“Será que vou me sair bem? Estou acostumado com o barulhão do rock e não sei como vai ser, mas os arranjos estão muito bonitos. São instrumentos diferentes, outra sonoridade, ainda que as canções e a alma sejam as mesmas, a roupa é diferente.” Sem negar certa apreensão em relação à experiência inédita, Leo Jaime terá as sete notas musicais tocadas de forma mais rebuscada para As sete vampiras e outros de seus grandes sucessos na noite desta sexta-feira (20).





O cantor e compositor é o convidado da Orquestra de Câmara Opus, que apresenta o projeto Orquestrando Brasil nesta noite, no Cine Theatro Brasil Vallourec, em Belo Horizonte. Leonardo Cunha, maestro à frente da Opus desde a sua criação, em 2006, afirma que a parceria com Leo Jaime era um desejo antigo do projeto, que já recebeu Guilherme Arantes, Fafá de Belém, Milton Nascimento, Flávio Venturini, Daniela Mercury, Ana Carolina e Nando Reis.

Segundo o maestro, a ideia é proporcionar ao público “um resgate dos anos 1980 e uma viagem no tempo, especialmente para quem tem mais de 40”. Com naipe de cordas, sopro, além de uma bateria e um baixo elétrico, o grupo deu novos arranjos para os hits de Leo Jaime. “Tentamos manter aquela coisa rítmica dele, que tem a ver com o rockabilly. Procuramos manter o máximo, mesmo as baladinhas, como Gatinha manhosa, e até o provocamos, dizendo: você vai ter que dançar!”, diz Cunha.

 
A mescla de grandes sucessos com arranjo orquestral ainda deve incluir A vida não presta, Rock estrela e A fórmula do amor, além de algumas surpresas prometidas por Leo Jaime. “Os arranjos não são necessariamente os mesmos das gravações originais. Tem coisas diferentes. Tiramos a guitarra com distorção e colocamos a sonoridade acústica. É possível ter peso e intensidade usando outros elementos. É surpreendente”, garante o cantor e compositor, hoje com 59 anos, que enaltece a simbiose entre música erudita e popular.





“Recentemente, fui levar meu filho de 12 anos a um concerto. Ele não queria ir, falou que não gostava. Então mostrei um vídeo da Marcha imperial (tema de Star wars), com o maestro regendo vestido de Darth Vader. Ele descobriu que boa parte das músicas de que ele gostava eram orquestrais. A música erudita está na vida das pessoas, no afeto delas. Ela não precisa da música popular, mas juntas se enriquecem. Há total interesse da população; falta acesso”, argumenta Leo Jaime.
 
Se há um assunto que Leo Jaime entende bem é popularidade. Desde a explosão musical nos anos 1980, que derivou para o cinema, com os longas Rock estrela e As sete vampiras, nos quais atuou, além de participações em novelas e espetáculos teatrais, o cantor e compositor se tornou um símbolo de carisma no Brasil.
 
Galã da música nos anos 80, levou sua simpatia ainda a outras esferas, sendo comentarista de futebol nos anos 1990 e 2000, e participou de programas de entretenimento na TV, como o Papo de segunda (GNT), que integrou até o ano passado, falando sobre comportamento e temas contemporâneos, ao lado de outros “boas-praças” como Xico Sá e Marcelo Tas.





“Sempre fui muito acessível. Mesmo muito conhecido pela música, trabalhei em jornal, novela, sempre fiz o que tive vontade, torcendo para que desse certo. De certa forma, isso me tira do distanciamento que alguns artistas têm. Minha relação com o público é mais de afeto do que de admiração, sou mais querido do que admirado”, afirma.

Neste ano, Leo Jaime participou do quadro A dança dos famosos, no Domingão do Faustão (Globo), ampliando ainda mais sua base de fãs. “Surpreendeu a quantidade de gente me apoiando e me dando suporte. Quando topei participar, imaginei que fosse virar meme, ser gongado, mas foi uma coisa muito rica, sobretudo para constatar essa popularidade. Teve gente de todas as idades falando comigo, de igual para igual, especialmente por se sentir representada por mim, que não estava nos padrões corporais de um bailarino, mas fazendo e curtindo o que queria. Isso alcançava as pessoas”, diz ele, que acabou levando a dança para a vida, como atividade física e possibilidade artística. Atualmente, ele está em turnê com o show Dance comigo, ao lado de Larissa Parison, sua professora no quadro televisivo.

O maestro Leonardo Cunha, da Orquestra Opus

(foto: Naiara Napoli/Divulgação)
Em números, sua popularidade pode ser medida pelos 947 mil seguidores no Twitter. No entanto, nas redes sociais, suas interações nem sempre são afetivas, sobretudo porque não se furta a opinar sobre temas polêmicos. Sem perder o bom humor, suas postagens não deixam passar as controvérsias da política atual, nem temas delicados, que costumam acirrar ânimos atualmente.




 
Nos últimos dias, por exemplo, Leo Jaime defendeu publicamente o youtuber Felipe Neto, depois que este revelou estar sendo perseguido e ameaçado por ter distribuído livros de temática LGBT na Bienal do Rio, em resposta à censura de uma obra pela prefeitura carioca.
 
“Essa gentalha truculenta não é a maioria. E vai ter que aprender o que é respeito”, escreveu o cantor e compositor, que não escapa das ofensas virtuais, mas minimiza a importância delas. “Existe uma animosidade que dificulta o diálogo, mas creio que é uma minoria orquestrada para agir dessa forma e intimidar opiniões diferentes. Lidei com a ditadura, censura. É chato ter que voltar a esse tema, mas acredito que a maioria das pessoas no Brasil é tolerante”, afirma.
 
 
A gritaria no ambiente virtual não intimida o artista. “É preciso dar opinião e fico feliz de oferecer pontos de vista diferentes do que é exposto. Esse é o trabalho de comunicador. Não pontifico nada, não sou professor, nem dono da verdade nem nada, mas tenho o direito de pensar e dar minha opinião. No Brasil atual, é preciso construir pontes e chegar a um denominador comum, mais do que procurar motivos para brigar.




 
Temos temas importantes, como a educação, que interessa a todo mundo. Deveríamos unir forças por isso, para melhorar a vida de todos. Minha contribuição é com a alegria, fazendo festa, cantando, dançando. É preciso se unir e se divertir. A alegria é uma forma de resistência.”

ORQUESTRA DE CÂMARA OPUS CONVIDA LEO JAIME
Nesta sexta (20), às 21h, no Cine Theatro Brasil Vallourec (Praça Sete, s/nº, Centro). 
Ingressos: R$ 30 (meia) e R$ 60 (inteira), à venda no site www.eventim.com.br e na bilheteria do teatro. Mais informações: (31) 3201-5211. 

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