O que um diretor faz depois de ganhar o Grande Prêmio do Júri no Festival de Cannes, o Oscar e o Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro com seu longa de estreia? O húngaro László Nemes, de 42 anos, que venceu todos os mais importantes prêmios com O filho de Saul (2015), resolveu voltar um pouco mais no passado.
Em Entardecer, que estreia nesta quinta (9) em Belo Horizonte, ele vai à Budapeste do final do Império Austro-húngaro, pouco antes da carnificina da Primeira Guerra Mundial e, consequentemente, da Segunda Guerra Mundial e do Holocausto. “Foi instintivo para mim. Você volta 30 anos antes dos campos de concentração e encontra um mundo de sofisticação e opulência. Quais são as forças atuando nesse mundo?”, disse o cineasta, durante o Festival de Toronto, em setembro passado.
Em Entardecer, Írisz (Juli Jakab) é uma jovem que vai à chapelaria Leiter para pedir um emprego. Leiter é também seu sobrenome, e a fábrica de chapéus era de seus pais, antes de um incêndio que vitimou ambos. Írisz descobre ter um irmão, acusado de assassinato anos atrás, e tenta encontrá-lo.
A trama, em si, tem pouca importância. Nemes está mais interessado em mostrar como o horror pode estar escondido em coisas ricas e belas. “Quis imergir o espectador num mundo em constante mutação, para tentar sentir como a alma humana funciona, quais são as forças dentro da alma humana”, disse.
CINEMA IMERSIVO Nemes não acha que seu filme seja atual ou mesmo político. “Mas fala de como a tecnologia pode se tornar a grande força de destruição e de distração.
“Estou interessado na experiência humana. Então me pareceu ideal propor um cinema subjetivo e imersivo”, disse Nemes. “É a história de uma pessoa presa num labirinto. Por isso filmei numa tomada só, com perspectivas fechadas que, de vez em quando, se abrem, como uma dança da mente.” Para a atriz Juli Jakab, a filmagem, que durou 54 dias, é como se fosse um dia único. “Não sei nem escolher momentos especiais”, afirmou Jakab.
O cineasta não teme ser incompreendido pelo público. “Confio no público para usar sua mente e sua imaginação e, assim, criar sua própria jornada”, disse. “Todo o mundo sempre está em constante pânico de perder o espectador.