A bordo de uma canoa azul, uma mulher tenta fugir da exploração sexual a que é submetida desde a infância. Em outro momento, o barquinho leva uma mãe refugiada de um país em guerra, com a filha no colo e a esperança de sobreviver em outra pátria. Por último, é na embarcação que uma trabalhadora, grávida, espera o amor de sua vida.
Em Órfãs de dinheiro, que estreia nesta quarta-feira (28) em Belo Horizonte, a atriz Inês Peixoto conta três histórias que refletem a realidade de milhões de mulheres pelo mundo.
Integrante do Grupo Galpão desde 1992 e com uma carreira que inclui trabalhos importantes na TV e no cinema, Inês teve nessa peça a experiência inédita de ser responsável por atuação, texto e figurino. A direção ficou com o marido, Eduardo Moreira. O cenário se resume ao barco e a poucos elementos cenográficos que saem de dentro dele. Para escrever o texto, a atriz mesclou inspirações antigas com algo que leu recentemente.
“Eu pretendia fazer um monólogo há um tempo, com algum tema relacionado à mulher e que dialogasse com a minha idade, com mulheres que passassem por esse corpo que tenho hoje. Eu já tinha na minha cabeça a imagem de uma mulher remando sozinha."Eu pretendia fazer um monólogo há um tempo, com algum tema relacionado à mulher e que dialogasse com a minha idade, com mulheres que passassem por esse corpo que tenho hoje. Eu já tinha na minha cabeça a imagem de uma mulher remando sozinha"
Inês Peixoto, atriz
No ano passado, deparei-me com um livro de literatura comparada do Paulo Moreira, irmão do Eduardo, em que ele analisa contos de William Faulkner, Juan Rulfo e Guimarães Rosa sobre mulheres em estado de vulnerabilidade, em um capítulo chamado Órfãs do dinheiro. Foi muito instigante”, conta Inês, que acaba de completar 59 anos.
Os 60 minutos de espetáculo são divididos entre as três tramas. Na primeira, uma mulher interiorana descreve as explorações que começa a sofrer ainda dentro de casa, até ser vendida a uma casa de prostituição, sem nem saber o próprio nome. Com pequenas trocas no figurino, a interpretação muda para uma mãe interpelada por uma luz, que representa um agente de fronteira.
Desta vez, a personagem é uma refugiada enfrentando a insensatez das autoridades. Em tom que inclui certo humor e interação com a plateia, o encerramento se dá com a história de uma empregada doméstica vinda do interior para a capital, que mora na casa da patroa, onde é tratada “como se fosse da família”, apesar da óbvia segregação. Depois de conhecer aquele que seria o amor de sua vida, ela revela a possibilidade de estar grávida, enquanto espera por ele no barquinho do parque, seu lugar preferido.
“O barco representa travessia, fuga, um não lugar, mas também a esperança. Ele dialoga com as três narrativas, de maneiras diferentes”, observa Inês. Apesar da complexidade das histórias em seus respectivos contextos sociais, o que guia a montagem é a simplicidade.
“Eu queria uma estrutura que coubesse no meu carro, sem depender de nada grande demais, para contar a história dessas mulheres”, diz a atriz. O projeto e a construção da canoa couberam a Taísa Campos. A trilha sonora é de Tiago Pereira, filho de Inês. Sobre o figurino, ela conta que todas as peças que usa têm para ela algum valor afetivo, porque as recebeu de presente de pessoas queridas.
“É muito importante essa experiência de escrever histórias que se queiram contar e criar personagens que eu tinha vontade de fazer. O teatro é muito lindo nesse aspecto, ele pode ser simples. Dentro de outros suportes artísticos, eu não poderia fazer dessa forma. É gostoso experimentar o seu olhar sobre você mesmo”, afirma.
Eduardo Moreira conta que, diante do processo criativo de Inês, sua função foi servir ao projeto. “A Inês já tinha toda a concepção. Fui ajudando a colocar o que ela estava pensando na prática, concretizar isso. É uma peça que conquista pela linguagem do coração, não tem nada muito conceitual. É muito importante fazer isso no teatro hoje em dia”, afirma.
Órfãs de dinheiro
Solo de Inês Peixoto
Direção: Eduardo Moreira.
De quarta-feira (28) a sábado (31), às 20h, e domingo (1º/9), às 19h, no Teatro João Cheschiatti do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia), à venda no site ingressorapido.com.br e na bilheteria do teatro. Classificação: 12 anos.
Mais informações: (31) 3236-7400.
Direção: Eduardo Moreira.
De quarta-feira (28) a sábado (31), às 20h, e domingo (1º/9), às 19h, no Teatro João Cheschiatti do Palácio das Artes (Av. Afonso Pena, 1.537, Centro). Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia), à venda no site ingressorapido.com.br e na bilheteria do teatro. Classificação: 12 anos.
Mais informações: (31) 3236-7400.