Jornal Estado de Minas

Série 'Mindhunter' parte para a ação na segunda temporada



Quando veio a público, há quase dois anos, Mindhunter chamou a atenção na seara um tanto desgastada de produções sobre assassinos seriais. Isso ocorreu por alguns fatores. Havia criminosos, mas não crimes. O mote da produção era acompanhar dois agentes do FBI – Holden Ford (Jonathan Gross) e Bill Tench (Hold McCallany), que, no fim da década de 1970, introduziram na agência governamental técnicas para traçar perfis de assassinos. Foram esses personagens, baseados em figuras reais, que criaram o termo serial killer.

A dupla começou seu trabalho justamente entrevistando assassinos notórios. Eram longas conversas na prisão, o que resultou numa série bastante cerebral (com diálogos impagáveis e tensos). E havia também o pedigree: um dos produtores (e diretor de alguns episódios) é David Fincher, cineasta com estofo (são dele Seven: os sete pecados capitais, de 1995, e Zodíaco, de 2007). Charlize Theron, que ganhou o Oscar interpretando justamente uma assassina (Monster, 2003), também é do time de produtores.

Eis que chegou a segunda temporada.
E Mindhunter evolui, sem perder a essência, enveredando por novos caminhos. Estamos em 1979. Ford, o garoto prodígio, acabou de sofrer um ataque de pânico depois de entrevista com o insano grandalhão Ed Kemper (Cameron Britton). No FBI, o veterano Tench tem de segurar as pontas. Esconde do novo chefe, Ted Gunn (Michael Cerveris), a situação delicada do colega.

Com grandes ambições no FBI, Gunn dá todo apoio aos analistas de perfis. Quer ver o setor crescer, mas sabendo do temperamento de Ford, coloca Tench e a consultora de psicologia criminal Wendy Carr (Anna Torv) como “babás” do garoto prodígio. Lá fora, o clima é tenso.
Tench tem de resolver dentro de casa o assassinato de um bebê, crime que abala seu convívio familiar.

Até a metade dos episódios, Mindhunter segue a toada da temporada inicial. Há várias entrevistas com criminosos notórios – inclusive com a estrela Charlie Manson, aqui interpretado pelo australiano Damon Herriman, que encarna o lunático criador da Família Manson no filme Era uma vez... em Hollywood, de Quentin Tarantino.

Nos primeiros episódios, Ford perde o protagonismo, pois a série enfoca a vida privada de Tench e Carr – a personagem de Anna Torv, infelizmente, tem sua importância diminuída. O excesso de histórias – o crime na família de Tench, o caso de amor lésbico de Carr – faz, por vezes, a narrativa se perder no meio do caminho.

A virada se dá no meio da temporada, quando Mindhunter parte para a ação. Ford vai a Atlanta e acaba convencendo o FBI a investigar o assassinato em série de adolescentes negros daquela cidade. É nesse ponto que ele começa a colocar na prática as pesquisas que vinha realizando. Encontra entraves na própria sociedade local. Pelo perfil traçado, o assassino só poderia ser também um negro, o que choca uma população historicamente reprimida.

A série é baseada no livro Mindhunter: o primeiro caçador de serial killers americano, de John Edward Douglas e Mark Olshaker.
Inteligentemente, a temporada também se baseia em fatos. Entre 1979 e 1981, foram mortos na capital da Geórgia 28 negros, a maioria adolescentes. Um homem negro foi preso e condenado por dois assassinatos de adultos. O caso permanece em aberto até hoje. Em março, a polícia de Atlanta reabriu o processo. Dessa maneira, a série ficcional, ambientada 40 anos antes, dialoga com os tempos atuais.

MINDHUNTER
• A segunda temporada, com nove episódios, está disponível na Netflix


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