Jornal Estado de Minas

Em 'Yesterday', só um homem na Terra se lembra das músicas dos Beatles


Já pensou se, de repente, os Beatles fossem totalmente deletados da história? O roteirista anglo-neozelandês Richard Curtis (Simplesmente amor e Um lugar chamado Notting Hill), já. Sob direção de Danny Boyle (Trainspotting e Quem quer ser um milionário?), o ator inglês Himesh Patel vive Jack Malik, um estoquista de supermercado e músico nas horas vagas que passa a ser a única pessoa na Terra que se lembra do quarteto de Liverpool, em Yesterday, após uma pane global.




 
A comédia romântica musical estreia nesta quinta-feira (29) no Brasil, com a pretensiosa e divertida ideia de imaginar o mundo sem John, Paul, George e Ringo. Vamos à trama: em um dia qualquer dos tempos atuais, uma erupção solar afeta o planeta, causando um misterioso blecaute global de 12 segundos, que apaga por completo a trajetória da banda mais importante de todos os tempos. A única memória que resistiu foi a de Malik, que, coincidentemente, sofreu um acidente de trânsito no exato momento do blecaute.

Desmotivado pelos fracassos na carreira de músico de bar na pequena Lowestoft, costa leste da Inglaterra, e recém-acidentado, ele ganha um novo violão de um grupo de amigos. Entre eles está Ellie (Lily James), sua principal incentivadora, com quem cultiva forte amizade desde a infância. Ao pôr as mãos no presente, Jack arrisca os acordes da canção que dá nome ao longa, surpreendendo e encantando todos.

De início, julga ser uma “pegadinha” o fato de os amigos aparentarem desconhecer os Beatles e atribuir a ele a canção. Aos poucos, se dá conta de que a situação pode significar uma oportunidade para ele. Seriam aquelas canções capazes de arrebatar público e crítica, como nos anos 1960, caso lançadas por um único artista atualmente?
 
É o que o filme tenta explorar, em alguns aspectos. Ao apresentar as “inéditas” Let it be, Back in the USSR, She loves you, entre outras, Jack vai se tornando famoso até ir parar na TV e chamar a atenção de Ed Sheeran, que interpreta ele mesmo, como o grande astro pop que é. A engrenagem do mercado fonográfico também se interessa pelo novato de um modo que passa a atuar como a vilã da trama – o “mercado” se personifica na figura da empresária Debra Hammer (Kate McKinnon).





Enquanto a gravadora tenta enquadrá-lo em padrões estéticos e lucrar mais com os sucessos, Jack começa a experimentar o dilema moral de tomar como suas as composições dos Beatles. Ele até vai a Liverpool tentar buscar respostas, andando pela Abbey Road, que agora não passa de uma rua qualquer;  vagando por Strawberry Fields, reduzido a um mero lote vago, e visitando o túmulo de Eleanor Rigby, mais uma anônima no cemitério.

No entanto, o ponto principal da trama se torna a relação de Jack com Ellie. A amizade de longa data vai se colorindo e deixando as transformações na vida do protagonista ainda mais complexas. Quem espera por abordagens mais criteriosas sobre um mundo sem as influências culturais dos Beatles pode se decepcionar, apesar de uma bela cena sobre como estariam John Lennon, Paul McCartney, Ringo Starr e George Harrison (pelo menos um deles, em especial), depois de envelhecer no anonimato.

O próprio roteirista disse que Yesterday é “um filme sobre amizades". Já Boyle argumentou que essa “era a chance de fazer um filme sobre os Beatles que não fosse uma biografia”. O projeto teve o aval dos Beatles remanescentes. Boyle recebeu de Paul McCartney a autorização para usar o título acompanhada de um bilhete “muito doce”, segundo contou o diretor.
 
“Ele disse: ‘Você provavelmente deveria considerar chamá-lo de Scrambled eggs, já que esse era o título original da música. Seria um título muito bom, mas, como eu, você pode se contentar com Yesterday, se quiser’”. De acordo com o Los Angeles Times, Ringo Starr afirmou, via sua assessoria, que adorou o filme, “que tem uma vibe ótima e é muito interessante”.




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