Nos 70 anos de nascimento do violonista mineiro Chico Mário (1948-1988), no ano passado, a Orquestra Ouro Preto e a família do músico criaram um laço afetivo e profissional. “O maestro Rodrigo Toffolo ficou muito entusiasmado quando assistiu ao documentário Três irmãos de sangue (que retrata a vida dos irmãos Betinho, Henfil e Chico Mário) e queria fazer algo sobre o legado deles. A gente acabou se aproximando, e eu ajudei a criar a série Domingos Clássicos, que traz apresentações da orquestra uma vez por mês, a preços acessíveis”, conta o compositor e produtor cultural Marcos Souza, filho de Chico Mário.
E é como uma atração da série Domingos Clássicos que o espetáculo Consanguíneos, mescla de teatro e música de concerto, será apresentado neste domingo (15), tendo como convidada a atriz Bárbara Paz. “É uma expansão daquilo que apresentamos no ano passado. Só que, agora, o espetáculo ganhou uma roupagem cênica com direito a uma história, dramatização”, diz o maestro.
A partir de cartas dos irmãos Souza – algumas inéditas –, o dramaturgo Luis Alberto de Abreu criou o roteiro que reverencia a memória dessas três grandes personalidades brasileiras. A direção ficou a cargo de Chico Pelúcio.
“A orquestra vai executar a trilha, que é toda do Chico Mário, e ganhou arranjos específicos do maestro Jaime Alem. Bárbara Paz fará a representação dramática do texto, tendo a música como pano de fundo. Nós a conhecemos quando gravamos uma cena do documentário Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou, na Casa da Ópera de Ouro Preto”, conta o maestro. O documentário sobre o cineasta Hector Babenco (1946-2016) tem direção da atriz, que foi casada com o diretor. Apresentado este mês na mostra Venice Classics, paralela ao Festival de Veneza, o filme foi premiado.
Sobre sua participação em Consanguíneos, Bárbara diz: “As cartas são muito bonitas, os textos são fortes, e é uma linda adaptação. É um espetáculo de memória, lirismo, saudosismo. São belas mensagens regadas a belas músicas. Não pensei duas vezes quando recebi o convite".
Marcos Souza faz uma participação ao lado da irmã, Karina. Ele comenta que Luis Alberto de Abreu mergulhou na correspondência da família e fez um texto que mescla realidade com um toque de ficção. “A música do papai vai costurando e contextualizando essa história. É bem cronológico. A trilha são os 10 movimentos do álbum Suíte Brasil. Mas também incorporamos outras canções dele, como Guerra de Canudos.”
As composições abordam momentos e aspectos marcantes da história e da cultura brasileiras, desde o descobrimento, passando pela chegada da família real, o barroco mineiro, o surgimento do chorinho, do samba, da bossa nova, o golpe de 1964, o AI-5, até as Diretas-já, expressão criada pelo cartunista Henfil.
Tem de tudo um pouco. É bem brasileiro. A música tem esse poder de ensinar a gente tantas coisas – língua, cognição, matemática e também história”, afirma o primogênito de Chico Mário, que trará os filhos, os gêmeos Francisco e Catarina, de 7 meses, pela primeira vez à terra do avô.
“Na última música, Marionetes, toco piano e a Karina, que é atriz e bailarina, faz uma improvisação de dança. Essa canção é uma crítica que papai fez sobre como somos todos manipulados. Minha irmã também vai ler um texto, criado pelo Luis (Alberto de Abreu), em que dialoga com o nosso pai. Vai ser bem emocionante”, aposta Marcos.
Rodrigo Toffolo observa que, embora a obra de Chico Mário tenha marcas temporais, ela segue muito atual. “Não sei se foi proposital ele ter feito isso, mas são músicas que extrapolam o tempo. Certamente vai ser um espetáculo bem bonito e forte. É importante a Orquestra Ouro Preto continuar com essas propostas que dialogam com outras linguagens. Nosso público sempre espera algo novo da gente. E tenho certeza de que vai se surpreender com Consanguíneos.”
Leia Mais
De volta a BH, Mano Brown diz que Racionais é 'soldado da liberdade'Margaret Atwood lança 'The testaments', sequência de 'O conto da aia'Peça de teatro acentua importância histórica da mulher de D. Pedro IFestival Artes Vertentes propõe uma reflexão sobre o poder da palavraPianista João Carlos Martins conta em livro sua vida, que já virou filmeMe escuta que (agora) eu sou pagodeiroConsanguíneos
Com Orquestra Ouro Preto, Bárbara Paz, Marcos e Karina Souza. Domingo (15), às 11h, no Grande Teatro do Sesc Palladium. Rua Rio de Janeiro, 1.046, Centro. (31) 3270-8100. Ingressos: R$ 25 (inteira), R$ 12,50 (meia) e R$ 10 (Cliente Sesc).
.