Jornal Estado de Minas

Novo 'Rambo' de Stallone, 'Até o fim' é ultrapassado e preconceituoso


Resgatar sucessos do passado por meio de refilmagens ou sequências inesperadas tem sido uma tendência lucrativa em Hollywood. O mais novo produto dessa lista é Rambo: Até o fim, que traz Sylvester Stallone de volta ao papel que o fez famoso na década de 1980, mas em versão ajustada aos 73 anos do ator. A nova trama mostra o herói “aposentado”, afastado de guerras e combates. Porém, também traz de volta aspectos narrativos ultrapassados e polêmicos.





Quinto filme dedicado ao personagem criado por David Morrell no romance First blood (1972), o longa que estreia nesta quinta-feira (19) é o primeiro Rambo em 11 anos. Depois da trilogia lançada entre 1982 e 1988, houve o “temporão” de 2008, dirigido pelo próprio Stallone.
 
Até o fim..., provavelmente, será o último, pelo menos estrelado pelo astro, que novamente foi um dos roteiristas junto de Matthew Cirulnick. A direção é de Adrien Grunberg (Plano de fuga). O título original, Last blood, significa Último sangue. Ou seja, sugere o ponto final na trajetória violenta do ex-militar, conhecido por enfrentar um pelotão inteiro sozinho, com sua força extraordinária e habilidades com diferentes armas.
 

 

Rambo agora vive agora uma rotina pacata, cuidando de seus cavalos num rancho no Arizona. Ele divide o lar com a irmã de criação María (Adriana Barraza) e a sobrinha Gabrielle (Yvette Monreal), a quem trata como filha. Órfã de mãe desde a infância, a jovem está prestes a ingressar na universidade quando toma conhecimento do paradeiro do pai biológico por meio da amiga de infância que vive no México. Contrariando recomendações dos familiares, ela dirige sozinha rumo à fronteira para encontrar as respostas sobre seu passado, mas acaba se metendo em sérios problemas.





Diante das tensões migratórias e sociais entre México e Estados Unidos, acentuadas desde a campanha vitoriosa de Donald Trump à Casa Branca e ponto nevrálgico da política dos EUA, o novo Rambo opta por uma narrativa problemática. No filme, tudo é feio, sombrio e perigoso ao sul do Rio Grande, que divide os dois países. Na cidade hostil dominada por bandidos e traficantes, Gabrielle é sequestrada pelo cartel local, que droga, violenta e explora sexualmente suas vítimas. O herói estadunidense entra em ação para resolver tudo sozinho, pois, segundo ele, “a polícia mexicana não serve para nada”.

Preocupado com a possível repercussão negativa do novo Rambo, especialmente no México, Stallone tentou minimizar a questão durante evento recente de divulgação do filme, na tentativa de desvincular a trama dos fatos reais envolvendo o México e os EUA."Rambo vive na fronteira no Arizona há 30 anos. (O longa) Não é uma declaração. De fato, a grande batalha acontece em seu rancho, no Arizona. As pessoas vão gostar de como ele cultiva sua horta. É algo único”, disse o ator, revelando certa ironia em relação ao arsenal que o ex-combatente guarda na propriedade.

De acordo com a atriz Adriana Barraza, “Gabrielle e María são mexicanas dignas de se chamar de mexicanas. O personagem Rambo luta com seus inimigos, não importa de onde eles sejam. Lute contra o mal."

Como o próprio Stallone havia antecipado no Festival de Cannes deste ano, que o homenageou, “coisas ruins acontecem e muita gente se machuca” neste novo longa. A campanha de resgate empreendida por Rambo, ainda em forma para matar com as próprias mãos, coloca tanto o valentão quanto a sobrinha em risco.
 
O resultado é uma guerra pessoal travada por ele com os irmãos Martínez, traficantes mexicanos interpretados pelos espanhóis Óscar Jaenada e Sergio Peris-Mencheta, com direito à pirotecnia que encanta os fãs do personagem. Na sequência final, sobram explosões, decapitações, metralhadoras, facões e tudo mais ao alcance de Rambo para eliminar os inimigos.