Adotar ou pelejar
Tenho uma sobrinha que sonhava em ter filho. Tentou e tentou, e nada. Resolveu, então, fazer inseminação, tentou mais algumas vezes e não conseguiu. Eu brincava que quem fura poço artesiano só para quando a água aparece. Inseminação não, é preciso pagar cada ação. Minha sobrinha desistiu da aflição e resolveu adotar uma criança, o que fez com o maior amor. O menino cresce e é paparicado por toda a família. O que não é comum: técnicas de reprodução humana têm sido aliadas de casais que, cada vez mais, contam com o auxílio de procedimentos como o congelamento de óvulos, fertilização in vitro (FIV) e inseminação artificial. Em 2017, por exemplo, mais de 36 mil ciclos de FIV foram realizados no Brasil e mais de 78 mil embriões congelados, aumento de 17% em relação ao ano anterior. Pedro Monteleone, especialista paulista, desmistifica informações sobre causas da infertilidade.
1 – Idade aumenta a infertilidade em mulheres
Verdade. A fertilidade feminina tem relação direta com a idade. A mulher nasce com as células precursoras dos seus óvulos já formadas no ovário. A cada mês, essas células são disponibilizadas durante a ovulação. Alguns folículos são selecionados e apenas um se desenvolve e o óvulo conclui sua maturação. Os outros são descartados (na menstruação). Com o passar dos anos, aumenta a incidência de erros nesse processo, o que ocasiona a formação de embriões menos aptos para a fecundação, resultando na queda das taxas de gravidez.
2 – Mulher é mais infértil que o homem
Mito. A fertilidade do homem e da mulher têm fisiologias diferentes e, portanto, mecanismos patológicos diversos. Em geral, a probabilidade de mulheres e homens serem portadores de infertilidade é homogênea. A proporção de casais inférteis por fatores femininos ou masculinos é semelhante, inclusive com fatores associados mistos, ou seja, quando ambos apresentam problemas. Também há um número significativos de casos sem fator algum encontrado na investigação básica. A grande diferença é que a idade tem uma contribuição mais relevante no prejuízo da fertilidade da mulher.
3 – Uso de medicamentos pode melhorar a fertilidade
Verdade. Na presença de situações que contribuam para a infertilidade, o uso de terapias medicamentosas pode contribuir para melhora da função reprodutiva. Por exemplo, em mulheres com dificuldades ovulatórias devido à síndrome dos ovários policísticos, as drogas indutoras da ovulação podem corrigir o problema, favorecendo a concepção.
4 – Estresse causa infertilidade
Mito. É muito frequente a presença de estresse no casal com dificuldades de engravidar. Contudo, este estresse é uma consequência do problema, não a causa. Diversos tratamentos são realizados para resolução da infertilidade, em todos eles, o estresse não participa na avaliação prognóstica da chance de sucesso de tratamento. Portanto, o estresse não causa nem contribui para a dificuldade de se alcançar a gravidez.
5 – Não há prevenção para a infertilidade
Mito. Mulheres que engravidam antes dos 35 anos, em geral, têm menos dificuldade em alcançar a maternidade do que após esta idade, tanto pelo possível acúmulo de exposição a situações que potencialmente causam infertilidade quanto pela própria queda da qualidade ovular com o avançar da idade. O que é muito importante, principalmente para as mulheres, é manter em dia a rotina ginecológica, dieta balanceada e atividade física regular. Doenças como síndrome dos ovários policísticos e endometriose, por exemplo, podem ser controladas desde o diagnóstico, diminuindo assim a probabilidade da necessidade de técnicas de reprodução assistida para engravidar.
6 – Obesidade atrapalha a fertilidade
Verdade. A obesidade pode atrapalhar a fertilidade, uma vez que a gordura corporal pode ser fonte de descontrole hormonal, levando a alteração do ciclo, muitas vezes até com interrupção da ovulação. Além disso, as mulheres com sobrepeso têm risco maior de desenvolver diabetes e pressão alta durante a gravidez.
7 – Usar anticoncepcional causa infertilidade
Mito. O uso de anticoncepcionais orais não causa infertilidade. As pílulas têm como função bloquear os ovários, impedindo a ovulação. Entretanto, quando a mulher para de tomar, essa função é reestabelecida. O que ocorre é que os ovários podem demorar até quatro meses para retornar à sua função normal. Isso varia de acordo com a fisiologia de cada mulher.
8 – Diabetes afeta a infertilidade
Verdade. Diabetes descompensada pode afetar a função ovulatória por uma série de mecanismos. Um deles é a insensibilidade periférica à insulina. Toda essa patologia pode afetar a função da tireoide, bem como dos ovários, levando a ciclos anovulatórios, quando não há liberação de óvulos.
9 – Endometriose dificulta a gravidez
Verdade. Endometriose é uma doença inflamatória sistêmica que pode afetar a qualidade dos óvulos e do endométrio, o que pode dificultar a gestação espontânea. Porém, as taxas de sucesso aumentam quando a mulher que possui a doença é submetida a fertilização in vitro (FIV).
10 – O diagnóstico precoce da infertilidade aumenta as chances de gravidez
Verdade. O principal fator de infertilidade se relaciona com a idade da mulher. Mulheres mais jovens têm, a princípio, qualidade ovular melhor. Quanto mais cedo investigar e saber a causa da infertilidade do casal, mais rápido pode-se tomar a conduta terapêutica, melhorando as chances de gestação.
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