Se o passado demarcado, em 2018, com Vingadores: Guerra infinita pode ser relativo – com a esperada (e possível) reversão de mortes de heróis, o futuro, com o novo longa Vingadores: Ultimato, promete ser épico. Estreia nesta quinta-feira (25) o 22º filme da saga que a Marvel transformou numa mina de ouro.
A heroína improvável é a personagem Nebulosa (Karen Gillan). Para se ter uma ideia do poder do vilão Thanos, pai de Nebulosa e empenhado em unir seis pedras de poderes diferenciados, com um simples estalar de dedos no longa anterior, ele dizimou uma penca de heróis e liquidou metade da humanidade. É esse o cara que o grupo de heróis sobreviventes vai enfrentar em Vingadores: Ultimato. “Fizemos uma escolha séria ali. Mas acho que o público gostou disso”, afirma Robert Downey Jr. (Tony Stark/Homem de Ferro).
Os heróis remanescentes estão lidando com sentimentos profundos, segundo os roteiristas Christopher Markus e Stephen McFeely. “O filme questiona qual o preço do heroísmo, qual o custo de fazer a coisa certa face à perda e ao sofrimento”, disse McFeely. Segundo ele, o final de Guerra infinita não é um terminou num “cliffhanger” (um suspense para deixar o público sedento pela continuação).
“É uma tragédia. Não existe dúvida em relação ao que houve. Você não gosta do que ocorreu, mas ocorreu. Então achamos que uma narrativa madura no filme seguinte começaria de forma honesta, lidando com o que houve. Nenhuma produção de super-herói jamais fez isso por mais de cinco minutos antes da cena de ação.” Então isso significa mais drama e menos ação? “É algo diferente”, disse Christopher Markus. McFeely emendou: “É ambicioso. Por isso a duração de três horas”.
Como entrega o próprio título, o longa (ápice da Saga do infinito) condensa advertência e retaliação. A primeira apresentação dos Vingadores como um grupo se deu em 2012. De lá para cá, astros como Chris Evans (Capitão América), Mark Ruffalo (Hulk), Chris Hemsworth (Thor) e Scarlett Johansson (Viúva Negra) mantêm-se unidos para deixar o mundo livre de vilões. Agora, a vingança será maior contra o nefasto Thanos.
Sem maiores compromissos em seguir fielmente os quadrinhos, a franquia da Marvel se vale de um passado exitoso de 21 filmes do universo dos super-heróis, desde a estreia de Homem de Ferro, em 2008. Apenas mencionada no filme anterior, Capitã Marvel (Brie Larson) é projetada como talismã da nova aventura. Ela entra na trama como esperança para amortecer o impacto da tristeza deixada pelo filme do ano passado, que deu face à derrocada e vulnerabilidade dos heróis. “Minha introdução ao Universo Marvel foi na foto de 10 anos do estúdio”, disse a atriz. “Foi intimidante, mas, no fim, éramos como um bando de crianças brincando no quintal nas férias de verão.”
Revelador e inesperado, o enredo anterior mostrou até mesmo o maior vilão (o Thanos de Josh Brolin) chorando. Em Ultimato, o “planetinha irritante”, como Thanos se refere à Terra, segue incomodando. Ainda mais com a aliança entre Homem de Ferro, Nebulosa e Hulk. Novidade é o traje diferenciado dos heróis. Pedra por pedra, pepita por pepita, joia por joia, cabe à mágica dos cineastas e irmãos Russo entremear, de tudo um pouco, o que foi assistido nas franquias da Marvel.
CATARSE Joe Russo usa apenas uma palavra para definir Vingadores: Ultimato: “catártico”. Foram muitos anos de trabalho para criar o roteiro de Guerra civil e Ultimato, rodados simultaneamente. Era setembro de 2015, McFeely, Markus, os diretores Joe e Anthony Russo e o diretor dos estúdios Marvel Kevin Feige tinham acabado de terminar a filmagem de Capitão América: Guerra civil. Ou seja, antes de Doutor Estranho, de Pantera Negra, de Thor: Ragnarok, de Homem-Formiga e a Vespa, de Capitã Marvel.
Os roteiristas se trancaram numa sala por quatro meses, com um grande painel com cartões representando todos os personagens para pensar que história contar ao longo de dois filmes – uma em que o estalar de dedos de Thanos fizesse desaparecer alguns heróis em algum momento. Também era importante identificar que personagens agrupar. Seja como for, Vingadores: Ultimato tem um clima de despedida. Em 10 anos de vida, a Marvel fez 22 filmes, e Kevin Feige já disse que este marcará o fim de uma fase. “Quatro ou cinco anos atrás, começamos a perguntar: O que ainda não vimos num filme baseado em histórias em quadrinhos?”, disse Feige. “Não vimos um fim. Uma conclusão definitiva para uma saga. Então por isso o filme se chama Ultimato e por isso que acho muito, muito especial.”
Muito se falou sobre a família Marvel que se formou, com almoços promovidos por Robert Downey Jr. e jogos de caça-palavra – Paul Rudd e Don Cheadle são campeões, Mark Ruffalo não é muito bom. “Para mim não é como família porque não tem muito drama. Todos nos damos bem”, afirma Ruffalo. “Há uma certa tristeza. Estamos falando como se estivéssemos mortos. Amei trabalhar com essas pessoas. Há algo de agridoce neste momento. Nós vimos pessoas crescerem, ter filhos, se casar, se divorciar e se casar novamente fazendo esses filmes.”
É o fim de uma era. Mas o que a próxima reserva? “Espero que filmes com diferentes pontos de vista, porque isso significa que estaremos mais próximos do nosso público, que é diverso”, afirma Trinh Tran, produtora do filme. “Com Pantera Negra e Capitã Marvel o público nos deu sinais de que podemos correr riscos e assim contar histórias melhores.” (Com Agência Estado)
As razões de quem amou
A maior parte da crítica internacional aplaudiu Vingadores: Ultimato. Confira alguns exemplos
A. O. Scott
New York Times
“Com três horas e um minuto, é mais curto do que Titanic, O poderoso chefão 2 ou O Leopardo, de Luchino Visconti. E se o tempo não necessariamente voa, também não afunda. As 2h40min de Guerra infinita (também dirigido por Joe e Anthony Russo) parecem infinitamente mais longas.Marcando pontos, conectando algumas pontas soltas e dando um salto vitorioso – ostensivamente, o principal objetivo do jogo nesta última parte – o filme gera algumas centelhas cômicas, assim como algumas poucas lágrimas sinceras.
(...)
Vivemos com esses personagens e os atores que os interpretam por mais de uma década, e, mesmo quando a festa ficou agitada, estúpida ou superlotada, não houve razão para reclamar dos convidados. Na maior parte do tempo, é bom vê-los novamente e um pouco triste dizer tchau.”
Peter Bradshaw
The Guardian
“Vingadores - Ultimato é inteiramente pueril e, sim, a engenhoca da trama central desta vez não provoca o choque do novo. Mas a impressionante quantidade de diversão e humor que o filme proporciona, o espetáculo puramente exótico é irresistível, assim como sua maneira despojada de combinar o sério e o cômico. Sem a comédia, o drama não seria palatável. E também sem a sincera, quase infantil, crença na seriedade do que está em risco, a parte engraçada igualmente não funcionaria. Como a criação artificial que é, Vingadores tem sido triunfante e, como entretenimento, eles são imbatíveis.”
Michael O’Sullivan
The Washington Post
“Num certo sentido, Ultimato é um exemplo do Universo Marvel canibalizando a si mesmo, mas ele sempre fez isso. E, aqui, ele o faz com um frescor que está mais próximo da homenagem do que da apropriação preguiçosa. Esses apaixonados flashbacks servem também como um aceno para todos os fãs fiéis que mantiveram essa crescente mitologia tão querida. Sendo um filme com tanto em jogo, Ultimato é também muito engraçado. O humor da história – parte dela é ambientada no futuro, cinco anos depois de Guerra infinita – tem a ver com os surpreendentes modos como a vida de certos personagens mudou (assim como suas personalidades e, em alguns casos, seus corpos).
(...)
Se Guerra infinita era sobre fracasso, Ultimato é, ironicamente, sobre aceitar e seguir em frente. Depois de 11 longos anos, a Saga infinita está, enfim, satisfatoriamente concluída.