Lisboa – Aos primeiros passos no espaço montado na Cordoaria Nacional, em Lisboa, já é possível responder à pergunta do título desta reportagem, por sinal a mesma que dá nome à exposição: Banksy: gênio ou vândalo?.
“As situações parecem destrutivas, chocam às vezes, mas essa é a realidade do mundo.” É assim que a portuguesa Maria dos Anjos descreve e elogia os 70 trabalhos de Banksy, um dos mais influentes e controversos nomes da arte contemporânea, exibidos no antigo prédio da Marinha portuguesa. Pela primeira vez, as obras originais do artista, provenientes de coleções particulares e com a colaboração da Lilley Fine Art, são apresentadas no país lusitano. Entre as atrações estão obras originais, esculturas, instalações, vídeos e fotografias.
Assim como a maioria dos visitantes ouvidos pela reportagem do Estado de Minas, Alexander Nachkebiya, curador da exposição, também bate o carimbo de gênio para o artista de Bristol, cuja identidade ele mantém em segredo.
“Considero-o um gênio, mas existem pessoas com opiniões diferentes”, declarou. Nachkebiya destaca a precisão e a sagacidade do britânico. “Ele usa sua arte para abordar problemas de uma maneira que seus desenhos conseguem penetrar diretamente em nossas almas, em nossas consciências. Estamos sempre muito ocupados e, frequentemente, não prestamos atenção a certas coisas. Banksy nos pega pelo pescoço e nos faz prestar atenção. Às vezes, ele chega a ser grosseiro. Mas, de outra forma, seria muito difícil atrair nossa atenção”, acrescenta o curador.
“Considero-o um gênio, mas existem pessoas com opiniões diferentes”, declarou. Nachkebiya destaca a precisão e a sagacidade do britânico. “Ele usa sua arte para abordar problemas de uma maneira que seus desenhos conseguem penetrar diretamente em nossas almas, em nossas consciências. Estamos sempre muito ocupados e, frequentemente, não prestamos atenção a certas coisas. Banksy nos pega pelo pescoço e nos faz prestar atenção. Às vezes, ele chega a ser grosseiro.
Banksy: gênio ou vândalo?, como praticamente todas as exposições que foram dedicadas anteriormente ao britânico, não é autorizada pelo artista, cujo trabalho surge do dia para a noite nas ruas das cidades de seu país e em outras capitais europeias. No Instagram, Banksy chegou a debochar da mostra: "Não cobro para as pessoas verem a minha arte, a não ser que haja uma roda-gigante", escreveu ele, defendendo seu anonimato e “independência do sistema”. Exibida em Moscou, São Petersburgo e Madrid, a mostra já foi vista por mais de 600 mil pessoas.
Entre as obras mais reconhecidas e admiradas da exposição está a serigrafia original da série Menina com balão, sua obra mais conhecida e cuja versão impressa, leiloada pela Sotheby’s no ano passado, se autodestruiu parcialmente logo após o lance final, numa ação do artista da qual a casa de leilões afirma não ter tido conhecimento prévio.
“O interessante é que ele está protestando contra o mercado da arte contemporânea, ao mesmo tempo em que é uma figura importante nesse mesmo mercado, cujas obras são vendidas para milhares de pessoas. E, mesmo sendo parte importante desse mercado, ele ainda se mantém rebelde”, disse Nachkebiya.
“O interessante é que ele está protestando contra o mercado da arte contemporânea, ao mesmo tempo em que é uma figura importante nesse mesmo mercado, cujas obras são vendidas para milhares de pessoas. E, mesmo sendo parte importante desse mercado, ele ainda se mantém rebelde”, disse Nachkebiya.
Protestos
Anticonsumismo, Holocausto, política como forma de manipular a consciência pública, guerra, confrontos, críticas à família real britânica, ao capitalismo e a militares estão escancarados nas obras de Banksy. Porém, o “ativista” britânico chama a atenção pela sutileza. “O que mais me impressiona é a sutileza de como ele retratas as coisas, como, por exemplo, as crianças-polícias”, destaca a aposentada Fernanda Cardoso.
“Na exposição de Banksy, vemos a realidade do mundo em que vivemos e que não conseguimos mudar”, acrescenta a visitante. Aos 17 anos, a estudante Mariana Santos saiu comovida da mostra em Lisboa.
Conhecido principalmente como artista de rua, Banksy não trabalha só nos muros. Ele também cria em tela, papel, madeira e metal, junto com serigrafias. Grandes murais seus podem ser vistos em Londres, Paris, Sidney e Nova York.
Em seus grafites, o britânico (sempre) desafia a ética, protesta contra dogmas ou até mesmo sobre modos de viver das pessoas, com ironia e sarcasmo, como já declarou em seus trabalhos com as ratazanas: “Elas existem sem autorização. Vivem num desespero silencioso na imundície, e ainda assim conseguem pôr de joelhos civilizações inteiras. Se for uma pessoa suja, insignificante e mal-amada, as ratazanas são o seu modelo.”
Em seus grafites, o britânico (sempre) desafia a ética, protesta contra dogmas ou até mesmo sobre modos de viver das pessoas, com ironia e sarcasmo, como já declarou em seus trabalhos com as ratazanas: “Elas existem sem autorização. Vivem num desespero silencioso na imundície, e ainda assim conseguem pôr de joelhos civilizações inteiras. Se for uma pessoa suja, insignificante e mal-amada, as ratazanas são o seu modelo.”
* A jornalista viajou a convite da EDP Brasil
Três perguntas para...
Alexander Nachkebiya, curador da exposição Bansky Pensa Além do Normal
A exposição não tem a autorização de Banksy. Como é fazer uma mostra sem o aval do artista?
Iríamos adorar ter a participação direta do Banksy em nossa exposição. No entanto, precisamos respeitar seu posicionamento: ele optou pelo anonimato e isso é um lado marcante da sua personalidade artística. O lado positivo dessa decisão de permanecer anônimo é que o véu misterioso que ele criou em torno de si mesmo consegue atrair as pessoas. Estamos sempre na expectativa de conhecer seus novos trabalhos. Vejo muitas pessoas em todo o mundo tentando descobrir esse véu para conhecer sua verdadeira identidade. Contudo, esse enigma possui um outro lado: Banksy tem que ficar dentro desse invólucro que ele coloca ao redor de si próprio, o qual não permite que ele participe das mostras dos seus trabalhos.
Em declarações anteriores, o senhor considera Banksy um gênio. A exposição quer mostrar o talento do artista ou deixar que os visitantes decidam sobre isso?
Mostramos sua arte às pessoas e damos a elas a oportunidade de decidir sozinhas se ele é realmente um gênio ou simplesmente pichador. Até hoje existem pessoas que consideram o grafite e outras formas de arte urbana atos de vandalismo. Nosso papel é informar as pessoas sobre seu trabalho. Considero o Banksy um gênio, mas existem pessoas com opiniões diferentes.
Banksy faz duras críticas ao consumismo em suas obras, mas no final da exposição vendem-se suvenires e outras lembranças. Isso não vai na contramão do que o artista defende?
Bansky é bem duro com o consumismo em suas obras artísticas e nas entrevistas. Uma vez ele disse: “Direitos autorais são para os perdedores”. E, mesmo assim, sua empresa – Pest Control – faz o registro de direitos autorais de suas obras. Sim, ele é contra o consumismo. Mas, mesmo usando muitos de seus trabalhos, ele tentou atrair a atenção para o problema das grandes redes de lojas que destroem os negócios de pequenos comerciantes. Sempre digo: Banksy é mais intenso, pensa além do normal. Pessoalmente, acho que seu protesto contra o consumismo não está direcionado à mercadoria em si ou à ideia de vender presentes – acredito que ele quer que nós entendamos que estamos perdendo nossa liberdade. Perdemos nossa liberdade quando tomamos decisões, quando nossas preferências são impostas por alguém...
Banksy: Gênio ou vândalo?
Até 27 de outubro. Cordoaria Nacional (Avenida da Índia, 1.300-598, Lisboa). Entrada: 13 euros. Informações: www.banksyexhibition.pt.
• Veja vídeo sobre a exposição de Banksy no uai.com.br
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