Se o ambiente for amplo, ele se torna um livro-objeto. Caso seja totalmente aberto, atinge 11 metros de comprimento. É um projeto e tanto, que consumiu boa parte das horas vagas de Marcos Arakaki nos dois últimos anos. Maestro associado da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, Arakaki, de 44 anos, realiza um sonho com a publicação do livro A história da música clássica através da linha do tempo.
“Quando fui fazer mestrado nos Estados Unidos, em 2003, percebi como minha formação era hermética. Estudamos os períodos (artísticos) separadamente. Só que Barroco, Clássico e Romântico estão de alguma maneira interligados, pois um é quase antagonista do outro. Imaginei que um livro poderia apresentar, de forma linear, esse desenvolvimento. Também adoro cronologias, construções. Então, pensei: se juntasse música a isso, poderia caminhar por pontos marcantes”, comenta Arakaki.
Foi um trabalho de ourivesaria. O maestro construiu enorme linha do tempo com informações e ilustrações sobre cada período, da Antiguidade até os dias atuais. O período clássico (1750-1800), por exemplo, ganhou quatro páginas. Na parte de cima são destacados os autores mais importantes da época. Na de baixo, os acontecimentos históricos relacionados a ela.
“Em 1759, Voltaire escreveu Cândido, obra-chave no Iluminismo, estilo literário que influenciaria a Revolução Francesa, em 1789. Na mesma época, temos Mozart e Haydn, que rompeu com o Barroco (período anterior ao Clássico). E também nasce Beethoven, que chegou a dedicar uma sinfonia (a Nº 3) a Napoleão Bonaparte e depois, quando ele se proclamou imperador, retirou a dedicatória. A Revolução Francesa influenciaria diversas democracias europeias”, explica Arakaki, explicando as ligações que o livro apresenta.
Tudo está ali de forma didática e resumida, um convite para que o leitor descubra uma ou várias partes da história. No verso, cada período é destacado com imagens, textos mais amplos e glossário de termos musicais. Há também dicas sobre filmes e músicas (essas vêm ao lado de alto-falantes com os respectivos links para o YouTube). O volume é artesanal. Para que linha do tempo tão grande se tornasse viável – “não há máquina para um livro de 11 metros” –, as páginas foram coladas a mão.
MINAS Quando o conteúdo atinge o século 18, Arakaki passa a dedicar um bom espaço tanto à história do Brasil quanto à música produzida no país. Descobrimos, nessa pesquisa, nomes de mineiros importantes do período colonial, como os compositores Manuel Dias de Oliveira, que atuou em Tiradentes, e Inácio Parreiras Neves, que iniciou sua trajetória em Ouro Preto. Na relação com a história mundial, acompanhamos Brahms e Carlos Gomes, ambos nascidos na década de 1830. Enquanto o alemão compunha sinfonias no Velho Mundo, por aqui o paulista se destacava no Romantismo.
“Esse é o livro que gostaria de ter lido quando estudante. Toda história tem vários pontos de vista, pois depende de quem conta. Com o livro, não quero esgotar o assunto. Minha intenção é nortear uma pesquisa, como uma espinha dorsal da história”, acrescenta Arakaki.
SEM LEI A história da música clássica através da linha do tempo é edição independente. O livro foi produzido com recursos próprios do maestro, “sem patrocínio, sem lei de incentivo, sem editora por trás”. Além do volume, com tiragem inicial de 1 mil exemplares, Arakaki criou exposição e palestra, que podem ser apresentadas em diferentes formatos.
O projeto ganhou força porque o autor atua em concertos didáticos desde a época em que era regente-assistente da Orquestra Sinfônica Brasileira (formação que ele integrou antes de chegar à Filarmônica, em 2011). “Há boa bibliografia em português, tenho acesso a ela porque reuni o material durante a minha vida. Mas (para o leigo) é difícil esse acesso, muita coisa está com tiragem esgotada”, comenta. Para sua pesquisa, Arakaki encontrou amplo material na Academia Brasileira de Música (ABM), no Rio de Janeiro.
O início do projeto – “que estava me tirando o sono, pois o livro ficava na minha cabeça” – foi solitário. Envolvia apenas o maestro e a mulher, Analine Arakaki. À medida que o conteúdo foi sendo desenvolvido, outras pessoas colaboraram com a empreitada. A designer Renata Gibson brigou muito com ele por causa da quantidade de informações. Os professores Eli-Eri Moura e Wilson Guerreiro Pinheiro, da Universidade Federal da Paraíba, assumiram a revisão. Decano dos maestros, Isaac Karabtchevsky colaborou com entrevistas para a edição. Já Edino Krieger, atual presidente da ABM, foi como um padrinho do projeto.
“Acabei aprendendo muita coisa com esse livro”, diz Arakaki, que, ao começar o projeto, pretendia “esvaziar a cabeça e realizar um sonho”.
• TALENTOS DO BRASIL
Além de destacar a obra de notáveis como Carlos Gomes e Ernesto Nazareth, o livro chama a atenção para autores menos conhecidos
» Caetano de Melo de Jesus (1700-1765)
Padre, compositor, maestro e teórico musical, possivelmente baiano, autor do importante tratado de música Escola de canto de órgão (1752)
» Francisco Gomes da Rocha (1745-1808)
Mineiro, fagotista e timbaleiro do Regimento dos Dragões d’El Rei, onde foi colega de Tiradentes
» José Maurício Nunes Garcia (1767-1830)
Padre, professor, maestro e compositor carioca descendente de escravos. Calcula-se que tenha composto mais de 400 obras – 240 foram catalogadas
» Francisco Manuel da Silva (1795-1865)
Compositor, maestro e instrumentista carioca, foi o autor da melodia do Hino Nacional Brasileiro (1831)
» José Maria Xavier (1819-1887)
Padre mineiro, compositor de música sacra, foi muito admirado por dom Pedro II, que considerou sua obra a melhor da produção de Minas
» Elias Álvares Lobo (1834-1901)
Professor, maestro e compositor paulista, criou Noite de São João. Com libreto de José de Alencar, essa ópera foi a primeira escrita em português e estreada no Brasil
A HISTÓRIA DA MÚSICA CLÁSSICA ATRAVÉS DA LINHA DO TEMPO
• De Marcos Arakaki
• R$ 139
• À venda em www.lojaclassicos.com.br e linhadotempomusica@gmail.com
“Quando fui fazer mestrado nos Estados Unidos, em 2003, percebi como minha formação era hermética. Estudamos os períodos (artísticos) separadamente. Só que Barroco, Clássico e Romântico estão de alguma maneira interligados, pois um é quase antagonista do outro. Imaginei que um livro poderia apresentar, de forma linear, esse desenvolvimento. Também adoro cronologias, construções. Então, pensei: se juntasse música a isso, poderia caminhar por pontos marcantes”, comenta Arakaki.
Foi um trabalho de ourivesaria. O maestro construiu enorme linha do tempo com informações e ilustrações sobre cada período, da Antiguidade até os dias atuais. O período clássico (1750-1800), por exemplo, ganhou quatro páginas. Na parte de cima são destacados os autores mais importantes da época. Na de baixo, os acontecimentos históricos relacionados a ela.
“Em 1759, Voltaire escreveu Cândido, obra-chave no Iluminismo, estilo literário que influenciaria a Revolução Francesa, em 1789. Na mesma época, temos Mozart e Haydn, que rompeu com o Barroco (período anterior ao Clássico). E também nasce Beethoven, que chegou a dedicar uma sinfonia (a Nº 3) a Napoleão Bonaparte e depois, quando ele se proclamou imperador, retirou a dedicatória. A Revolução Francesa influenciaria diversas democracias europeias”, explica Arakaki, explicando as ligações que o livro apresenta.
Tudo está ali de forma didática e resumida, um convite para que o leitor descubra uma ou várias partes da história. No verso, cada período é destacado com imagens, textos mais amplos e glossário de termos musicais. Há também dicas sobre filmes e músicas (essas vêm ao lado de alto-falantes com os respectivos links para o YouTube). O volume é artesanal. Para que linha do tempo tão grande se tornasse viável – “não há máquina para um livro de 11 metros” –, as páginas foram coladas a mão.
MINAS Quando o conteúdo atinge o século 18, Arakaki passa a dedicar um bom espaço tanto à história do Brasil quanto à música produzida no país. Descobrimos, nessa pesquisa, nomes de mineiros importantes do período colonial, como os compositores Manuel Dias de Oliveira, que atuou em Tiradentes, e Inácio Parreiras Neves, que iniciou sua trajetória em Ouro Preto. Na relação com a história mundial, acompanhamos Brahms e Carlos Gomes, ambos nascidos na década de 1830. Enquanto o alemão compunha sinfonias no Velho Mundo, por aqui o paulista se destacava no Romantismo.
“Esse é o livro que gostaria de ter lido quando estudante. Toda história tem vários pontos de vista, pois depende de quem conta. Com o livro, não quero esgotar o assunto. Minha intenção é nortear uma pesquisa, como uma espinha dorsal da história”, acrescenta Arakaki.
SEM LEI A história da música clássica através da linha do tempo é edição independente. O livro foi produzido com recursos próprios do maestro, “sem patrocínio, sem lei de incentivo, sem editora por trás”. Além do volume, com tiragem inicial de 1 mil exemplares, Arakaki criou exposição e palestra, que podem ser apresentadas em diferentes formatos.
O projeto ganhou força porque o autor atua em concertos didáticos desde a época em que era regente-assistente da Orquestra Sinfônica Brasileira (formação que ele integrou antes de chegar à Filarmônica, em 2011). “Há boa bibliografia em português, tenho acesso a ela porque reuni o material durante a minha vida. Mas (para o leigo) é difícil esse acesso, muita coisa está com tiragem esgotada”, comenta. Para sua pesquisa, Arakaki encontrou amplo material na Academia Brasileira de Música (ABM), no Rio de Janeiro.
O início do projeto – “que estava me tirando o sono, pois o livro ficava na minha cabeça” – foi solitário. Envolvia apenas o maestro e a mulher, Analine Arakaki. À medida que o conteúdo foi sendo desenvolvido, outras pessoas colaboraram com a empreitada. A designer Renata Gibson brigou muito com ele por causa da quantidade de informações. Os professores Eli-Eri Moura e Wilson Guerreiro Pinheiro, da Universidade Federal da Paraíba, assumiram a revisão. Decano dos maestros, Isaac Karabtchevsky colaborou com entrevistas para a edição. Já Edino Krieger, atual presidente da ABM, foi como um padrinho do projeto.
“Acabei aprendendo muita coisa com esse livro”, diz Arakaki, que, ao começar o projeto, pretendia “esvaziar a cabeça e realizar um sonho”.
• TALENTOS DO BRASIL
Além de destacar a obra de notáveis como Carlos Gomes e Ernesto Nazareth, o livro chama a atenção para autores menos conhecidos
» Caetano de Melo de Jesus (1700-1765)
Padre, compositor, maestro e teórico musical, possivelmente baiano, autor do importante tratado de música Escola de canto de órgão (1752)
» Francisco Gomes da Rocha (1745-1808)
Mineiro, fagotista e timbaleiro do Regimento dos Dragões d’El Rei, onde foi colega de Tiradentes
» José Maurício Nunes Garcia (1767-1830)
Padre, professor, maestro e compositor carioca descendente de escravos. Calcula-se que tenha composto mais de 400 obras – 240 foram catalogadas
» Francisco Manuel da Silva (1795-1865)
Compositor, maestro e instrumentista carioca, foi o autor da melodia do Hino Nacional Brasileiro (1831)
» José Maria Xavier (1819-1887)
Padre mineiro, compositor de música sacra, foi muito admirado por dom Pedro II, que considerou sua obra a melhor da produção de Minas
» Elias Álvares Lobo (1834-1901)
Professor, maestro e compositor paulista, criou Noite de São João. Com libreto de José de Alencar, essa ópera foi a primeira escrita em português e estreada no Brasil
A HISTÓRIA DA MÚSICA CLÁSSICA ATRAVÉS DA LINHA DO TEMPO
• De Marcos Arakaki
• R$ 139
• À venda em www.lojaclassicos.com.br e linhadotempomusica@gmail.com