Oferecer um levantamento abrangente da formação de Minas Gerais – dos tempos pré-históricos à contemporaneidade. Esse é o propósito do livro História geral de Minas (Legraphar), com prefácio do escritor Rui Mourão. Os autores são João Antônio de Paula, diretor do Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional da Universidade Federal de Minas Gerais (Cedeplar/UFMG), o jornalista José Maria Rabêlo, o sociólogo e ensaísta Fernando Correia Dias e Ricardo Moura Faria, coordenador do curso de história do UNI/BH.
O livro aborda a evolução de Minas a partir da chegada de seus primitivos habitantes, originários da África, há cerca de 13 mil anos. Figura emblemática desse período é Luzia, o mais antigo fóssil humano das Américas, encontrado em Lagoa Santa, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Considerada “a primeira brasileira”, Luzia tem 11,4 mil anos – seu crânio foi resgatado, em outubro, em meio aos escombros do prédio do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, destruído por um incêndio em setembro de 2018.
Posteriormente a Luzia, o território mineiro foi ocupado por indígenas, dizimados pelos bandeirantes a partir do século 17.
Os anos 1700 ganharam destaque especial na obra. Nesse período, Minas se tornou um dos mais importantes polos da economia mundial, graças a suas ricas reservas de ouro e diamantes. Elas financiaram a reconstrução de Lisboa, destruída pelo terremoto de 1755, e também contribuíram para viabilizar a Revolução Industrial, na Inglaterra, ponto de partida do capitalismo moderno.
O livro chama a atenção para o barroco e o processo da Inconfidência Mineira. Os autores abordam a consolidação do Brasil como nação, sobretudo depois da abolição da escravatura e da Proclamação da República. Nos séculos 20 e 21, processos de industrialização e urbanização projetaram mundialmente o país. Minas Gerais liderou rankings econômicos brasileiros, participando ativamente de fatos que mudaram a história do país – Revolução de 1930, Estado Novo, o regime militar e a redemocratização, por exemplo.
ERRO O jornalista José Maria Rabêlo diz que a história de Minas “sempre foi contada de maneira errada” e esse é um dos motivos para o lançamento do livro.
“Acho muito esquisito que essa história começasse com a chegada dos bandeirantes, no século 17. Uai, antes não havia ninguém? Aqui era um deserto? Essas eram sempre as minhas perguntas. Aí, diziam: ‘Uai, havia os índios!’. Isso não me convencia”, afirma.
Os índios, enfatiza o jornalista, são fundamentais para a formação de Minas. “Qual era a história deles? Vieram da África? Como? Na realidade, essa longa história começa há 10 mil ou 12 mil anos. O povo da Luzia veio do Norte da África, passou pela Ásia e chegou à América do Sul. Brasil e Argentina foram os últimos países a serem povoados”, lembra. E adverte: “Já havia gente aqui antes dos bandeirantes. A história que se ensina nas escolas sobre o assunto está errada.” Rabêlo também destaca a importância dos negros na formação do estado.
Ricardo de Moura Faria ficou feliz em receber o convite de Rabêlo para participar do projeto. Foi encarregado do capítulo final, relativo ao século 20 e ao início dos anos 2000. “Particularmente, não sou especialista em história de Minas Gerais, embora já tenha escrito um livro sobre o tema em parceria com a professora Helena Guimarães Campos, publicado em 2006 pela Editora Lê. Também organizei o Dicionário ilustrado da Inconfidência Mineira, que foi distribuído gratuitamente às escolas estaduais”, conta.
Autoral O professor ressalta que não há interpretação única da história. “Fiz um capítulo autoral, estou aberto a críticas. O que ali está é a minha visão particular da história mineira. Sei que existem outras, mas um debate historiográfico não caberia nesse livro. Ele se tornaria essencialmente acadêmico e não era esse o objetivo”, afirma.
Em sua análise, Faria enfatiza o papel de Minas em fases emblemáticas da história do país, seja como protagonista da política do café com leite e da República Velha, seja nos momentos em que Juscelino Kubitschek e Itamar Franco governaram o Brasil.
“Abordo aspectos econômicos, dando ênfase ao crescimento da indústria a partir dos anos 1970, mas sem ignorar o extrativismo mineral e a agropecuária. Aspectos sociais e culturais também foram levados em conta: a urbanização, o êxodo rural, as lutas sociais, os direitos dos trabalhadores industriais conquistados com dezenas de greves, a luta das mulheres para garantir seus direitos”, resume.
“Concluímos com uma análise das questões culturais, falando um pouco do teatro, cinema, dança, música erudita e popular, artes plásticas, literatura, ciência e festas populares”, diz Faria.
HISTÓRIA GERAL DE MINAS
• De José Maria Rabêlo, João Antônio de Paula, Fernando Corrêa Dias e Ricardo Moura Faria
• Editora Legraphar
• 392 páginas
• Preço sugerido: R$ 60