Há anos o diretor Rafael Conde estuda a relação entre o ator e a câmera. Professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), ele ministra disciplina ligada ao tema no curso de cinema de animação e artes digitais da Escola de Belas-Artes. Pesquisada em seu doutorado em artes cênicas na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), a conexão ator-câmera já virou peça, filme e o livro que será lançado neste sábado (31), em Belo Horizonte.
Em O ator e a câmera: investigações sobre o encontro no jogo do filme (Editora UFMG), Conde defende que muito mais do que fruto de uma ideia, fazer um filme é o produto do encontro entre o realizador (encenador) e atores, mediados pelo aparato cinematográfico. Cada qual com seu repertório e experiências.
“Essa obra conjuga duas questões: o lado acadêmico e teórico aliado à minha experiência no set. Escolhi fazer doutorado em artes cênicas justamente para focar na questão do ator. Quem vai trabalhar com cinema precisa dessa base e formação teatral. Tento discutir como o ator pode se disponibilizar melhor para a cena. Busco referências teóricas, mas voltadas para a questão da prática”, explica o cineasta mineiro.
O livro promove um encontro entre o cinema e o teatro, ressaltando diferenças e aproximações. Dessa maneira, questões vão sendo problematizadas por meio de conceitos como presença, rastro e espaço. Conde trata o set de filmagem como o palco do verdadeiro acontecimento cinematográfico, onde se dá a convergência, ao vivo, entre ator, câmera e realizador. “A partir dali traço alguns paralelos com o fazer no teatro”, frisa.
Com linguagem acessível, voltada tanto para pesquisadores quanto para admiradores de cinema e teatro, o livro dá mais ênfase ao trabalho do ator (em vez do diretor) e à mágica que ocorre entre o intérprete e a câmera. “Esse é o momento mais importante, a verdadeira essência do filme”, acredita.
Em 2015, a pesquisa de Rafael Conde resultou na peça A brincadeira, que ficou em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Inspirado no conto homônimo de Anton Tchekhov, o espetáculo abordava os fragmentos da rotina de um casal por meio da ambígua simbiose entre a ficção e o real, mesclando a linguagem cinematográfica com o teatro.
Rafael Conde foi o responsável pela criação audiovisual, enquanto o diretor e dramaturgo Júlio Vianna assinou a peça. “Esse projeto já era um desdobramento da pesquisa. Fizemos a peça e um filme sobre ela. Porém, o livro não tem nenhuma relação com isso, apesar do mote em comum”, explica Conde.
Outro ponto abordado em O ator e a câmera, cujo prefácio é assinado pela atriz e diretora Yara de Novaes, é a banalização do trabalho cinematográfico.“Hoje, todo mundo tem a sua câmera, o seu dispositivo, e pode fazer um filme. Temos de pensar no cinema como um recorte da arte para trazer uma visão diferenciada da realidade. Abordo essa questão no sentido de ir contra a banalização da imagem”, revela Rafael Conde.
O ATOR E A CÂMERA
Investigações sobre o encontro no jogo do filme
• De Rafael Conde
• Editora UFMG
• 274 páginas
• R$ 50
• Lançamento neste sábado (31), das 11h30 às 14h, na Livraria Scriptum (Rua Fernandes Tourinho, 99, Savassi). Entrada franca.