata a sucessão de acontecimentos trágicos.
Um panorama visto da ponte
De Arthur Miller. Direção: Zé Henrique de Paula. Com Rodrigo Lombardi, Sergio Mamberti, Antonio Salvador, Bernardo Bibancos, Gabriel Mello, Gabriella Potye, Patricia Pichamone e William Amaral. Sábado (9), às às 21h, e domingo (10), às 19h. Cine Theatro Brasil Vallourec (Avenida Amazonas, 315, Centro). Ingressos: R$ 60 (inteira) e R$ 30 (meia), à venda na bilheteria e pelo site www.eventim.com.br.
“Há uma onda de conservadorismo no Brasil e no mundo. Estamos vivendo, aqui, uma regressão em vários aspectos. Temos um governo sem conteúdo, com manipulação das informações. É lamentável ver o fim do Ministério da Cultura, assim como a extinção da pasta do Trabalho. Fico muito preocupado com a questão do preconceito”
“Meu tio-avô, Terêncio Leite, era dono da Casa das Músicas, que ficava na Avenida Amazonas. Passei férias em Belo Horizonte, longas, de 15 a 20 dias, e conheci, quando criança, o Cine Brasil, onde vamos nos apresentar neste fim de semana. Tenho grandes amigos mineiros, um deles foi Flávio Márcio, autor de Réveillon, montagem da qual participei (1975)”
“Outro dia fui ver minha amiga Nathalia Timberg, no teatro, e ela me recebeu com um abraço carinhoso, dizendo: ‘Meu mordomo querido!’ (Em alusão ao personagem Eugênio, de Vale tudo). Mas o doutor Victor, do Castelo rá-ti-bum, um programa muito inteligente, também ficou na memória das pessoas, principalmente das crianças”
. Sérgio Mamberti, ator
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