No último ano, Erasmo Carlos foi homenageado pelo Grammy, o Oscar da música, se casou, fez um filme e lançou um disco em que mostra a sua melhor faceta: a de romântico. “A gente vai vivendo e as coisas vão aparecendo. Temos que movimentar a vida. O importante é sempre estar atuante e antenado com o que está acontecendo para ser lembrado. Ficar em casa vivendo só do passado não dá. A vida passa e por isso tem que sempre buscar novidades”, acredita.
Após três trabalhos majoritariamente dedicados ao rock’n’roll, Amor é isso, nome do novo álbum e da turnê que chega hoje a Belo Horizonte (os ingressos estão esgotados), tem o amor como mote e conceito, como o próprio título sugere. “A ideia foi abordar aquele amor infinitamente elástico, que abraça e encampa o amor pelos pais, pelos vizinhos, pelos irmãos, pelos amigos, pela pessoa amada e até pelos objetos. É um amorzão em que cabe tudo e não faz distinção”, explica.
Boa parte das 12 faixas surgiu a partir de versos que o Tremendão escreveu para a mulher, a pedagoga Fernanda Passos, de 28 anos.
Parcerias
Entre os convidados estão artistas que já haviam trabalhado com Erasmo ou que eram próximos a ele, como Marisa Monte, que assina com ele e Dadi Convite para nascer de novo; Adriana Calcanhotto, parceira em Seu sim, e Arnaldo Antunes, que comparece em Parece que foi hoje. “Marcelo Camelo também está no disco e compôs e canta Sol da Barra. É um cara que admiro demais. Eu o gravei antes mesmo de ele ficar conhecido”, comenta.
O álbum, o 31º da carreira, traz também um parceiro das antigas, Tim Maia. New love (Novo love), composição gravada e escrita em inglês pelo Síndico nos anos 1960, época em que foi morar nos Estados Unidos, ganhou nova roupagem e versos em português de Erasmo Carlos.
Em Amor é isso também há espaço para novidades como as participações de Samuel Rosa, parceiro em Novo sentido, e Emicida, que canta e compôs junto com o ídolo da Jovem Guarda Termos e condições. “Foi muito bacana poder contar com os dois. No caso do Emicida, eu já tinha feito uma música com ele para a Gal Costa (Abre-alas de verão), que entrou no último disco dela (A pele do futuro). Achei que a canção que fizemos agora ficou muito legal, com uma fala contemporânea”, comenta.
Apesar de ter ficado marcado durante um bom tempo como roqueiro, o lado romântico nunca foi deixado de lado. O cantor e compositor que completa 78 anos em junho acredita que, precisamente por falar de afeto e amor, sua obra sempre foi atual.
O repertório do show traz não só canções do novo álbum, mas também sucessos da Jovem Guarda e de outras fases do artista da Tijuca. “Não dá para fazer um show e deixar de lado Sentado à beira do caminho e Mulher, por exemplo. O público até cobra”, afirma.
O cinema não é novidade no currículo de Erasmo Carlos. Nos anos 1970, ele participou, ao lado dos companheiros de Jovem Guarda Roberto Carlos e Wanderléa, de produções como Roberto Carlos e o diamante cor-de-rosa e Roberto Carlos a 300 quilômetros por hora, de Roberto Farias (1932-2018). Mas foi Os machões, de 1972, dirigido por Reginaldo Faria, que comprovou que o Gigante Gentil, além de cantar, compor e tocar, sabia também atuar.
A faceta de ator se fez presente novamente, quando ele foi convidado para participar de Paraíso perdido, longa de Monique Gardenberg (O paí, ó e Benjamim), que estreou no ano passado e contou com outros cantores no elenco, como Jaloo e Seu Jorge. Na história, Erasmo interpreta José, gerente de um clube noturno que se chama Paraíso Perdido. O cantor diz que adorou mais uma experiência cinematográfica, principalmente o fato de trabalhar com Gardenberg. “É uma diretora formidável, que te passa confiança. E agora o filme está na Netflix. Mais pessoas, até de outros países, poderão assisti-lo. Gostei demais de fazer.”
Foi na telona também que o artista carioca viu a sua vida literalmente passar diante dos olhos. O filme Minha fama de mau, lançado em fevereiro passado, é baseado no livro homônimo de memórias escrito pelo cantor e compositor e traz um recorte de sua história: o começo da carreira, a parceria e a amizade com o Rei e o sucesso da Jovem Guarda.
“É forte e ao mesmo tempo curioso ver a sua história, as suas vivências sendo representadas por outras pessoas. Eu me emocionei e achei a atuação não só do Chay Suede (que interpreta Erasmo), como a do Gabriel Leone (Roberto Carlos) e da Malu Rodrigues (Wanderléa) muito boas”, diz. Erasmo assegura que não deu palpites em nada e que só viu o filme quando ele ficou pronto. Os músicos que integram a sua banda participam de Minha fama de mau. “Eles fizeram uma farra, porque colocaram aqueles trajes, o figurino dos anos 1960. Tiveram que remoçar” (risos).
Outro motivo de comemoração foi o fato de ter sido laureado com o Prêmio de Excelência Musical no 19º Grammy Latino. A cerimônia ocorreu em dezembro passado, em Las Vegas. “Com um prêmio como esse a gente sempre fica lisonjeado. Essa homenagem me fez sentir um orgulho muito grande.”
A apresentação em BH será na antevéspera do Dia das Mães. Erasmo Carlos teve na figura de dona Diva, interpretada em sua cinebiografia por Isabela Garcia, a figura mais importante de sua vida. Ela o criou sozinha e morreu em 2004, aos 83 anos. “Eu sou um cara que sou todo amor por conta da minha mãe. É o maior tesouro que ela me deu. Não admito nada de má-fé, de inveja, coisas ruins. Tenho nojo de tudo isso. Foi ela que me passou esses valores e eu nunca os perdi. Por isso continuo cantando e me guiando pelo amor”, salienta.
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