Los Hermanos em 2019? Soa como uma nostalgia de um tempo não tão distante assim. Mas é também nostalgia de um tempo não vivido, já que parte da plateia da banda é formada por jovens que nunca viram Marcelo Camelo, Rodrigo Amarante (voz e guitarras), Bruno Medida (teclados) e Rodrigo Barba (baterista) no palco.
Vem sendo assim nos últimos 12 anos, quando o grupo, após quatro álbuns, anunciou uma interrupção. Muito provavelmente, não será diferente nos próximos sabe-se lá quantos anos.
A banda retorna à Esplanada do Mineirão na noite desta sexta (26), depois de levar para o mesmo local, em outubro de 2015, 15 mil pessoas. Quinta apresentação da turnê atual do grupo – haverá outras seis até 18 de maio – deverá seguir o repertório dos shows anteriores.
Começa com A flor, de Bloco do eu sozinho – 2001, o segundo álbum, mais cultuado e menos popular do que o subsequente, Ventura, mas foi o disco que forjou a sonoridade e a identidade dos hermanos – e termina com Pierrot – 1999, do disco de estreia, Los Hermanos. Não há nenhuma canção antiga no novo show que não tenha sido executada no anterior.
Mas há uma novidade, recentíssima por sinal. Em 2 de abril, às vésperas do início da turnê, o Los Hermanos lançou de surpresa Corre corre (Camelo), primeira faixa inédita desde 4 (2005), até agora o derradeiro álbum. Foi uma gravação circunstancial – o cantor e compositor não havia feito a música especificamente para banda (que a executa na primeira metade do show) A menos que estejam escondendo o jogo, deverá se manter como única novidade do grupo por um bom período.
Afinal, o quarteto hoje está dividido entre três países: Camelo vive em Lisboa, Amarante em Los Angeles e Medina e Barba continuam no Rio. O tecladista, entrevistado pelo Estado de Minas, é o único que deixou a música em segundo plano: hoje está à frente de uma empresa de inovação e tecnologia.
Ir ao show desta noite não é só celebrar um passado recente que parece hoje tão mais distante, dadas as mudanças radicais por que o Brasil e o mundo passaram. É também reconhecer a importância da banda. Pois, gostando-se ou não, os Hermanos são um ponto de inflexão na música jovem produzida no país neste século. Na maneira de misturar rock e música brasileira, gerir a carreira, expor suas próprias ideias, fazer canções doces sem ser piegas, de dizer não quando tantos dizem sim. E ainda tem a barba.
A repercussão do lançamento de Corre corre foi grande nas redes sociais. Já com a turnê pela metade, sente que há uma demanda reprimida por Los Hermanos?
Ao longo dos anos, é natural que os fãs tenham desenvolvido uma expectativa em torno de músicas inéditas, até porque nos reunimos algumas vezes durante esse tempo. Mas a experiência de gravar um disco e a de sair em turnê são completamente distintas. O processo de composição e registro das canções pode tomar meses e isso foi algo que não conseguimos viabilizar até o momento, por razões diversas. Corre corre quebrou esse padrão. Por isso toda a repercussão positiva que tem alcançado. Não saberia responder se existe uma demanda reprimida por Los Hermanos, mas vejo muito claramente um movimento de renovação do nosso público nos shows. Enquanto houver gente querendo nos assistir, existirá um contexto propício para novas reuniões.
Por que vocês decidiram gravar uma nova canção justamente agora? Foi mérito da própria canção ou vocês já tinham a intenção de gravar uma inédita?
Corre corre foi trazida pelo Marcelo um pouco antes de iniciarmos os ensaios, mas não foi uma música composta especificamente para a banda, ele apenas achou que tinha “cara” de Los Hermanos e resolveu nos mostrar. Ele nos mandou uma gravação de voz e violão pelo WhatsApp e nos apaixonamos pela música. O combinado foi que priorizaríamos os ensaios do repertório tradicional e, havendo tempo, iríamos tentar fazer um arranjo e, possivelmente, lançá-la.
O show mais recente que vocês fizeram em BH foi em 2015, na mesma Esplanada do Mineirão em que se apresentam nesta sexta-feira. O que este show traz de novo, além de Corre corre?
Engraçado você perguntar isso porque um músico nosso amigo foi nos assistir em João Pessoa e disse que achou que estamos tocando melhor. Acredito que talvez não haja grandes mudanças a serem percebidas pelo público nesse sentido, porque as músicas de fato são as mesmas. Resistimos um pouco à ideia de fazer versões, porque acreditamos que as pessoas que vão aos shows querem ouvir as músicas dos nossos discos mesmo. Mais do que isso, eu diria que hoje 50% da plateia é formada por pessoas que nunca nos viram tocar, portanto não acho que a falta de novas músicas atrapalhe o show em si.
Aparecer e fazer turnê de vez em quando: este é o segredo da longevidade dos Hermanos?
Tentamos não fazer previsões nesse sentido. Todas as turnês ocorreram de maneira mais ou menos orgânica, sem que houvesse algo combinado no fim do ciclo anterior. Talvez o segredo seja exatamente esse: sempre que acontece, é porque estamos muito a fim, e não porque estamos colocando em curso um plano que foi concebido num outro momento, anos antes. Em relação ao futuro, é difícil prever, vamos vivendo...
O que é diferente e o que é igual para vocês quatro, depois de mais de uma década do fim da banda?
A intimidade musical é a mesma, as piadas, as conversas, tudo muito preservado nesse sentido. O que muda é a vida vivida, por assim dizer, são as experiências profissionais e pessoais que cada um acumulou ao longo desses últimos 12 anos e que, de alguma forma, refletem quando estamos no palco. A própria experiência da turnê é bem diferente no sentido de que, agora, existem filhos viajando eventualmente, só para citar um exemplo. Também o peso das coisas torna-se relativo quando se tem mais tempo de estrada: o que antes era um incômodo hoje pode passar despercebido.
Hoje você trabalha com inovação e tecnologia. A música, para você, é a banda?
Sim. Quando a banda parou, eu quis me dedicar a algo completamente diferente, ter uma experiência profissional fora da música. Essa carreira “paralela” me deixa com pouco tempo para a música, para ser sincero. Ao longo dos anos, gravei uma trilha aqui, uma faixa no disco de um amigo ali, mas nada muito consistente. De certo modo, gosto que a minha experiência com a música seja majoritariamente com o Los Hermanos, afinal tivemos muita sorte de ter chegado até aqui da forma que chegamos.
LOS HERMANOS
Nesta sexta (26), na Esplanada do Mineirão, Avenida Carlos Luz, Pampulha. Abertura dos portões: 18h; Rubel: 20h; Los Hermanos: 22h. Ingressos: Pista – R$ 240 (inteira), R$ 120 (meia) e R$ 130 (para o público em geral, com R$ 10 destinados à Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais – Apae); Camarote – R$ 400 (inteira), R$ 200 (meia) e R$ 210 (R$ 10 destinados à Apae). À venda na loja Eventim, no Shopping 5ª Avenida (sem taxa de conveniência) e no site www.eventim.com.br (com taxa de conveniência).