É mistura de Titanic e romance de Agatha Christie com o clima de dramalhão classudo que só os espanhóis sabem fazer. Alto-mar, quarta produção espanhola da Netflix chegada há pouco à plataforma de streaming (e com segunda temporada já confirmada), não deve ser levada a sério. Tudo já foi visto em algum lugar – mas não é assim que funciona a conterrânea La casa de papel, sucesso mundial?
Nos anos 1940, um transatlântico deixa a Europa rumo ao Brasil. O navio está lotado – e boa parte dos passageiros tem só o bilhete de ida, pois quer reconstruir a vida do outro lado do Atlântico. É nesse cenário que chegam as irmãs Eva (Ivana Baquero) e Carolina Villanueva (Alejandra Onieva). Ricas, muito próximas a despeito das diferenças, perderam o pai recentemente. A primeira, loira, vai se casar com o dono do navio, Fernando Fábregas (Eloy Azorín). A outra, morena discreta, quer publicar um livro.
Cria de Ramón Campos (nome por trás de Grande Hotel, outro melodrama de época), Alto-mar tem início com uma carta do capitão do navio, Santiago Aguirre (Eduardo Blanco). Ele escreve que 10 dias depois de iniciada a navegação, já são três pessoas assassinadas a bordo. “Só posso continuar agora, mesmo sem saber se vou chegar com vida (ao destino).”
A partir desse mote, a narrativa se desenvolve em flashback. Chegamos ao porto, quando somos apresentados às duas protagonistas. E o primeiro erro quem comete é a discreta Carolina. A irmã mais nova convence a mais velha a aceitar a jovem que surge “acidentalmente” na frente delas. A mulher afirma que está sendo ameaçada de morte pelo antigo noivo e tem de embarcar de qualquer maneira. É colocada dentro de um baú. Logo no episódio de abertura, a clandestina coloca as mangas de fora. Para logo depois ser literalmente jogada para fora do navio.
A partir dessa morte, outras ocorrerão. E Alto-mar vira um jogo de detetive, com novos mistérios (um deles envolvendo o pai das jovens) que vão formando um quebra-cabeças ao longo da narrativa. Colorindo a trama há o velho embate de patrões e empregados (que lugar melhor do que um navio, com suas diferentes classes, para falar de desigualdade social?), a competente reconstituição de época e o glamour que se vê pouco na produção atual. Ainda que o pano de fundo seja dramático, há um quê de comédia nas situações.
ALTO-MAR
Oito episódios
Disponível na Netflix
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