Jornal Estado de Minas

Projetos de residência abrem as portas para músicos e artistas visuais

Conteúdo para Assinantes

Continue lendo o conteúdo para assinantes do Estado de Minas Digital no seu computador e smartphone.

Estado de Minas Digital

de R$ 9,90 por apenas

R$ 1,90

nos 2 primeiros meses

Utilizamos tecnologia e segurança do Google para fazer a assinatura.

Experimente 15 dias grátis


Quando Oscar Niemeyer projetou, nos anos 1940, o cassino que foi a primeira obra do Conjunto Arquitetônico da Pampulha, tinha em mente um Brasil diverso, onde reinasse a justiça social. Quase oito décadas depois, o espaço – agora museu – abriga uma das principais residências artísticas do Brasil. A edição de 2019 do projeto Bolsa Pampulha optou pela diversidade, selecionando cinco autores de Minas e cinco de outros estados – negros, indígenas, brancos, homens e mulheres.

A bolsa em artes visuais contempla Alex Oliveira (BA), Guerreiro do Divino Amor (RJ), David de Jesus do Nascimento (MG), Dayane Tropikaos (MG), Gê Viana (MA), Sallisa Rosa (GO), Sara Lana (MG), Simone Cortezão (MG), Ventura Profana (BA) e Desali (MG). “Estou muito feliz de compor esse grupo, que tem artistas negros, trans e indígenas. Sempre desejei fazer essa residência. Ser selecionado demonstra o momento de amadurecimento da minha pesquisa, que ganhou força com o tempo”, afirma Desali, de 35 anos.

Conhecido por suas intervenções urbanas, o mineiro destaca em sua obra aspectos da vida de moradores e frequentadores de territórios das cidades. “Gosto de trabalhar com a história do lugar, com as pessoas que vivem lá. Meu projeto foca na história da Pampulha, nos trabalhadores que construíram o Museu de Arte da Pampulha”, afirma.

Desali trabalha com diferentes linguagens (pintura, foto, vídeo), mas, no caso do Bolsa Pampulha, sua intervenção/obra nascerá do processo de partilha com os outros selecionados.

“O aspecto bom da residência é a possibilidade de estar envolvido com outros pesquisadores. Temos de nos abrir para a experiência e ganhar com aquela coletividade ali”, explica.

Na avaliação de Desali, a diversidade almejada pelo Bolsa Pampulha deve estar expressa tanto nos temas tratados quanto nos perfis e trajetórias dos selecionados. Isso já dá nas linhas curatoriais e no fato de a residência ser conduzida por três mulheres – Mônica Hoff, Beatriz Lemos e Júlia Rebouças.

Além de estimular a produção e pesquisa em artes visuais, a Bolsa pretende contribuir para o processo formativo da comunidade artística. Também serão realizados encontros abertos ao público.

Pela primeira vez, a Fundação Municipal de Cultura (FMC) abriu concorrência pública para a indicação da entidade coordenadora do Bolsa Pampulha. O Centro de Arte e Tecnologia (JA.CA) foi selecionado, por meio de edital, para atuar como parceiro tanto na Bolsa quanto no 33º Salão Nacional de Arte.

“A seleção levou em conta critérios como contemporaneidade, caráter investigativo e abordagem de questões atuais”, explica Francisca Caporali, coordenadora artística do JA.CA. De acordo com ela, foram escolhidos artistas com práticas e trajetórias distintas. “Esse grupo trata de questões urgentes, como política, paisagem e experimentação técnica”, afirma Francisca.

ORQUESTRA Na área musical, a Orquestra Ouro Preto lançou projeto de residência para novos talentos, por meio da Academia Orquestra Ouro Preto, oferecendo 19 vagas para violinistas, violistas, violoncelistas e contrabaixistas.

Os aprovados ganharão bolsa de R$ 700, além de material didático.
Atividades presenciais serão ministradas por integrantes e professores da orquestra, com dois ensaios semanais, um ensaio de naipe e um ensaio geral no Sesc Palladium, em Belo Horizonte.

Rodrigo Toffolo, diretor artístico da Orquestra Ouro Preto, diz que a Academia tem o objetivo de promover a inclusão social. “Queremos incutir nesses jovens talentos a experiência da música como um modo de vida possível, criando oportunidades de inserção deles no mercado da música profissional, por meio de um trabalho prático e, sobretudo, humano”, afirma.

Três perguntas para
Rodrigo Toffolo
maestro da Orquestra Ouro Preto


Qual é a importância da Academia para a renovação da Orquestra Ouro Preto?
A Academia Orquestra Ouro Preto tem como objetivo promover a experiência da prática orquestral, estendendo-a a jovens talentos da música de concerto. Esse processo caminha junto do maior amadurecimento musical desses alunos, que, ao seguirem uma carreira artística, procuram oportunidades de trabalho nas orquestras mineiras e brasileiras. Uma delas, certamente, é a própria Orquestra Ouro Preto. Dar aos jovens essa experiência conjunta abre espaço e possibilidades de impacto em uma renovação no mercado musical, atingindo grupos e formações do Brasil e do exterior.

O projeto visa à inclusão. O que o perfil dos jovens selecionados representa em termos de diversidade?

Durante o processo seletivo, foram observados aspectos musicais, humanos e sociais de todos os participantes. A formação final preza pela diversidade e pluralidade social brasileira. Entre nossos bolsistas – 21 ao todo –, temos 12 mulheres e nove homens, de 18 a 28 anos.
Do processo seletivo ao resultado final, tivemos o cuidado de, por meio de dispositivos como o questionário socioeconômico, observar aspectos sociais, assessorados por uma assistente social, fato que nos permitiu alcançar pluralidade e diversidade.

Como a comunidade poderá acompanhar esse processo de residência artística?

A Academia Orquestra Ouro Preto fará concertos durante 2019, momento em que teremos a possibilidade de observar não só a evolução musical, mas o crescimento artístico dos alunos e alunas, a partir de um vasto repertório vinculado à música de concerto e do apoio de músicos convidados a trabalhar junto a nossos bolsistas. Além disso, ensaios abertos ao público farão parte do ano artístico da Academia. Por fim, pensando no público majoritariamente jovem, usuário de redes sociais, estamos iniciando uma série de lives em nossas plataformas digitais para aproximar esse público da Academia e da própria Orquestra Ouro Preto..