À margem do circuito literário contemporâneo estão os slams, os saraus e os diversos escritores que publicam suas obras de forma independente, sem o apoio de grandes editoras. Pautada pelas interseções entre o “Circuito e a margem”, a terceira edição do Ciclo de Literatura Contemporânea, que começa nesta quarta-feira (12), em Belo Horizonte, pretende promover diálogos entre autores e leitores sobre formas de trabalho, experiências editoriais e movimentos literários. É a primeira vez que a capital mineira recebe o evento. As duas primeiras edições foram realizadas em Recife (2017) e Brasília (2018).
Totalmente gratuita, a programação reúne mesas de debate, leituras de poemas, shows e lançamentos de livros em diversos espaços da capital mineira, até sábado (15). O poeta mineiro Ricardo Aleixo participará da mesa de abertura ao lado do brasiliense Nicolas Behr, às 16h de hoje. Para Aleixo, é equivocada a percepção de que o cinema é a área artística que encabeça as manifestações políticas no Brasil de hoje. “Antes da eleição de Bolsonaro (PSL), a poesia já estava firmando posição. E não cabe dizer que a poesia é mais barata de se fazer. Isso é obvio. Não quer dizer que seja mais fácil”, afirma. Ele observa que a poesia é política até mesmo pela necessidade de justificar a própria existência. “Ninguém pergunta qual é a finalidade do cinema, do teatro ou da música”, pontua.
FORTALECIMENTO A produtora Izadora Fernandes, idealizadora do evento, aponta a internet como responsável pelo aumento da confiança dos escritores. “Essa literatura expandida fortaleceu o movimento literário, que talvez não chegaria até nós, se dependêssemos só do livro. Não preciso necessariamente comprar um livro para ler um autor. Posso lê-lo no Kindle ou pela internet. Isso é riquíssimo”, diz.
Uma das atrações desta terceira edição será a mesa de debate “Chega junto: diáspora negra do samba, prática do território”, que contará com a presença dos escritores Luiz Antônio Simas (RJ) e Bruno Ribeiro (SP), nesta sexta-feira (14), às 18h, no Teatro Espanca!. O cantor pernambucano Siba participará de bate-papo às 20h no local. Será dele o show de encerramento, no sábado (15), às 11h, no Museu de Arte da Pampulha.
Em Belo Horizonte, o Ciclo de Literatura Contemporânea foi planejado de modo a ocupar desde espaços culturais mais tradicionais, como o Sesc Palladium, até lugares alternativos, como o Brejo das Sapas e o Teatro Espanca!.Mas Ricardo Aleixo faz um alerta: ainda que a programação ocupe vários espaços da capital, para se falar em descentralização é preciso pensar BH fora da Contorno. “Estou no extremo Norte e, exceto as coisas que sempre faço na minha própria casa, nenhum evento chega. Só poderemos falar de descentralização quando sairmos do Centro”, diz.
*Estagiária sob a supervisão da editora Silvana Arantes
Ciclo de literatura contemporânea
» HOJE (12)
Brejo das Sapas (Rua Alagoas, 1.468, Funcionários)
• 16h: Ricardo Aleixo e Nicolas Behr. Mesa “O centro da própria história”
• 18h: Marcelino Freire (PE), Ana Martins Marques (MG) e Valeska Torres (RJ). Mesa “Experiências e processos criativos”
• 20h: Ana Maria Gonçalves (SP). Mesa “Kehinde hoje, mulher negra, emancipação e os processos de opressão”
» QUINTA (13)
Teatro Espanca!
(Rua Aarão Reis, 542, Centro)
• 16h: Luciana Tanure (MG), Léo Gonçalves (MG) e Julia Panadés (MG). Mesa “Edição, outras articulações para a democratização do livro e da leitura”
• 18h: Cidinha da Silva (SP), Mariana de Matos (MG) e Célia Xacryaba (MG). Mesa “Mulheres tradicionais na literatura e autopublicação como possibilidade de se narrar fora da norma/forma editorial”
Foyer do Sesc Palladium. Av. Augusto de Lima, 420, Centro.
• 20h: Elisa Lucinda (RJ). Mesa “Literatura em expansão, da casa à aldeia ampliando o quilombo”. A escritora autografará O livro do avesso – O pensamento de Edite, na sexta (14), às 11h, na Livraria Quixote.
Programação completa: ciclodeliteratura.art.br/bh.